Ghost Stories (Noites de Terror) é um filme pseudo e um pouco confuso, com um final surpreendente.
Supostamente, o filme é de horror/terror, mas de horror/terror não tem nada.
Fui ver este filme porque o sumário do filme dava a entender que era uma história do género das do Scooby-Doo, em que todos os acontecimentos supostamente sobrenaturais têm, afinal, uma explicação racional.
Infelizmente, este filme faz o oposto.
Ou talvez não: talvez no final se perceba que afinal, não há nada sobrenatural.
O final pode levar a diferentes interpretações, dependendo da nossa visão do mundo.
O filme começa bastante bem, com o pesquisador Phillip Goodman a desmascarar um medium que supostamente fala com os mortos, como John Edward ou Sylvia Brown. Phillip mostra os truques utilizados por eles, para enganarem as pessoas.
O investigador dá uma lição de vida ao dizer que não temos que deixar a nossa vida ser governada por medos baseados em superstições.
Ele também explica que, psicologicamente, o cérebro vê aquilo que quer ver.
E por isso é que muitas vezes as pessoas pensam ver coisas sobrenaturais que, na realidade, nunca existiram. É tudo fruto da sugestão.
Devido a ter pensamento racional e pesquisar as causas dos supostos “dons”, Phillip é criticado de ser arrogante, de não ter humildade (quando é o oposto), de ter medo de descobrir mais coisas sobre o Universo (quando é o contrário: quem pesquisa o Universo são os cientistas), e de estar aterrorizado por tudo o que não cabe na sua visão do mundo (o que, mais uma vez, é falso: são os pesquisadores/investigadores/cientistas que colocam em causa tudo o que sabem e não têm medo de estar enganados).
Ou seja, no filme são “vomitadas” todas as críticas falsas, apontadas pelos vigaristas aos cientistas.
Ele também é atacado pessoalmente (o que é uma falácia), por não ter família.
Em contrapartida, o vigarista diz que o sobrenatural é verdade, porque ele (vigarista) acredita nisso.
E dá mais um argumento falacioso: se um caso sobrenatural fôr verdade, então todos os são. Ora, isto é obviamente uma parvoíce.
O pesquisador Phillip Goodman analisa 3 casos sobrenaturais que supostamente são verdade:
1 – Um homem com traumas familiares (mulher morreu e filha em coma) e bêbado, diz ter visto fantasmas/espíritos no seu local de trabalho (antigo hospício). Ele diz que as luzes deixaram de funcionar nos corredores e o fantasma apareceu.
Curiosamente, o fantasma coloca a mão sobre as coisas, o que demonstra que é um fantasma com massa. Como tem massa, não passa entre as coisas, e por isso, por definição, não pode ser um fantasma.
No final da história, não é explicado como o homem traumatizado conseguiu sair de uma cela supostamente fechada com cadeados.
2 – Um jovem adolescente, que parece ser um psicopata, vai a conduzir por uma floresta, à noite, após vir de uma festa com amigos (provavelmente bebeu). Naturalmente, como milhares de condutores todos os anos, tem um acidente de carro. Enquanto está distraído a falar ao telemóvel/celular a conduzir, ele atropela uma pessoa. Ele foge do local (Hit and Run). Fica traumatizado com isso (arrependido por não ter acudido à pessoa atropelada). O carro para mais à frente, e supostamente o ser atropelado chega ao carro. O rapaz entra na floresta, de noite, e imagina que as árvores estão a tentar abraçá-lo.
Este parece-me um caso tão normal que nem merece grande análise: um adolescente, que vem de uma festa, onde bebeu, decide conduzir um carro enquanto fala ao telefone. Naturalmente, atropela uma pessoa e fica traumatizado por não ajudar o atropelado. Bêbado, sozinho, à noite, numa floresta, e traumatizado, imagina que as árvores o abraçam. Não há nada de sobrenatural aqui.
3 – Um futuro pai (tem uma esposa grávida) fica sozinho em casa, enquanto a sua esposa vai ter o bebé para o hospital. Não se percebe porque ele não está a apoiar a esposa no hospital. Em casa, ele vê coisas a mexerem-se sozinhas em casa e tem visões da mulher morta como se fosse um demónio. Telefonam-lhe do hospital e dizem-lhe que a mulher morreu. O filho nasceu mas parece um demónio. Talvez por arrependimento de ter deixado a mulher sozinha, quando está a ser entrevistado pelo pesquisador, pega numa arma e suicida-se.
Isto são os típicos casos de premonições, em que a pessoa tem tanto medo que a outra pessoa morra que até pensa vê-la morta. Quando a outra pessoa sobrevive, o caso termina ali (a pessoa percebe que imaginou coisas e tudo não passou de um susto devido aos seus medos); mas se a outra pessoa morre, então comete-se o Erro Tipo I, em estatística, que é só dar relevância aos resultados positivos, esquecendo todos as outras vezes em que esses medos não se concretizaram.
Nas 3 histórias existem algumas características relevantes:
– as histórias são contadas por pessoas, somente baseadas no seu testemunho. Não existem quaisquer evidências.
– as pessoas que as contam são pessoas traumatizadas.
– o pesquisador não investiga qualquer das histórias: só existem os testemunhos. Nada mais.
Ou seja, não existe qualquer pesquisa científica. Existe somente uma gravação de testemunhos.
Infelizmente, no filme, as experiências que são totalmente subjetivas, são tratadas como se fossem evidências objetivas. O que é falso.
O pesquisador, que devia estar imune a essas falácias, fica traumatizado com as histórias. Ora, isto também não é realista.
Por estar traumatizado, o pesquisador começa a ter visões. Isto é absolutamente normal, devido às sugestões que foram colocadas na sua cabeça.
Traumatizado, ele entra numa realidade alternativa onde nada é o que parece. A realidade parece que deixa de existir.
Ele começa a reviver alguns traumas de infância.
No final, percebe-se que, afinal, o suposto pesquisador está em coma no hospital. E tudo foi imaginado por ele.
Ou seja, é tudo psicológico e subjetivo. Nenhum daqueles eventos sobrenaturais aconteceu. Talvez aqui, mesmo no fim, se possa dizer que afinal este filme realmente deu como resposta que: todos os eventos têm uma explicação racional.
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