Após um terrível acidente de comboio, um homem, David Dunn, escapa ileso (sem quaisquer ferimentos) do acidente, enquanto todas as outras pessoas (131) morrem. David é, assim, o único sobrevivente. David parece ser indestrutível.
Ele apercebe-se que nunca esteve doente na vida (nunca teve problemas de saúde) e nunca foi ferido. Este é um dos seus super-poderes: tem sempre saúde.
David consegue por instinto, provavelmente através de perceção extrasensorial, sentir/perceber quando alguém tem uma arma escondida, com a qual pretende fazer mal a outros. Ele também consegue sentir as passadas ações maldosas nos outros: ao tocar nas pessoas, ele “vê” as ações criminosas que as pessoas cometeram. Este é mais um dos seus super-poderes.
Um outro super-poder é a sua muita força. Ele consegue pegar em grandes pesos.
A sua única fraqueza (como o Super-Homem tem a Kryptonite) é a água. Ele afoga-se e engasga-se muito facilmente.
Elijah Price é o oposto. Parte-se muito facilmente: os seus ossos estão sempre a partir. Parece que é feito de vidro (Mr. Glass). Isto deve-se a um problema genético: osteogénese imperfeita.
Elijah pensa nos livros de banda desenhada (quadrinhos), com as suas histórias do Bem contra o Mal, como peças de arte.
Elijah convence David que ele tem super-poderes. Para Elijah, David é um super-herói.
Como diz a sua mãe, Elijah é o vilão (o oposto de super-herói), que luta contra o super-herói através da sua mente (pela manipulação). É um génio e não um soldado.
Foi ele que provocou vários “acidentes”, na verdade, atentados terroristas, para ver se alguém se salvava. Ele andava à procura do super-herói que fosse o seu oposto, já que ele se considera o super-vilão. Ele andava à procura de alguém que nunca ficasse ferido, que nunca “se partisse”.
Devido a isto, ele é internado num hospital psiquiátrico.
Enquanto isso, de noite, David passa a fazer trabalho de super-herói, salvando pessoas e matando os criminosos.
Unbreakable (Corpo Fechado / O Protegido) é um estranho filme de super-heróis.
É um filme parado, talvez um pouco intelectual, em que as personagens principais são desempenhadas pelos famosos Bruce Willis e Samuel L. Jackson.
Em termos intelectuais (de reflexão) é um filme muito bom.
Mas como praticamente não tem ação e não tem efeitos especiais com grandes explosões, torna-se um filme demasiado calmo.
O filme basicamente mostra a génese, a origem, de um novo super-herói.
David tem que lidar com todas as pressões (sociais, familiares, psicológicas, morais) inerentes a perceber que tem super-poderes.
David, o super-herói, nem sequer sabe que tem super-poderes. Ele assume-se como uma pessoa normal. E tem que ser convencido por Elijah que realmente é um super-herói.
Como disse Quentin Tarantino: o filme resume-se a uma pergunta: e se o Super-Homem estivesse entre nós como Clark Kent, mas nem sequer soubesse que era o Super-Homem?
Um homem chamado Kevin Wendell Crumb tem Dissociative Identity Disorder (Transtorno Dissociativo de Identidade), o que faz com que tenha 24 personalidades/identidades.
Este problema surgiu após ter sido abusado quando era criança.
Ele rapta 3 jovens adolescentes, e aprisiona-as na sua cave do Jardim Zoológico de Filadélfia.
Na verdade, ele só queria raptar duas delas: Claire e Marcia, que um mês antes o tinham gozado.
Mas também rapta a inteligente e traumatizada Casey, que estava com as outras duas.
Ele só queria raptar Claire e Marcia porque, além de elas o terem gozado, elas são “impuras” porque elas nunca tiveram sofrimento (ou foram traumatizadas) nas suas vidas.
Quando a 24ª personalidade/identidade surge, percebe-se que é A Besta.
A Besta é uma amálgama de vários animais que fazem parte do jardim zoológico de Filadélfia, onde ele trabalha.
A Besta mata a sua psiquiatra (de Kevin), Drª Karen Fletcher.
Mata e come as duas adolescentes: Claire e Marcia.
E quando tenta matar Casey, percebe que ela é pura: tem traumas que vêm desde a infância, em que foi violada pelo tio. Assim, deixa Casey fugir em liberdade.
The Beast ataca somente quem nunca sofreu, quem nunca passou por traumas.
A Besta está agora noutro esconderijo.
O seu plano é exterminar todas as pessoas impuras (as que nunca sofreram).
Para A Besta, somente as pessoas com problemas são excecionais (merecedoras da vida).
No final do filme, num pequeno restaurante, as pessoas veem na televisão as notícias sobre os crimes de Kevin (ou melhor, de A Besta). E chamam The Horde, ao conjunto de personalidades/identidades de Kevin.
