Há dois anos saiu a notícia sensacionalista que a estrela KIC 8462852 poderia ter uma mega-estrutura ao seu redor, uma espécie de Esfera de Dyson a envolvê-la.
Na altura, explicamos que o mais provável eram ser cometas ou fragmentos de cometas (ou melhor, exocometas), a rodear a estrela.
Isso explicaria perfeitamente as flutuações irregulares de luz vindas da estrela.
Desde essa altura até agora, apesar de existirem websites que persistem no sensacionalismo mentiroso, a verdade é que nada mudou: a causa mais provável para as enigmáticas flutuações de luz são fragmentos cometários.
Podem ler sobre essa história, neste nosso artigo.
Agora, a mesma explicação (cometas) poderá ser aplicada a outro mistério cósmico: o sinal WOW.
O forte sinal WOW foi detectado em 1977 e durou apenas 72 segundos.
Podem ler tudo sobre o sinal WOW, neste nosso artigo e neste nosso artigo.
No ano passado publicamos este artigo dando a conhecer que “o professor de astronomia Antonio Paris, do St. Petersburg College, na Florida, colocou a hipótese que a causa do sinal foram cometas”.
“O sinal veio da área perto do aglomerado estelar M55 na direção da constelação Sagitário. O local mais preciso foi o grupo de estrelas conhecido como Chi Sagittarii.
No dia em que o sinal foi detectado, dois cometas estavam na mesma direção das estrelas Chi Sagittarii. O problema é que na altura estes cometas ainda eram desconhecidos. Os cometas 266P/Christensen e 335P/Gibbs foram descobertos somente em 2006 e 2008.
Os cometas estão rodeados por nuvens de hidrogénio que podem ter milhões de quilómetros de diâmetro. O sinal WOW foi detectado a 1420 MHz, que é a rádio-frequência emitida pelo hidrogénio.”
Assim, o professor Paris iria testar a sua hipótese quando o cometa 266P/Christensen passasse novamente pela frente do grupo de estrelas Chi Sagittarii a 25 de Janeiro de 2017.
O cometa 335P/Gibbs (P/2008 Y2 (Gibbs)) vai fazer o mesmo no dia 7 de Janeiro de 2018.
O objetivo seria tentar receber um novo sinal WOW.
E pronto, foi isto mesmo que aconteceu!
O professor Paris voltou a detectar o sinal WOW, tal como previra.
A explicação é simples: o sinal veio do cometa 266P/Christensen.
A equipa liderada pelo professor Paris, seguidamente, testou a mesma hipótese em três outros cometas, e verificou que o resultado foi similar.
Está confirmado: o sinal WOW deveu-se à passagem de cometas, que em 1977 eram desconhecidos, mas que agora sabemos estavam na linha de visão do rádio-telescópio.
No entanto, como qualquer confirmação em ciência, não existe absoluta certeza (é esta certeza incerta que nos permite viver os dias de forma racional), até porque não se pode voltar a 1977 para refazer a experiência.
Assim, como também é normal em ciência, já existem críticas a esta explicação, neste caso por um engenheiro elétrico que trabalha para o programa SETI. No entanto, não me parece que as críticas sejam sustentáveis.
Fonte: Artigo Científico
3 comentários
Olá Carlos,
Na minha modesta opinião, estamos perante uma notícia sensionalista por parte dos autores, que tentaram associar a sua pesquisa ao sinal Wow! tirando proveito da sua notoriedade.
Numa análise rápida, existem várias divergências entre a deteção efetuada e o sinal Wow!.
As características fundamentais do sinal Wow! a considerar são:
* É um sinal de banda estreita (< 10 KHz, geralmente produzidos por fontes artificiais AM, FM, TV),
* A fonte emissora não se moveu em relação às estrelas (conclusão imediata pelo facto do sinal coincidir com o do padrão da antena) e
* São conhecidas as coordenadas da sua origem (embora havendo dois valores dado que apenas um dos detetares estava a funcionou e não se sabe qual foi).
Por seu lado, na notícia pode ler-se:
* A deteção é feita em banda larga (associada a objetos celestes como cometas, planetas, galáxias, estrelas e quasares, ou seja, proveniente de fontes naturais,
* A origem do sinal refere-se a alvos em movimentos (cometas) e
* O local de passagem do cometa é algo afastado das coordenadas de origem do sinal Wow!.
Posto isto, na minha modesta opinião, estamos perante cenários bastante diferentes.
Uma vez que a radioastronomia se baseia na observação do Universo através de medidas de radiação que dele provêm, importa distinguir 2 tipos de emissões: térmica e não térmica.
A radiação térmica é a forma mais básica de radiação eletromagnética e pode ser de 3 tipos: corpo negro, free-free e linha espetral. Todos os objetos com temperatura emitem radiação na proporção da sua temperatura absoluta (α T^4).
A notícia dá conta da emissão de hidrogénio por parte do cometa, o que lança alguma confusão: então o sinal do cometa foi detetado em banda larga ou em linha espetral? É que julgo não existirem deteções de cometas do tipo linha espetral…
Author
Não entendi. É isto que procuras?
https://www.google.pt/search?q=comets+detection+spectral+line
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1631070516300767
abraços
É que a explicação da Esfera de Dyson pra KIC 8462852 é mais bacana do que fragmentos cometários. 😛
Mas concordo, a explicação bate perfeitamente com a situação, nem tem o que dizer. Deixe a Esfera de Dyson pros autores de ficção científica.