The Twilight Zone (A Quinta Dimensão / Além da Imaginação) foi uma série de sucesso da década de 1960, que foi relançada posteriormente na década de 1980 e em 2002.
Esta série de culto baseia as suas histórias na ficção científica, suspense, fantasia e terror.
Mas sobretudo, há uma valorização do mistério! É, basicamente, uma série de mistério.
Muitas vezes, os episódios deixam no ar tanto mistério, que leva a interpretações dúbias: será realidade ou ficção?
Na base de cada história está também uma crítica social – um comentário à forma como certas pessoas vivem a sua vida, e como, se calhar, deveriam mudar os seus comportamentos e as suas decisões em certos momentos da vida.
Assim, os episódios debatem-se com dilemas éticos.
E no final de cada episódio, há sempre uma lição moral…
Além da fórmula de sucesso no conteúdo dos episódios, uma outra vantagem dos episódios é serem pequenos: tendo só meia-hora, vêem-se bem, sem cansar.
A música é icónica!
Esta série voltou em 2019.
Os episódios começam com esta narração:
“Está a viajar por outra dimensão. Uma dimensão não só de imagem e som, mas também da mente.
É a fronteira entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição.
E encontra-se entre o abismo dos nossos medos e o cume do nosso conhecimento.
Está a viajar por uma dimensão da imaginação.
Acabou de entrar na Quinta Dimensão!”
A primeira temporada teve 10 episódios:
1 – The Comedian – O Comediante
O comediante Samir Wassan não consegue ter graça. O famoso comediante J.C. Wheeler encontra-o e diz-lhe que, para ter sucesso, ele tem que incorporar assuntos pessoais na sua atuação. Wheeler diz-lhe: “O público não quer saber o que tu pensas. Eles interessam-se por ti.”
Na sua próxima atuação, Samir fala sobre a sua cadela. Toda a gente se ri. Quando ele chega a casa, a sua cadela desapareceu. Pior do que isso, ninguém se lembra da cadela ter existido. A cadela desaparece de existência. É como se a cadela nunca tivesse existido.
Na atuação seguinte, fala do seu sobrinho. Que também desaparece de existência.
Quando ele percebe o que está a acontecer, nas suas atuações Samir começa a falar de pessoas da sua vida, que ele considera serem pessoas más (ex: um comediante rival que conduziu bêbado e matou uma mãe e o bebé dela; os bullies na escola que lhe fizeram a vida negra; etc). Ele apaga da existência todas essas pessoas.
Mas quando ele apaga o mentor da sua namorada (que ele considera ser um chato), a sua namorada – sem este mentor na faculdade de direito – já não é uma advogada de sucesso mas sim uma criada de mesa frustrada.
Samir continua a abusar do seu poder – apagando de existência até uma comediante sua rival (Didi).
Ele sente que tem um super-poder!
Quando a sua namorada percebe o que ele tem estado a fazer, Samir, envergonhado, diz o seu nome na atuação. E desaparece de existência. Como ele não existe, todos aqueles que ele tinha apagado, existem novamente como se sempre tivessem existido.
Quem agora tem bastante sucesso é a Didi. Entretanto, ela encontra Wheeler e pede-lhe conselhos sobre a sua atuação…
A comédia de Samir era sobre coisas inteligentes, que faziam as pessoas pensarem. Mas não tinha graça.
Ele não queria contar piadas sobre coisas banais, como diferenças entre cães e gatos, ou diferenças entre NY e LA, ou comida nos aviões ou estereótipos étnicos. Ele não queria fazer como os outros.
Ou seja, Samir era um artista com princípios. Que se recusava a comprometer as suas convicções por uma piada rasca… até que o fez! Para sentir a adrenalina do sucesso.
Ele queria ter sucesso. Daí ter mudado. Para ter seguidores, como os outros. Para ser popular. Ele queria ter tudo.
Ele queria dinheiro, validação, ser popular, etc.
Ele queria que as pessoas pensassem que ele é alguém.
Assim, ele usou as pessoas e descartou-as.
Numa das cenas, a namorada disse-lhe: “tu não entendes como as tuas ações afetam as outras pessoas. Para ti, somos só parte do cenário, somos só material para piadas.”
O apresentador termina o episódio, dizendo:
“Samir aprendeu da pior maneira que, por vezes, conseguirmos tudo o que queremos, implica perdermos tudo o que amamos.
Quando conseguiu ser alguém, escolheu voltar a não ser ninguém.”
A mensagem do episódio parece ser: Não se pode ter tudo!
O episódio lida com a questão: o que é realmente importante para ele? Ter sucesso ou ter as pessoas que ama?
Este é um excelente episódio!
2 – Nightmare at 30,000 Feet – Pesadelo a 9 quilómetros de altitude
O jornalista Justin Sanderson sofre de stress pós-traumático (devido a ter estado a cobrir a guerra). Ele não pode estar em situações de stress, senão pode ficar louco e começar a alucinar. Já no passado teve um esgotamento mental semelhante.
Ele aceita um trabalho temporário em Israel.
Ele embarca no voo da Northern Goldstar Airlines, vôo 1015, de Washington D.C. para Tel Aviv.
Quando chega ao seu lugar, encontra um MP3 player, com um podcast de Rodman Edwards. O podcast tem por título: O mistério do vôo 1015, da Northern Goldstar Airlines.
Supostamente, é um podcast do futuro que descreve o que se sabe que se passou naquele vôo. Aquele vôo é um dos mistérios da aviação, já que desapareceu 1 hora após o começo da viagem.
Justin começa a ver que o podcast descreve coisas que realmente vão acontecendo no vôo. E, claro, Justin começa a passar-se, irritando vários passageiros e tripulação.
Justin conta a Joe Beaumont (um ex-piloto) o que está a acontecer. Ele convence Joe a entrar na cabine dos pilotos. Joe mata os pilotos e começa a pilotar o avião.
Mas Joe provoca o desastre do avião.
Justin acorda numa praia, num atol.
Justin percebe que foi ele que provocou o acidente, ao ter feito com que Joe assumisse o comando do avião.
Ele vê o podcast na praia. O podcast diz que todos sobreviveram, sendo resgatados ao fim de uns meses. Mas o podcast diz que o único desaparecido é Justin.
Entretanto, os outros sobreviventes aparecem, acusando-o de ser o responsável por eles estarem ali. Eles batem-lhe até ele morrer.
Este episódio lida com uma profecia autorrealizável.
Justin queria salvar toda a gente no avião (queria evitar o desastre), mas é ele próprio que provoca o desastre que sabia que ia acontecer.
Como diz o apresentador no final: “o inferno está cheio de boas intenções”.
Não cheguei a entender se Joe sobreviveu ou não. Segundo o podcast, ele sobreviveu. Mas porque os outros sobreviventes não o mataram também? Afinal, foi ele que fez o avião cair…
Este é um excelente episódio!
