A Dra. Helen Sharman foi a primeira astronauta britânica e foi a primeira mulher a visitar a estação espacial MIR. O vôo espacial dela deu-se em Maio de 1991.
Recentemente apareceu na comunicação social (exemplos: Telegraph, CNN) que ela tinha afirmado que existem extraterrestres e que eles vivem entre nós.
Será que esta antiga astronauta, de 55 anos, química de profissão, tinha caído nas tretas conspirativas?
Não!
O que ela disse é o que nós temos dito por várias vezes aqui, aquilo que eu informo nas minhas palestras, e aquilo que qualquer astrobiólogo defende.
Infelizmente, a comunicação social decidiu interpretar tudo mal, e dar-lhe uma tendência pseudo-conspirativa.
Então o que ela disse?
Ela disse que tendo em conta que existem biliões de estrelas (provavelmente com triliões de planetas em sua órbita), e tendo em conta que na Terra a vida existe em todos os ambientes, mesmo naqueles que consideramos como extremos, então é muito provável que exista vida extraterrestre. Ela diz mesmo que o Universo deve estar cheio de vida (maioritariamente bacteriana, como na Terra).
Isto é, obviamente, uma confiança (diferente de conhecimento provado) partilhada por praticamente todos os astrobiólogos, tendo em conta uma base de probabilidades.
Ela também referiu que deverão existir muitas formas de vida diferentes.
Claro que, se na Terra existe vida “para quase todos os gostos”, é normal que se pense que no Universo seja a mesma coisa.
Adicionalmente, ela referiu que provavelmente essa vida não será feita de carbono e poderá não precisar de nitrogénio/azoto.
Isto já é mais discutível, sobretudo tendo em conta que a única vida que conhecemos é feita de carbono. Além disso, assumimos que o carbono é o melhor elemento para formar vida (por várias razões já discutidas noutros artigos).
Mas esta é realmente uma hipótese que a astrobiologia considera: poder existir vida tal como não a conhecemos.
Por fim, provavelmente a afirmação mais problemática: ela disse que essa vida, tal como não a conhecemos, pode existir na Terra e não a vemos.
Há aqui várias coisas a considerar:
– primeiro, é que não é “não a vemos”, mas sim que não a conseguimos detectar (nós detectamos muita coisa em vários comprimentos de onda, com instrumentos, sem precisarmos vermos com os nossos olhos em luz visível).
– segundo, não é bem “não detectarmos algo”, mas sim não darmos conta que é vida. A vida, seja baseada no que fôr, deverá ter massa. Se tem massa, eu posso tocar nessa vida. Assim, eu consigo detectá-la. O que poderá acontecer é que posso não conseguir identificá-la como vida, e posso pensar que é algo natural, geológico e não biológico.
– terceiro, já aqui falamos várias vezes desta hipótese: provavelmente irá existir vida extraterrestre que não conseguimos detectar. Mas nada podemos fazer, porque para detectá-la precisávamos de saber de que é feita, e como não sabemos, não podemos criar milhares de detectores diferentes para diferentes coisas na esperança que uma delas seja a vida como não a conhecemos.
Mas isso não quer dizer que essa vida esteja “entre nós” (teria massa). Poderá estar em vários planetas extraterrestres, mas não a conseguimos identificar como vida. E, provavelmente, será vida simples.
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