Uma das clientes lembrou-se de um outro caso 15 anos antes. E pergunta qual era o nome do criminoso na altura?
David Dunn (do primeiro filme) responde que o nome do criminoso/terrorista era: Mr. Glass.
Split (Fragmentado) é um filme que parece ter pouco ou nada a ver com o primeiro (Unbreakable).
No entanto, se em Unbreakable temos a origem de um super-herói, aqui em Split provavelmente temos a origem de um super-vilão.
O ator James McAvoy é brilhante neste filme.
O filme é um intenso thriller psicológico. Neste sentido, é excelente.
Não entendo porque a psiquiatra não disse o nome completo dele, preferindo escrever o nome num papel.
A psiquiatra Drª Karen Fletcher tem várias citações interessantes.
Por exemplo, ela usa a expressão mais usada em ficção científica (what if?) para perguntar: e se eles (as diferentes personalidades numa única pessoa) são mais do que nós somos?
Em que ela assume que eles são capazes de mais coisas que nós, normais, não somos.
A mesma psiquiatra Drª Karen Fletcher também afirma que cada personalidade é diferente: com diferentes níveis de inteligência, diferente força física, em que uma personalidade pode escrever com a mão esquerda e outra personalidade pode escrever com a mão direita, etc.
A Drª Karen Fletcher dá o exemplo de uma mulher na Alemanha, que tinha 4 identidades, em que uma delas era cega e as outras não.
Em Kevin, por exemplo, a personalidade 2, Jade, tem diabetes (precisa de injeções de insulina), enquanto as outras identidades não têm diabetes.
A Besta é maior (que as outras identidades no mesmo Kevin), tem músculos, é muito forte, corre bastante rápido, é extremamente ágil (até consegue subir paredes), e tem uma pele blindada como o Super-Homem (até sobrevive a tiros à queima-roupa).
Ou seja, Kevin parece ter capacidades super-humanas.
O que faz com que a Drª Karen Fletcher se pergunte: será que assim (com diferentes personalidades num só indivíduo) se atinge o verdadeiro potencial do cérebro humano?
E também se pergunta: será que é daqui que advém a nossa perceção do sobrenatural?
Um amigo da psiquiatra até lhe diz que ela trata os pacientes como se tivessem dons sobrenaturais, como se tivessem super-poderes. E ele diz-lhe: eles são somente pacientes traumatizados.
A Besta afirma que os broken (os que estão partidos, aqueles que sofreram no passado) são as pessoas mais evoluídas. Ele acredita que os broken são as pessoas mais fortes.
Daí ele querer expurgar o mundo dos seres inferiores: aqueles que não sofreram.
The Beast quer começar uma revolução.
Por fim, a psiquiatra diz: eles (as diferentes personalidades) são aquilo que acreditam que são. (they are what they believe they are)
A Besta diz o mesmo: nós somos aquilo que acreditamos ser. (we are what we believe we are)
Por um lado, parece ser uma frase profunda, de valorização do marketing pessoal. Por outro, parece ser uma daquelas frases pseudo, com que toda a gente concorda e que aparece nos livros de auto-ajuda.
David Dunn continua a fazer o papel de Vigilante, agora com o filho a ajudá-lo na agenda (através do computador).
O seu propósito é encontrar o Horde (The Beast) – Kevin Wendell Crumb.
David encontra Kevin. Luta contra A Besta.
Ambos são apanhados pela polícia.
E são levados para o mesmo hospital psiquiátrico onde está Mr. Glass.
São os três analisados pela psiquiatra, Drª Ellie Staple.
A especialidade dela é a ilusão de grandiosidade: os indivíduos que acreditam ter super-poderes (acreditam que são super-heróis ou super-vilões).
Ela demonstra a cada um, que os supostos super-poderes deles na verdade têm explicações racionais, médicas e normais.
A psiquiatra, de forma pseudo, diz que só o poder do amor pode curar estas pessoas. Por isso, pede a Casey que a ajude a curar Kevin.
A Drª Ellie diz que foi a falta desta característica sobrenatural (o amor) que levou aos traumas sofridos pela Horde.
Mr. Glass engana a psiquiatra e liberta David e A Besta.
A seguir, tenta levá-los para um local público, com muitas câmeras de televisão, para assim todo o mundo poder ver que existem super-heróis e super-vilões, com super-capacidades.
Mr. Glass é o GameMaster, que parece ter o jogo (e os jogadores) todo controlado.
Mas David e A Besta confrontam-se logo na parte de fora do hospital psiquiátrico.
Joseph Dunn, o filho de David, diz à Besta que o pai de Kevin não o abandonou (e posteriormente ele sofreu os abusos da mãe devido a isso).