3 – Replay – Em Repetição
Num pequeno restaurante típico americano na berma da estrada (diner), Nina conversa com o filho, enquanto comem. Nina, a mãe, pega na antiga câmera de filmar da família, e começa a gravar o filho, antes de o levar para a universidade.
Ao fazer rewind para gravar por cima de uma cena em que o filho Dorian se sujou ao comer, Nina percebe que não voltou somente a fita para trás, mas todo o tempo voltou para trás alguns instantes (o quanto ela clicou no botão rewind).
Um polícia de trânsito estadual, que é racista (e Nina e Dorian são negros), manda-os parar e tenta multá-los por excesso de velocidade. Mas como a câmera de filmar ia a gravar, Nina carrega no botão de rebobinar (rewind) e o tempo volta para trás.
Nina diz ao filho para parar o carro. Ele pára. Mas o polícia, Lasky, aparece na mesma e tenta multá-los (e quase que dispara sobre Dorian) por pararem na berma da estrada de forma ilegal.
Nina rebobina novamente. Volta atrás no tempo. Sai do restaurante com o filho. Vai a conduzir e decide ir por outra estrada. Pára num motel, e passam lá a noite a verem televisão. Mas durante a noite, o polícia bate à porta do quarto e pede-lhes a identificação. Dorian não quer dar, porque considera comportamento abusivo. O polícia encosta-o à parede, saca da arma e aponta-lhe a arma. Nina pega na câmera de filmar e carrega no botão de rebobinar.
O tempo volta para trás. Nina e Dorian estão de volta ao restaurante. Como o agente Lasky também está lá a comer, ela vai até ele, mete conversa com ele de forma simpática, e até lhe paga uma tarte de maçã de sobremesa. No entanto, à saída, vendo que Nina tinha um bom carro (ela é advogada), o polícia pede-lhe para provar que o carro é mesmo dela (sendo ela negra, Lasky assume que Nina não pode ter um carro daqueles). O filho vai buscar a prova, mas quando mostra a Lasky, o polícia saca da arma e mata Dorian.
Já na morgue, com o filho morto, Nina carrega novamente no botão rebobinar. O tempo volta para trás, e estão de volta ao restaurante, a comer na mesa.
Nina conta o que se passa a Dorian. Dorian diz que para saírem desse loop, ela tem que passar por casa dela, onde cresceu, e onde vive agora Neil (tio de Dorian e irmão de Nina), com quem Nina não fala há muito tempo (desde que saiu dessa zona muito insegura e sem oportunidades, para ser advogada). Nina conta a Neil o que se está a passar. Ela acha que a câmera de filmar é mágica. Sempre que carrega em “rebobinar”, o tempo recua.
Neil leva Nina e Dorian para a Universidade. Mas quando estão à entrada, o polícia Lasky pára-os. O tio faz frente ao polícia. Mas mais polícias aparecem. A mãe começa a gravar com a câmera de filmar. Todos os outros estudantes (e pais) também começam a gravar a situação nos seus telemóveis/celulares. Com tantas testemunhas, Nina dá argumentos convincentes de que o polícia os anda a intimidar, a abusar da autoridade. Os outros polícias, intimidados por tanta gente, convencem Lasky a retirar-se.
10 anos mais tarde, Dorian é pai de uma menina chamada Trinity. Trinity acidentalmente parte a máquina de filmar. Dorian diz à mãe para não se preocupar. Dorian vai lá fora comprar gelado. Enquanto Nina e Trinity olham, ouve-se a sirene de um carro da polícia…
O apresentador tira estas conclusões do episódio:
“Só aceitando o passado, se pode caminhar para o futuro.
Só amando as pessoas, podemos quebrar as maldições.”
Já eu, retirei estas conclusões do episódio:
O futuro já está determinado. Não se consegue escapar do destino.
É a mesma mensagem dos filmes Final Destination.
Pessoalmente, não concordo nada com esta mensagem!
Mas o episódio é excelente!
4 – A Traveler – Viajante A
A sargento da polícia do Alasca, Yuka Mongoyak, detém o seu irmão Jack, por estar bêbado. O objetivo é que seja perdoado na festa de Natal do capitão Lane Pendleton.
Yuka coloca o seu irmão numa cela, na cave da esquadra.
No entanto, Yuka vê que apareceu, do nada, um outro homem. Ele está noutra cela e diz que quer ser perdoado. O homem misterioso diz que a Yuka também vai querer ser perdoada.
Ele diz que é um turista de extremos. O seu nome é A. Traveler – Viajante A. E que está ali para ser perdoado pelo capitão Lane Pendleton na sua famosa festa de véspera de Natal.
A. Traveler faz imensos elogios a Lane, manipulando-o. Ele dá-se bem com toda a gente e é logo querido pelo grupo. Mas depois começa a revelar informações secretas sobre cada um deles, e torna a festa numa confusão, com agressões entre as pessoas da terra. A festa acaba.
Várias informações que ele deu podem ter sido mentira, só para provocar confusão entre eles.
A. Traveler diz a Yuka que o capitão Lane vai ser afastado, e que ela o vai substituir – ela vai ser a capitã.
Lane vê antenas a sair da cabeça de Traveler. Mas ele deflete as suspeitas, afirmando que Lane vendeu informação confidencial aos russos, para eles atacarem os EUA.
Traveler manipula Lane e faz com que ele saia da esquadra.
Enquanto isso, ele promete a Yuka que vai ser ela a capitã. Mas vai trabalhar para eles (para o pessoal do Traveler).
Yuka vai atrás do capitão Lane. Mas quando o encontra, ambos testemunham vários OVNIs a descerem dos céus.
Traveler está agora na esquadra, solto, a comer tarte de abóbora. Traveler está na sua forma original, alienígena.
Percebe-se que os extraterrestres vão ficar no comando das coisas.
Gostei bastante do início do episódio, mostrando belíssimas auroras boreais nos céus do Alasca.
Gostei do telemóvel do Viajante.
A. Traveler era um extraterrestre.
Mas mais surpreendente: era um polimorfo.
Não gostei da mensagem de que as pessoas estranhas ao grupo, são misteriosas e têm segundas intenções.
Aliás, em geral, não gostei deste episódio.
5 – The Wunderkind – O Prodígio
Raff Hanks era um prodígio. Já foi o gestor de campanha mais bem-sucedido da sua geração.
Mas durante a eleição de um presidente, ele como gestor de campanha, recolheu dados incorretos, e o candidato para quem ele trabalhava, perdeu a eleição.
2 anos depois, desempregado e sem conseguir pagar a renda de casa, vê na televisão Oliver Foley – um miúdo de 11 anos que faz vídeos no YouTube – dizer que é candidato a presidente dos EUA. O seu vídeo a candidatar-se tem 12 milhões de visualizações.
Raff vê uma oportunidade de se redimir e convence os pais de Oliver que deixem o seu filho concorrer a presidente.
