Atualmente, a charlatanice da moda parecem ser os Testes de Intolerância Alimentar, promovidos por algumas pessoas que se intitulam nutricionistas ou “especialistas em dietas”.
O médico João Júlio Cerqueira escreveu um artigo sobre essa vigarice que me parece muito importante que leiam. Leiam o artigo no SciMed, aqui.
Vou deixar alguns excertos:
“A intolerância alimentar existe. As pessoas podem, de facto, sentir-se mal com a ingestão de alguns alimentos sem que exista uma alergia alimentar associada. Para quem acha que pode ter esse problema, fica um artigo muito simples a explicar o que são as intolerâncias alimentares e como lidar com elas.
No entanto, o conceito de “intolerância alimentar”, da forma como é utilizada hoje, está completamente distorcido em benefício da comercialização de testes de diagnóstico e consultas.
No mercado, dominam dois tipos de testes para verificar a existência de “intolerância alimentar”.
Os testes sanguíneos realizados por laboratórios de análises clínicas, que consistem em fazer recolha de sangue e analisar a concentração de anticorpos IgG para as proteínas de cada alimento.
O VEGA test, que são os testes mais conhecidos pela população, realizados em farmácias, por nutricionistas/dietistas e por algumas clínicas médicas.
(…)
O VEGA test é mais complexo. (…) O teste consiste em apertar umas fitas de velcro nos punhos e com uma canetinha fazer uns disparos nos polegares. Passado algum tempo, vem o resultado do teste, sendo que a nutricionista/dietista fará o plano alimentar do doente por forma a evitar esses alimentos. O número de alimentos estudados ronda os 500 a 800 alimentos… teste extremamente minucioso, portanto. Não há necessidade de recolha de sangue.
(…) o teste é muito específico e ao mesmo tempo muito pouco específico. No computador, a nutricionista/dietista mostra uma lista de alimentos aos quais a doente tem tendência à intolerância. Destaco o leite UHT 1,5% e o Nescafé. Isso significa que se beber leite com uma percentagem de gordura diferente ou se beber café de outra marca, já está tudo bem? Quanto ao Nescafé, ficou por esclarecer se apanha a gama toda ou só alguns produtos… pormenores.
(…)
Já temos aqui algumas red flags dos charlatões. Utilizam o conceito energia e eletromagnético… caro leitor, sempre que vir estes termos, ative o alarme mental. Há grande probabilidade de estar a ser enganado.
Há ainda quem junte ao VEGA test a Biorresonância e Avaliação Quântica… mas vamos deixar os “quânticos” para outra altura.
(…)
“A máquina VEGA é uma técnica de regulação bioenergética que tem origem na acupuntura e na homeopatia. (…)”
Depois da definição do que é uma máquina VEGA, acho que já não haverá grandes dúvidas quanto à sua completa inutilidade. No entanto, vamos ver os estudos… e o que dizem, é que é um teste que não apresenta qualquer tipo de reprodutibilidade. Ou seja… se repetirmos mais do que uma vez na mesma pessoa, obtemos resultados diferentes. Não é um teste com qualquer fiabilidade ou utilidade clínica!
(…)
Repita o teste numa clínica diferente, que utilize uma empresa promotora do VEGA test diferente, para que não tenham acesso aos seus registos… e compare os resultados. (…) esses testes não têm qualquer reprodutibilidade e os resultados serão certamente diferentes. (…)”
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No website de referência Science Based Medicine o farmacêutico Scott Gavura defende o mesmo: esta vigarice não tem qualquer evidência científica. Leiam o artigo, aqui.
Alguns excertos:
“(…) Food intolerance testing and screening is particularly popular among alternative practitioners. Testing can take different forms, but generally the consumer is screened against hundreds of food products and food additives. They are then provided with a list of foods they are “intolerant” to. (…) These reports are taken seriously by patients who believe that they’ll feel better if they eliminate these products.
(…)
Diagnostic tests can be as pseudoscientific as treatments.
(…)
The tests diagnosed 183 intolerances – although the researchers actually had just one medically confirmed allergy and one food intolerance between them.
Identical blood and hair samples sent under different names to the same company produced different test results.
(…)
At present, there are no reliable and validated clinical tests for the diagnosis of food intolerance. (…) These tests lack both a sound scientific rationale and evidence of effectiveness. The lack of correlation between results and actual symptoms, and the risks resulting from unnecessary food avoidance, escalate the potential for harm from this test. Further, there is no published clinical evidence to support the use of IgG tests to determine the need for vitamins or supplements. In light of the lack of clinical relevance, and the potential for harm resulting from their use, allergy and immunology organizations worldwide advise against the use of IgG testing for food intolerance.”
1 comentário
Aqui no brasil é tudo quântico. Vai de tv até astrologia, comportamento quântico (srrsrssrsr), terapia quântica, energias positivas quânticas, etc.