Descoberta em Setembro de 2014 pelo projecto Palomar Transient Factory, a supernova iPTF14hls brilha ainda, ao fim de 3 anos, com a luz de mil milhões de sóis. Imagens de arquivo da sua galáxia hospedeira mostram que a estrela progenitora sofreu uma explosão violenta, de brilho comparável ao de uma supernova, em 1954, mas sobreviveu. Este padrão de comportamento é uma característica inconfundível das progenitoras de um tipo de supernova que os astrónomos esperam encontrar desde há décadas e que é designado por “Pulsational Pair Instability Supernovae” (PPSI). Estes eventos marcam o final da vida de estrelas extremamente maciças, com 100 ou mais massas solares, que seriam extremamente vulgares na infância do Universo mas que agora são muito raras.
Estrelas tão maciças têm temperaturas centrais de milhares de milhões de Kelvin e as reacções nucleares desenrolam-se a uma velocidade vertiginosa. As coisas começam a complicar-se, sugere a teoria, no início da fusão do carbono, altura em que o núcleo da estrela é formado por uma “cinza” de carbono e oxigénio resultante da fusão prévia do hélio. As temperaturas são tão elevadas — cerca de 4 mil milhões de Kelvin — que os raios gama que irradiam o núcleo têm energia suficiente para criar espontaneamente pares electrão-positrão (o positrão é a anti-partícula do electrão).
Esta reacção absorve uma fracção apreciável dos fotões que fornecem a pressão necessária à estabilidade das camadas interiores, suportando o seu peso. Nestas condições, a região interior da estrela contrai-se e aquece ainda mais até se iniciar a fusão explosiva do oxigénio presente no núcleo. O resultado é a libertação quase instantânea de uma enorme quantidade de energia no interior da estrela que, se esta for suficientemente maciça, pode despoletar uma supernova.
Em estrelas com massa no limite inferior da gama referida, a energia libertada pela fusão explosiva do oxigénio não é suficiente para iniciar uma supernova mas dá origem a uma erupção em que a estrela pode ejectar várias massas solares de material para o espaço até, eventualmente, re-estabelecer o seu equilíbrio hidrodinâmico. Estas ignições explosivas do oxigénio tornam-se recorrentes, ocorrendo com intervalos de meses ou mesmo vários anos. Durante as erupções daí resultantes a estrela torna-se extremamente luminosa, quase tanto como uma supernova “normal”. Um dia, no entanto, um destes episódios é fatal e a estrela explode mesmo numa supernova.
Mas, apesar de ter várias características em comum com as ditas supernovas, a iPTF14hls tem peculiaridades difíceis de explicar. Mesmo uma PPSI não é suficiente para explicar a luminosidade e longevidade extremas. É necessário um outro processo que amplifique a energia da supernova. Uma possibilidade será a colisão da onda de choque da supernova com material circum-estelar ejectado pela estrela progenitora ao longo de milhares de anos durante as erupções. Uma outra dificuldade tem a ver com o facto do espectro da iPTF14hls mostrar que a estrela progenitora tinha as camadas exteriores ricas em hidrogénio. Em geral, estrelas tão maciças perdem rapidamente estas camadas exteriores devido a erupções e ventos estelares intensos, a não ser que o gás da estrela seja extremamente pobre em “metais”.
A descoberta vem relatada num artigo publicado na revista Nature.
Referência: Iair Arcavi et al., “Energetic eruptions leading to a peculiar hydrogen-rich explosion of a massive star”. Nature 551, 210–213 (09 November 2017)
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