Num debate presidencial, Oliver mostra não saber de assuntos básicos. Ele é humilhado na televisão.
Raff faz com que Oliver não vá a mais debates, mas cria muitos anúncios na televisão em que Oliver se mostra com a família. Num dos anúncios, Oliver até anuncia que o seu cão está a morrer de cancro.
Oliver vence as eleições. Oliver passa a ser o Presidente dos EUA, e a sua mãe é a vice-presidente.
Oliver torna-se ditador. Ele diz que ou fazem o que ele quer, ou os despede a todos e contrata outros.
Oliver quer cumprir as promessas eleitorais que fez, mesmo as ridículas, como dar jogos de computador gratuitos a todos os americanos. Se as empresas de jogos não o fizerem, ele leva-as à falência.
Raff ganha consciência. Raff percebe que o presidente Oliver é um miúdo mimado. No entanto, há um problema: Oliver tem uma aceitação brutal na população, que adorou os jogos de computador gratuitos (e de ele cumprir as promessas).
Quando Oliver percebe que Raff já não o aceita, as preocupações de Raff são entendidas por Oliver como sendo uma traição. Oliver diz-lhe que o seu cão nunca esteve a morrer – foi só uma mentira para ganhar a simpatia do eleitorado. De seguida, Oliver convence o serviço secreto que Raff o quer matar: Oliver grita que Raff tem uma arma, por isso os agentes do serviço secreto disparam sobre Raff.
A população está contra Raff, porque são manipulados a pensar que ele queria matar o presidente Oliver. É a típica manipulação, propaganda.
Raff é levado para o hospital. O “médico” que o vai operar tem 12 anos. Porque Oliver passou uma lei proibindo a existência de médicos mais velhos ou com experiência.
O narrador termina o episódio com estas palavras:
“A sociedade é um ecossistema frágil.
Se baralharem as pessoas com as mentiras certas, elas acabarão por cegar face à loucura que decorre à sua frente.
Raff Hanks ganhava a vida vendendo o sonho americano. Mas, depois, criou um verdadeiro pesadelo do qual não retornou.”
Este episódio tem um grande problema: constitucionalmente, uma criança de 11 anos não pode ser presidente dos EUA.
De resto, este episódio é uma metáfora quase perfeita para como Trump foi eleito presidente, e para como ainda existem pessoas que o apoiam.
Existe uma completa manipulação nas campanhas que faz com que pessoas improváveis como Trump se tornem presidente.
Existem mentiras constantes, de modo a tornar alguém mais apelativo para o povo.
Existe um enorme apelo à emoção, em vez da razão.
O episódio mostra que: escolher alguém sem experiência, seja para presidente ou para médico, só pode dar mau resultado!
É um bom episódio.
6 – Six Degrees of Freedom – 6 Graus de Liberdade
A primeira viagem humana ao planeta Marte está para ser lançada, quando os norte-coreanos lançam bombas nucleares sobre várias cidades americanas. Os americanos retaliaram contra a Coreia do Norte e a Rússia.
Mas a missão Bradbury Heavy é, na mesma, lançada para Marte.
A viagem para Marte dura cerca de 8 meses.
Gradualmente, os 5 tripulantes (2 homens e 3 mulheres) vão-se irritando uns aos outros, com pequenas coisas. Existe discórdia interna.
Quando faltam pouco mais de 2 meses para a chegada a Marte, um dos astronautas diz que provou que nada daquilo é real. É só uma simulação para testar a durabilidade mental dos humanos numa viagem a Marte. Ele acha que não existiu lançamento. Mas como a nave não tem janelas, eles só puderam ver as coisas pelo monitor. Ele acha que estão a ser vigiados (na simulação).
Entretanto, dá-se uma ejeção de massa coronal. A erupção solar (solar flare) é fortíssima. Eles colocam-se na cabine, com o escudo protetor. Mas o astronauta que acreditava que aquilo é uma simulação, sai da nave. E morre queimado.
Depois disso, a missão é um sucesso. Eles pousam em Marte.
Mas afinal, eles estavam mesmo a ser vigiados. Por uma civilização avançada de alienígenas. Que ficam impressionados por os Humanos passarem o Grande Filtro. Por isso, salvam o tripulante que “deu por eles” – o astronauta não morreu. E os alienígenas resolvem salvar toda a espécie humana. Por isso, determinam que vão estabelecer contacto com os Humanos.
Neste episódio, existe o contraste entre a exploração pacífica do espaço e a guerra na Terra.
O episódio fala no “Grande Filtro“. A vida (inteligente) no Universo é muito rara.
O teste da vida consiste em saber se uma forma avançada de vida conseguirá chegar a outro planeta antes de se destruir a si mesma.
A maioria das civilizações avançadas falham. Daí nunca termos encontrado outras civilizações (extraterrestres). Elas auto-destroem-se antes de as encontrarmos.
Esta é uma das hipóteses para responder ao Paradoxo de Fermi.
É um episódio muito bom.
7 – Not All Men – Nem Todos os Homens
Annie Miller é convidada pelo seu colega de trabalho, Dylan, para observar a chuva de meteoros Perseidas. Mas os meteoros tornam-se em meteoritos (acertam em coisas na superfície). Dylan apanha um desses meteoritos e muda de atitude: o seu comportamento torna-se demasiado agressivo. Annie vai-se embora.
No dia seguinte, Annie vê vários homens na rua com atitudes agressivas.
Nesse dia, Annie vai jantar a casa da sua irmã Martha – é o aniversário de Martha. Nessa festa de aniversário está Annie, Martha, Mike (marido de Martha), Cole (filho de Mike e Martha), e Phil (chefe de Annie). Quando estavam a comer o bolo, eles ouvem o vizinho a gritar que a água está contaminada (a água está vermelha).
Quando as mulheres saem para um bar, para continuarem a festa de aniversário, testemunham vários homens a ficarem com os olhos vermelhos e a tornarem-se violentos, andando à porrada uns com os outros.
Elas saem do bar e são perseguidas por um homem. Quando chegam a casa de Martha, Mike torna-se violento, sai de casa e dá um enxerto de porrada no homem. Mike tinha bebido água contaminada e também está sob o efeito dela.
Mike tenta estrangular Annie com as mãos, mas Martha dá-lhe com uma frigideira na cabeça e põe-no KO.
Elas fogem de casa e vêem que todos os homens naquela cidade estão a tentar matar-se uns aos outros.
Phil não tem o problema, mas é morto na rua por outros homens.
Dylan aparece e tenta estrangular Annie com uma correia, mas ela consegue se soltar e atira-o à água.
Annie e Martha encontram Cole. Os 3 são resgatados e levados para um centro que tem as pessoas em quarantena. Nesse centro, aprendem que os meteoritos trouxeram um vírus que contaminou a água da cidade, infetando quase todos os homens. Foi uma epidemia que levou a que quase todos os homens sucumbissem aos seus instintos violentos.