Na verdade, o pai de Kevin estava no comboio que descarrilou, onde também estava David Dunn que sobreviveu. Esse acidente foi causado por Mr. Glass. O pai de Kevin morreu devido a Mr. Glass.
Assim, Mr. Glass é o mastermind que criou David como super-herói e que também criou a Besta como super-vilão.
A Besta mata Mr. Glass.
E tenta matar David, na água. Mas David escapa.
Seguidamente, Casey consegue dominar A Besta, chamando por Kevin.
E a polícia mata Kevin.
Afinal a psiquiatra e o que se pensava ser a polícia, fazem parte duma organização secreta que visa parar os super (heróis e vilões).
E também matam David.
Na verdade, a psiquiatra diz que eles (a organização) não são malvados.
Simplesmente tentam parar ambos: heróis e vilões. Porque sempre que há um, há o outro. E os confrontos vão crescendo, para cada vez pior. O mesmo foi discutido no Civil War: “o poder dos super-heróis convida os desafiantes a serem cada vez mais poderosos. Isso provoca um escalar do conflito, que leva a batalhas enormes que podem acabar com o mundo”.
Assim, ela conclui que não podem existir deuses entre os humanos. Não era justo para os humanos. Até porque o poder dos “deuses” (super) provocaria uma tirania sobre os humanos normais.
Esta organização já faz isto há 10 mil anos… e com sucesso!
A organização mantém o equilíbrio e a ordem na civilização humana.
A psiquiatra Drª Ellie Staple posteriormente relata publicamente o que aconteceu, mentindo: diz que os pacientes estavam cheios de drogas, e daí as perceções erradas de que eram super-heróis.
Quase no final, a psiquiatra e a organização vão para outra cidade fazer o mesmo: acabar com os super-heróis.
Mas afinal, Mr. Glass tinha mexido nos computadores que controlam as câmeras no hospital psiquiátrico. Ele tinha transmitido tudo.
O objetivo é que as pessoas percebam que existem coisas extraordinárias em nós.
O filho de David, a mãe de Elijah e Casey, postam os vídeos na internet.
Toda a gente vê os vídeos, e percebe que estes humanos tinham capacidades sobre-humanas.
O filme Glass finaliza a trilogia.
Tal como o primeiro, Unbreakable, é um filme um pouco parado.
No filme, Mr. Glass confirma que estamos na presença de uma origin story.
Na verdade, toda a trilogia mostra a génese, a origem de um novo super-herói e de um novo super-vilão.
O filme congrega em si próprio vários elementos dos filmes de super-heróis (e sobretudo dos heróis da banda desenhada/quadrinhos). Mas neste filme, esses elementos aparecem de uma forma mais filosófica, como uma auto-reflexão.
É um filme de super-heróis diferente.
É um filme com menos ação e com menos efeitos especiais, do que estamos habituados em filmes de super-heróis.
O final foi excelente, já que morrem todos (os 3 super).
O normal seria o herói vencer. Mas não é o que acontece, o que é surpreendente, e assim muito positivo.
Mas de resto, o filme maioritariamente dececiona.
Estava à espera de um filme muito melhor.
Estava à espera de ver os 3 atores secundários (a mãe de Elijah, o filho de David Dunn, e Casey Cooke) terem um papel mais predominante, mas isso não aconteceu.
Até estava à espera de surpresas de alguns deles: será que o filho de David ficaria mau? Será que a mãe de Elijah é a verdadeira mastermind e tem alguns dos poderes do filho que lhe foram passados geneticamente?
Nada disso aconteceu…
Até Casey Cooke tem, claramente, o Síndrome de Estocolmo, e ninguém nota; nem sequer a psiquiatra!
Não gostei da parte pseudo da psiquiatra.
A psiquiatra diz que só o poder do amor pode curar estas pessoas. Por isso, pede a Casey que a ajude a curar Kevin.
Além de ser pseudo, promove o Síndrome de Estocolmo, o que é vergonhoso da parte da psiquiatra.
Gostei bastante das várias mensagens sociais promovidas pelo filme.
Elijah Price (Mr. Glass) diz que pretende revelar ao mundo que os super-heróis e os super-vilões (ou seja, pessoas com super-capacidades) existem.
O objetivo dele é que as pessoas percebam que existem coisas extraordinárias dentro de nós: todos nós somos extraordinários.
Aliás, uma das tag lines do filme é: “Real villains are among us. Real heroes are within us”. – Há vilões entre nós e heróis dentro de nós.
Outra das tag lines é: “Belief in oneself is contagious“. – Acreditar em nós próprios é contagiante.
Outra tag line é: “You cannot contain what you are”. – Não consegues conter/esconder/controlar o que és.
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