Phil não foi afetado. E Cole também não (apesar de ter um meteorito no bolso). Cole diz que apenas escolheu não se tornar violento.
Afinal, não era uma doença, mas sim uma praga de consciência que deu aos homens permissão para ignorarem a decência, o civismo, e o medo.
Bastaram umas pedras inócuas para transformarem os homens em monstros.
As pedras funcionaram como um placebo/nocebo.
Curioso que no final, as televisões diziam que as imensas mortes e violência que tinham acontecido eram somente road rage (fúria/raiva nas estradas). Nada falaram sobre os meteoritos ou sobre as conclusões psicológicas.
É um episódio muito bom.
8 – Point of Origin – Ponto de Origem
Eve Martin é casada e tem duas filhas. A vida dela é muito rica (com uma casa enorme).
A sua criada, Anna Fuentes, é uma imigrante ilegal da Guatemala.
Anna é levada por agentes I.C.E., de modo a deportá-la.
No dia seguinte, Eve é levada por agentes HSI. Supostamente, é detida por questões de segurança nacional.
Na prisão, Eve encontra Anna.
Eve é colocada numa máquina. O agente Allandale diz-lhe que há 5 anos atrás, a nossa dimensão foi infiltrada por uma outra dimensão. Ficamos a saber que há 30 anos, uma caravana de pessoas da outra dimensão vieram para a nossa.
A máquina onde Eve está, faz com que ela tenha visões de um mundo em ruínas.
Eve percebe que ela e Anna são ambas imigrantes ilegais de outra dimensão.
Eve e Anna conseguem fugir da prisão.
Anna vai para outro lado. Eve vai para casa.
O marido diz a Eve que ela não pode estar ali. Entretanto, chega o agente Allandale. Eve diz-lhe para ele sair de sua casa. Allandale diz a Eve para sair de “sua casa” (da sua dimensão, da nossa dimensão).
Eve é novamente detida.
No final, o apresentador diz:
“Somos todos imigrantes, vindos de algum lado. Seja de outra cidade, de outro país, ou de outra dimensão.
Em criança, Eve saiu da sua dimensão, para escapar para um mundo melhor, onde o céu é azul.
Mas nesta terra, ela já não é bem-vinda.”
Este episódio é claramente uma crítica à sociedade americana, onde impera a hipocrisia das famílias ricas que contratam imigrantes ilegais, mas que publicamente estão sempre contra esses imigrantes ilegais.
É um bom episódio.
9 – The Blue Scorpion – Escorpião Azul
Jeff Storck é um professor de antropologia que anda deprimido, porque a sua mulher quer o divórcio (apesar dele ainda a amar).
Quando Jeff vai visitar o seu pai, vê que o seu pai, Otis, cometeu suicídio. A arma tinha uma bala com o nome Otis (mas só nós, audiência, vimos esse nome na bala que o matou).
Jeff pega na arma, chamada Blue Scorpion. A arma tem uma bala, agora com o nome Jeff. Mas somente Jeff vê o seu nome na bala.
Como anda muito deprimido, Jeff pensa em suicídio (com a bala com o seu nome).
Em vez disso, vai a casa da mulher, para matar o novo namorado dela, que também se chama Jeff.
Mas quando chega lá, um ladrão tenta-o roubar. Na confusão, a arma dispara sozinha e mata o ladrão. O ladrão chama-se Jeff.
Jeff Storck deita fora a arma, atirando-a para o mar.
Mais tarde, a arma dá à costa. A arma é encontrada na praia por dois miúdos. Um dos miúdos chama-se Kyle. A arma tem uma bala com um nome: Kyle. Curiosamente, só Kyle vê o seu nome na bala (o seu amigo não vê).
No final, o narrador diz que os Humanos dão muito valor às coisas. Por vezes, atribuem mais valor aos objetos do que à vida.
Esta é uma enorme crítica social à NRA e à Segunda Emenda, nos EUA.
Este é um excelente episódio!
10 – Blurryman – O indistinto
Sophie Gelson é argumentista de The Twilight Zone (2019).
Ela fica confusa quando a narração inicial de cada episódio é mudada, para refletir a sua vida.
Posteriormente, percebe que uma figura indistinta, como uma sombra, aparece no background (fundo) de várias cenas de episódios anteriores (quando antes não estava lá).
Depois, a figura misteriosa começa a persegui-la, assombrando-a. Ela fica aterrorizada.
Após passar pelo cenário do famoso episódio “Time Enough at Last“, Sophie percebe que a personagem que a persegue é o apresentador original da série: Rod Serling.
Serling atravessa uma porta com Sophie, levando-a para The Twilight Zone.
A mensagem final do episódio é que: abrir-nos ao desconhecido não é o fim da história, mas um novo começo.
O episódio é bastante criativo!
É sobre a guionista do próprio programa… sendo o episódio sobre o programa.
Este é um excelente episódio!
Pessoalmente gostei muito desta primeira temporada.
É verdade que podia ser melhor.
Mas é excelente recordar a estrutura de sucesso desta série icónica.
A segunda temporada também teve 10 episódios:
1 – Meet in the Middle – Encontro a Meio
Phil Hayes é uma pessoa solitária, que não consegue arranjar uma namorada.
Um dos problemas é ele focar-se demasiado nas diferenças para o que ele idealiza: por exemplo, se no primeiro encontro a rapariga traz o cabelo ligeiramente encaracolado em vez de totalmente liso, ele perde o interesse (porque esperava que o cabelo fosse liso).
Durante um date, um primeiro encontro, ele começa a ouvir vozes na sua cabeça. É de uma jovem mulher que estava noutro local. E ele responde-lhe, pensando (não verbaliza). Ou seja, estabelece uma comunicação telepática com ela.
Phil fala disto à sua psiquiatra. A psiquiatra diz-lhe que a mulher perfeita não existe e que a vida não é um conto de fadas (as coisas não são como as idealizamos). A psiquiatra também lhe diz que a voz que ele ouve deve ser a dele, a sua consciência, e que ele deve ter transtorno dissociativo de identidade (múltiplas personalidades).
Philip sai a meio da sessão com a psiquiatra.
Ele começa a ter conversas normais, do dia-a-dia, com a voz que ouve na sua cabeça. Ela diz-lhe que se chama Annie Mitchell, e está em Diamond Falls (uma cidade a centenas de quilómetros de distância de Phil, que está em Ashford City).
Passados uns dias, Phil procura no Facebook a Annie Mitchell de Diamond Falls. E vê a foto dela (ela é gira).
Ele continua a falar com ela através de telepatia, durante vários meses, sem a conhecer pessoalmente. Ele desenvolve, assim, uma relação à distância com ela.
Ao ver as fotografias dela no Facebook, novamente, ele apercebe-se que ela é casada. Ela admite que sim, mas que não é feliz no casamento.
Após mais algumas semanas de conversas (telepáticas) românticas, em que se vão conhecendo cada vez mais, Annie decide que se está a tornar tudo muito profundo e perigoso, e decide acabar. Phil fica deprimido e muito triste, a sofrer devido ao fim da sua relação com Annie.
Phil volta aos dates, primeiros encontros com outras mulheres, mas continuam a ser um desastre de dates, porque ele não está interessado nas mulheres.
Annie volta a contactar telepaticamente Phil, e ambos admitem que querem estar um com o outro. Eles combinam encontrar-se a meio caminho entre as duas cidades onde vivem: em Pilson Bay.
Quando ambos estão nos respetivos comboios a viajar para o local de encontro, Annie é perseguida por um homem; ela sai na estação Kingswood Station, mas o tal homem também sai e ataca-a. 4 horas depois, Phil chega a Kingswood Station onde Annie saiu. Mas só encontra os óculos (da fotografia) de Annie. No entanto, Annie comunica telepaticamente com ele, dizendo que foi raptada, e está num local escuro e bafiento. Ela diz que ouve uma coruja, e que deve estar numa floresta. Ele entra na floresta (perto da estação) e ouve as corujas. Phil encontra uma casa na floresta. Phil bate à porta e confronta o homem que abre a porta. Telepaticamente, Annie descreve o homem que a raptou, e Phil percebe que é o homem que abriu a porta. Phil mata o homem.
Aparece uma criança a chamar pelo pai. E a seguir aparece a mãe da criança. A mãe é a Annie. Ambas vêem que ele matou o marido/pai.
Phil tenta se explicar, dizendo que Annie tem falado com ele telepaticamente e precisava ser salva. Mas Annie diz que aquela é a casa dela, e que não sabe quem ele é. A polícia aparece e prende Phil.
Já no carro da polícia, preso, Annie diz telepaticamente a Phil que engendrou toda a história de viver noutra cidade e sair naquela estação. Na verdade, o que ela queria é que alguém matasse o marido dela. E Phil fez isso. Ela agradece a Phil tê-la salvado.
Phil fica “maluco”, ao perceber que foi manipulado e que vai preso (ou vai ser internado num hospício) para toda a vida.
Este episódio lida com vários assuntos.
Em primeiro lugar, vemos uma pessoa com uma tremenda falta de auto-estima.
Phil não se sente especial. Ele sente que não é talentoso, nem sensual, nem bem-sucedido, nem um macho alfa. Ele acha que a sua vida não tem qualquer propósito ou significado. Ele assume que é irrelevante.
Assim, Phil vê em Annie uma fuga da sua vida, uma fuga para a felicidade.
Em segundo lugar temos o sentimento de um direito masculino, em que os homens acham que têm direito à mulher perfeita.
Phil tem padrões muito elevados, exigindo a mulher perfeita.
Após muito conversar com Annie sobre coisas do dia-a-dia, a voz de Annie passa a ser entendida como a voz da mulher perfeita. Phil idealiza a voz, como sendo de Annie: a mulher perfeita.
Apesar de não a conhecer pessoalmente, Phil tem com Annie a relação mais profunda que ele alguma vez teve com uma mulher.
A voz passa a ser a sua psiquiatra, que o ajuda na depressão que é a sua vida aborrecida e solitária.
Isso leva a um outro assunto: ao amor obsessivo.
Phil Hayes gosta da ideia que tem de Annie, tornando-se obsessivo e “cego” (emocionalmente) na relação.
Gostei da exploração da ideia de ligação romântica à distância: pode-se ter uma relação com outra pessoa, mesmo sem a conhecer fisicamente.
Gostei da ideia da comunicação telepática com Annie ter sido comparada (até de forma humorística) ao que acontece no filme You’ve got mail – Você tem uma mensagem.
Realmente, é exatamente igual: duas pessoas que não se conhecem pessoalmente, começam uma relação romântica através de comunicação à distância.
A internet (nesse filme) é substituída pela telepatia (neste episódio).
Adorei o final!
Durante o filme, a ideia que dá é que Phil está louco, até se tornar um psicopata. Vamos dando razão à psiquiatra de Phil: estamos na presença de insanidade.
No entanto, no final, parece tudo mudar: será que estavam realmente a comunicar telepaticamente?
Até as palavras finais de Annie são ambíguas: seria ele a imaginar (devido ao choque e para justificar ter cometido um crime) ou Annie relamente comunicou com ele dizendo que o manipulou?
Será que Phil imagina a voz de Annie no final? Ou não?
Será que alguma coisa era verdadeira? Será que foi tudo imaginação dele?
Phil tem graves problemas psiquiátricos OU consegue comunicar telepaticamente e foi manipulado?
O final ambíguo é fabuloso, porque fica-se sem saber se é imaginação dele ou não.
Adorei as supostas palavras finais de Annie para Phil.
Annie diz a Phil que lhe disse o que ele queria ouvir: deu-lhe um propósito, como ele ambicionava. Ela utilizou o sentimento de Phil de achar que tem direito à mulher perfeita. Annie deu voz à mulher perfeita que ele tanto queria. Annie deu-lhe um propósito que o fez sentir-se um herói. Mesmo sendo tudo uma mentira, Annie manipulou-o bastante bem, aparentemente dando-lhe tudo o que ele queria.
Logo no início, o narrador diz que ouvir vozes na cabeça pode ser a consciência, inspiração divina ou loucura!
Mas o episódio deixa entender que a telepatia existe mesmo.
Neste sentido não gostei: as pessoas podem ser enganadas e pensar que a comunicação telepática é possível.
Apesar de que o episódio nunca explica qual a distância máxima para essa comunicação, e porque se comunica com uma pessoa e não com outra.
Também não gostei das críticas aos psiquiatras. Annie diz que os/as psiquiatras são especialistas a dizer o que está de mal com os pacientes mas que não os ajudam, nem os entendem, nem compreendem o que é real.
Este é um excelente episódio!
2 – Downtime – Pausa
Michelle Weaver consegue o seu emprego de sonho, como gerente de um hotel. Devido à sua enorme competência, ela tem um tremendo êxito profissional e é adorada pelos seus funcionários.
Surpreendentemente, aparece uma enorme nave espacial que fica parada nos céus do planeta. Todas as pessoas ficam estáticas a olhar para o objeto, em transe (esta pausa serve para a Manutenção do Planeta). Só Michelle se move e pensa. Ela não entende o que está a acontecer.
Até que lhe explicam que ela está somente numa simulação, num programa digital – como o Holodeck de Star Trek -, criada pela empresa SleepAway. Ela comprou umas Férias de Sono, onde sonha com aquilo que mais deseja: o sucesso profissional e familiar. É uma nova forma de turismo.
Na verdade – na realidade -, Michelle é um homem chamado S. Phineas Lowell, que está a dormir (e a sonhar).
Michelle não se lembra de nada, e não aceita que seja somente um simulacro, alguém não real.
Entretanto a Pausa para Manutenção do Mundo termina, e as pessoas voltam a movimentar-se, voltando à sua vida na simulação como se nada se tivesse passado.
Este episódio lida com o tema da realidade vs. sonho.
O que é real? Como distinguir a realidade de um sonho? Estaremos nós somente no sonho de alguém? Será a nossa realidade somente um sonho?
Qual é a natureza da realidade?
Curiosamente, ao longo do episódio, nunca diríamos que Michelle Weaver é só uma personagem numa simulação de computador (como no Sims).
É um episódio muito bom nas questões filosóficas que levanta, na premissa do episódio.
No entanto, não gostei do desenvolvimento do episódio. Penso que poderia ter sido mais profundo e, simultaneamente, proporcionar um melhor entretenimento.
Por fim, é um episódio que potencia a paranóia.
É um bom episódio.
3 – The Who of You – Quem de Vós
Harry Pine é um ator falhado, que está em condições difíceis (struggling actor). Por não conseguir trabalho, não consegue pagar coisas básicas, como a eletricidade em casa.
Devido aos problemas monetários, ele decide assaltar um banco. Mas durante o assalto, a consciência dele é trocada com a de Jill, a mulher que trabalha no banco. Ou seja, a mente do assaltante é transferida para o corpo da bancária assaltada (Jill), e a mente da bancária aparece no corpo de Harry.
Quando Jill (com a mente de Harry) tenta sair com o dinheiro roubado, é intercetada por um polícia chamado Luntz. E dá-se uma nova transferência de consciências. A mente de Harry passa para o corpo do polícia Luntz. Jill passa a ter a sua consciência original. Sendo que o corpo de Harry tem agora a mente de Luntz.
Entretanto, Luntz entra num café e transfere a consciência de Harry para o empregado. Sendo que simultaneamente, o corpo de Harry (que está preso e a ser interrogado) passa a ter a consciência do empregado. Luntz passa a ter a sua consciência original.
Posteriormente, o empregado, enquanto foge da polícia (porque carregava o dinheiro roubado), transfere a consciência de Harry para outra pessoa na rua, que estava a correr. Sendo que simultaneamente, o corpo de Harry (que está preso e a ser interrogado) passa a ter a consciência do corredor, John.
A seguir, a mente de Harry é transferida para Keith, um médium. E, claro, o corpo de Harry (que está preso e a ser interrogado) passa a ter a consciência de Keith.
Depois, a mente de Harry passa novamente para o corpo de John. E o corpo de Harry (na prisão) passa a ter a mente de John.
Seguidamente, a consciência de Harry passa para um rapaz cheio de tatuagens, depois para uma jovem rapariga, de seguida para um velhote que carregava compras de supermercado, depois para uma criança (Miles), e por fim para o detetive/inspetor Reece.
Quando o corpo de Harry (mente de Reece) tem uma arma apontada ao corpo do detetive Reece (mente de Harry), a polícia aparece e mata o corpo de Harry.
Reece (mente de Harry) vai a casa de Harry dar a má notícia à namorada de Harry, mas ao chegar lá percebe que a namorada traía Harry. O amante era Reece.
Reece (mente de Harry) deixa de ser detetive/inspetor e passa a ser ator. E tem sucesso como ator.
Este é mais um episódio que promove ideias pseudo e paranoicas, como a transferência de consciência entre corpos de diferentes pessoas.
Mas é uma ideia apelativa, que novamente poderia ter sido melhor desenvolvida.
Por exemplo, no final, a mente de Harry poderia ter ficado no corpo de Miles. Seria extremamente confuso e injusto para a criança, mas para Harry, que tinha esse poder, dava-lhe a possibilidade de viver uma nova vida quase desde o início com o conhecimento que já tinha da vida aos 40 anos de idade. Seria certamente um prémio muito superior ao dinheiro roubado no banco. Harry podia ter vivido duas vezes, com o conhecimento da sua “primeira vida”.
E se esta capacidade de passar consciências entre corpos for real no futuro, muito provavelmente é isso que farão os mais ricos, de modo a tentarem se imortalizar o mais possível.
Obviamente, quem ficará a perder são as crianças, que servirão somente como “invólucros” para colocar consciências.
Também não gostei muito da consciência original voltar àqueles que deixam de ter a mente de Harry.
Normalmente o que se passaria, seria a consciência de Harry ir passando de pessoa para pessoa, e a pessoa que deixou de ter a consciência de Harry passaria a ter a consciência da pessoa para onde passou agora a consciência de Harry (ex: quando a consciência de Harry passou de Jill para Luntz, Jill passaria a ter a consciência de Luntz, sendo que o corpo de Harry continuaria com a consciência de Jill).
Isto teria muito mais lógica. Mas claro, ficaria tudo muito mais confuso, não só para a audiência, como para as personagens: em pouco tempo teríamos uma sociedade com as consciências todas misturadas em corpos diferentes.
Da forma como foi feito, ficou mais simples (basicamente só temos duas consciências trocadas). E sobretudo, da forma como foi feito, pode-se levantar a dúvida se realmente existe transferência de consciência (sim, no episódio isso existe) ou se é (o corpo de) Harry (preso) que sofre de um transtorno de identidade dissociativa (distúrbio de personalidades múltiplas).
O que gostei mais foi o médium (que também é tarot psychic) admitir que é um charlatão!
É um bom episódio.
4 – Ovation – Ovação
Fiji é uma cantora, muito bonita. Ela tem bastante êxito, mas sente-se infeliz.
Fiji tem um amuleto, um medalhão. Supostamente, o seu êxito foi tornado possível pelo medalhão.
Fiji vê uma artista de rua (que toca viola, compõe e canta) chamada Jasmine. Fiji dá o medalhão a Jasmine.
De seguida, Fiji suicida-se.
Jasmine passa a ter sucesso na rua: com muita gente a aplaudi-la.
Jasmine decide participar na competição musical denominada Ovação, que é o programa mais visto na televisão. E vence o concurso musical, apesar de ter tocado e cantado muito mal.
Percebendo que o seu êxito provavelmente se deve ao medalhão e não ao seu talento, Jasmine sente-se infeliz com a sua popularidade.
Jasmine dá o medalhão à sua irmã Zara – que é médica-cirurgião – dizendo-lhe para deitar o medalhão fora.
Sem o medalhão, Jasmine isola-se numa cabana na montanha. Quando volta à civilização, percebe que a sua popularidade desapareceu – ninguém gosta de a ouvir cantar.
Entretanto aparece uma nova artista, que se torna muito popular. O seu nome artístico é Mynx. Mynx é uma artista misteriosa.
Perturbada com a falta de popularidade, Jasmine decide matar Mynx. Após a matar, percebe que Mynx é a sua irmã Zara (que afinal tinha ficado com o medalhão).
Existem algumas mensagens neste episódio.
Por exemplo, a procura incessante por reconhecimento (por parte dos outros) tem muitos custos pessoais. Ou seja, a popularidade tem custos elevados.
Uma outra mensagem do mesmo género é que: por vezes, os sonhos tornam-se pesadelos!
O stress da popularidade e da exposição pública pode promover doenças mentais.
Outro exemplo poderá ser que o sucesso nem sempre é justo. E quando não é justo, a pessoa não se sente bem com ela própria.
Uma das mensagens mais fortes é que o êxito profissional não é tudo.
Além disso, a felicidade não vem do dinheiro e do número de fãs (da popularidade).
Existe promoção pseudo neste episódio: a ideia de que o êxito é devido ao amuleto (e não ao mérito pessoal). O medalhão faz as pessoas aplaudirem-na.
Ou seja, existe propaganda à superstição.
Por último, a inscrição no medalhão diz: Invenibus in aliis vero.
Isto traduze-se como: “Nos outros, eles encontraram”. Ou seja, eles procuram nos outros o reconhecimento.
Este é um bom episódio.
5 – Among the Untrodden – Pelo Caminho Inexplorado
Irene é uma adolescente que frequenta o Colégio interno Santa Maria (Saint Mary’s Boarding School). É uma escola só de raparigas.
Irene é a “nova rapariga” da escola secundária, já que se transferiu recentemente.
Irene é uma adolescente com vários problemas de integração, e é vista pelas outras alunas como sendo muito estranha.
O grupo de raparigas populares, liderado por Madison, intimidam (bully) a Irene.
O projeto da Irene para a Feira de Ciências é sobre a potencial validade de dons psíquicos. Ao investigar sobre o assunto, Irene fica convencida que Madison tem poderes psíquicos (devido a um teste com Cartas de Zener). E diz-lhe. Gradualmente, Madison convence-se que realmente tem poderes psíquicos.
Madison percebe que consegue ler a mente das outras alunas, e usa isso para intimidá-las (bully).
Acidentalmente, Irene cai do telhado do Colégio, batendo com a cabeça. Quando Madison chega perto dela, Irene acorda. Aparentemente, Irene pode ter morrido e Madison ressuscitou-a.
Irene e Madison passam a andar mais juntas, já que estão a tentar perceber que poderes tem Madison. Madison tenta integrar Irene com as suas amigas; Irene tenta integrar-se e parecer cool; mas as outras 3 raparigas só a gozam. Madison defende Irene de ser constantemente alvo de chacota.
O grupo de raparigas populares distancia-se de Madison (por medo) e aproxima-se de Irene (para gozá-la. Mas Irene pensa que está a ser popular).
Na Feira de Ciências, o grupo de raparigas populares apresenta o projeto chamado “Anatomia de uma Falhada”, onde aparecem imagens e vídeos embaraçosos de Irene. Irene fica em choque e grita. O grito parte os ecrãs e mata as 3 raparigas populares.
Madison confronta Irene e diz que ela (Irene) é que tem poderes psíquicos e que os usou para controlar e matar as raparigas populares da escola. Madison diz que Irene manipulou-a com o objetivo de ficar popular na escola. Irene nega tudo.
Irene convence Madison que são amigas. Madison abraça Irene, reconhecendo que são amigas. Ao abraçar, desintegra o corpo de Irene (que fica em pó no chão).
Mais tarde, uma nova rapariga chega à escola. Madison tenta ser amiga dela.
O episódio é um pouco confuso sobre quem realmente tem poderes.
Mas parece que, na verdade, quem tem os poderes psíquicos é Madison.
Madison queria uma amiga a sério (e não as raparigas populares más, que só andavam juntas por interesse). Assim, Madison criou Irene (como criou uma chave e um lápis). Madison projetou Irene porque tinha necessidade de ter uma amiga a sério.
Assim que Madison percebeu que Irene era realmente sua amiga, então Irene desintegrou-se (como aconteceu com a chave e o lápis).
Tal como é dito no episódio: as coisas só existem até servirem o seu propósito, depois desintegram-se e desaparecem de existência.
A meio do episódio, na Feira de Ciências, fica a ideia que é Irene que tem poderes psíquicos.
Este momento é semelhante ao que acontece no filme Carrie.
No final do episódio, Madison “cria” uma nova rapariga, que chega à escola.
O objetivo será torná-la sua amiga. O objetivo de Madison é ter uma amiga a sério.
E quando o conseguir, a nova amiga irá se desintegrar.
Fica a ideia no ar de que o ciclo irá continuamente repetir-se…
A estrutura do Colégio promove a ideia do desconhecido onde podem acontecer coisas estranhas. Parece um hospital psiquiátrico em decadência.
Existe propaganda à pseudociência neste episódio: a ideia de que há pessoas com dons psíquicos. Não há. São tretas promovidas por hollywood e por vigaristas.
Este é um episódio muito bom.
6 – 8 – Oito
Nos confins do mundo, na Antártica, uma equipa de cientistas descobre um polvo extremamente inteligente.
O degelo e a redução da camada gelada na superfície, faz com que a luz solar chegue a locais mais profundos. Isto gera um aumento da vida marinha mais perto da superfície. O que faz com que animais de águas profundas venham para mais perto da superfície para se alimentarem. A grande maioria destes animais de águas profundas nunca foi vista por humanos.
Os cientistas esperam encontrar novas espécies de animais marinhos que permitam desenvolver novos medicamentos e novas formas de salvar as pessoas (pela ciência médica).
Os cientistas descobrem um enorme polvo de 40 kgs, escondido numa arca na estação de pesquisa (NyBy Science Station). O polvo veio do oceano e escondeu-se aqui.
Os cientistas percebem que este polvo é de uma espécie nunca antes detectada.
O polvo é super-inteligente.
O polvo mata 5 cientistas/pesquisadores/exploradores.
O polvo rouba um telemóvel. Com o telemóvel, entra no computador central dos cientistas. E é aqui que as coisas sofrem um twist.
Realmente, um dos grandes objetivos dos cientistas é encontrar novas espécies de animais marinhos que permitam desenvolver novos medicamentos e novas formas de salvar as pessoas (pela ciência médica).
Quando descobrem o polvo inteligente, então, além da medicina, os cientistas dizem que a descoberta deste polvo pode ajudar a desenvolver pele artificial, robôs flexíveis, invisibilidade, etc. Os humanos poderiam viver nos oceanos e na terra, seriam mestres da camuflagem, e os braços e pele poderiam saborear, ver e reagir aos estímulos sem precisar enviar a informação a um cérebro central. Os cientistas também querem explorar as capacidades neurológicas do polvo.
Através da bioengenharia, da edição de genes, os cientistas esperam editar geneticamente um óvulo humano de modo a desenvolver essas características (do polvo). Ou seja, o desejo é utilizar a bioengenharia para o ser humano ter as melhores qualidades de ambas as espécies: criando uma nova espécie de humano.
Ao aceder ao computador central dos cientistas, o polvo apercebe-se desta investigação. E então tem uma ideia brilhante: editou a pesquisa de modo a fazer o oposto: o seu objetivo é alterar geneticamente a vida marinha de modo a esta poder viver em terra.
Claro que isto iria, provavelmente, exterminar os Humanos…
Assim, desta forma, o reinado da Humanidade acaba. Os herdeiros da Terra são os polvos!
Adorei este episódio!
O episódio lida com o tema dos polvos inteligentes.
Mais uma vez, percebe-se que os cientistas têm boas intenções, mas a pesquisa, por vezes, pode correr mal… tão mal, que até pode levar ao fim da Humanidade.
Assim, a mensagem parece ser: cuidado com a pesquisa científica! – o que obviamente é uma péssima mensagem.
Gostei de ver a competição entre americanos e chineses, na mesma equipa científica.
Não entendi como o polvo irá fazer a edição genética na vida marinha.
O polvo tem um laboratório? Não parece.
E como o polvo sabe trabalhar com telemóveis e computadores?
Não faz sentido…
De qualquer modo, este é um excelente episódio!
7 – A Human Face – Um Rosto Humano
Um ser alienígena toma a forma de uma jovem humana recentemente falecida.
Durante a tarde, um casal (nos EUA) está a arrumar o quarto da sua filha recentemente falecida, quando um grande clarão de luz invade o quarto.
O clarão deveu-se a um evento de “cosmic flare” (radiação cósmica).
Momentos depois, eles ouvem barulho na cave da sua casa. Eles vão à cave. E vêem um ser horrendo gelatinoso, meio transparente. O casal foge para o sótão.
Entretanto, voltam à cave com uma arma, de modo a expulsarem o monstro.
Mas o monstro extraterrestre é um polimorfo. Após perceber o que o casal está a pensar, o ser extraterrestre transforma-se na filha deles – assume a forma da recentemente falecida filha deles.
Eles fogem novamente.
Mas o ser atravessa paredes, portas e pisos interiores (atravessa os tetos e chãos dentro da casa). Por isso, persegue-os facilmente.
Quando se encontram, o ser com a forma da filha fala com eles. O ser diz que tem as memórias da filha deles, tem a sua mente. A filha viu sempre os pais como “ausentes”: o pai não queria saber dela, a mãe nunca a deixava fazer nada e tratava-a com muito mimo (como se ela fosse incapacitada para ser independente – a mãe só via uma versão ideal da filha, de como a mãe queria que a filha fosse). A filha sentia-se negligenciada, porque nunca lhe perguntavam como se sentia. Eles não se importavam de como ela realmente era. A comunicação entre eles, entre os três, era muito má. Era uma dinâmica familiar destrutiva.
Entretanto, o ser alienígena, sob a forma da filha, apresenta-se como um Drone Pacifista Biológico (Biological Pacification Drone). A sua missão é a pacificação indígena: estudar a população do planeta, observar, absorver informação, e tentar que essa população venha a ser pacífica para os invasores extraterrestres.
É um ser que alterna entre dimensões, nunca está completamente numa determinada dimensão. Daí parecer transparente por vezes em certas partes.
Esta é uma história que me fez lembrar o filme Starman.
Como sempre acontece na ficção científica, esta história não é verdadeiramente sobre extraterrestres, mas é sim um episódio social, sobre os humanos.
Neste caso, é uma auto-reflexão dos pais sobre a forma como educam a filha.
Discute-se a dinâmica familiar, que por vezes é tóxica, e nem nos apercebemos.
Além disso, a filha tinha uma crise de identidade: não sabia quem era.
Curiosamente, isto é similar ao que se passa com o alienígena: o ser extraterrestre, sob esta forma da filha, também não sabe bem quem é.
Foi interessante ver as reações diferentes do pai e da mãe, em relação ao alienígena em forma de filha deles.
A mãe deixa-se levar pelas explicações do ser, e vê-a como sendo sua filha. O ser conquistou-a emocionalmente. Apesar de ser uma fraude, a mãe quer acreditar que é a sua filha.
O pai tenta matar o ser. Ele percebe que é uma fraude. Ele percebe que é só um drone biológico: o primeiro passo para uma futura conquista extraterrestre. O pai diz que é assim que eles nos conquistam, através do nosso ponto fraco: o amor. Por fim, o pai também é conquistado, através da chantagem emocional: o ser diz que sabe (porque tem a mente dela) que a filha adorava o pai.
A mensagem aqui é que o amor é um ponto fraco: é um ponto fraco dos Humanos.
Mas eu ainda colocaria outra mensagem: o ser humano tem uma enorme vontade de acreditar em tretas (e essa vontade supera a mente racional).
Não entendi como o ser fica com a mente da filha. Como ele tem as memórias da filha?
Supostamente, a filha morreu e está enterrada, assim como o seu cérebro. O seu cérebro está morto.
O narrador diz no final que o ser foi contra a sua própria diretiva, e que acabou conquistado pela própria humanidade.
Ora, até pelo desenrolar do episódio, parece-me que esta conclusão é uma enorme treta!
É só mais um exemplo de geocentrismo psicológico.
No início, o episódio começa por dizer que iria existir um espetáculo de luz nos céus durante a tarde porque radiação cósmica iria passar pela Terra.
Ora, parece-me que eles estavam a falar de solar flares, que provocam espetáculos de luz (auroras) nas latitudes mais altas do planeta.
Mas os argumentistas confundiram-se, falaram de radiação cósmica, de clarão de luz e até de ver esse clarão de luz em estados do sul dos EUA. Ora, tudo isto é errado.
Foi muito interessante quando o narrador disse que quando encontrarmos vida extraterrestre, o exterior é que importa. Se o exterior fôr o correto para as nossas suscetibilidades, então vai-nos parecer “algo de bem”.
A nossa reação (de medo ou de recebê-los de braços abertos) vai depender da aparência dos alienígenas inteligentes avançados.
Ora, esta é uma daquelas verdades que normalmente nem consideramos: vamos confiar ou não neles, dependendo da forma como eles se apresentarem (se os virmos como monstros, vamos ter medo deles; se eles vierem como anjos, vamos “cair que nem patinhos” nas tretas todas que eles nos disserem).
Este é um episódio muito bom!
8 – A Small Town – Uma Pequena Vila
Na vila de Littleton, EUA, Jason Grant encontra um pequeno modelo/maqueta da vila no sótão da igreja local.
Ao brincar com o modelo, Jason percebe que o que ele faz ao modelo, afeta a vila real. Por exemplo, quando pinta o restaurante do modelo, o restaurante real fica automaticamente pintado de fresco.
Com este poder, Jason decide ajudar os habitantes da vila, reparando/mudando tudo aquilo que eles precisam. Ele torna-se o “anjo da guarda” da vila.
No entanto, os habitantes pensam que é o detestável e egoísta novo presidente da câmara (Conley) que está a mudar a vila para melhor. Jason fica ciumento/invejoso de estarem a dar o crédito a Conley. Assim, Jason parte o carro e assusta Conley (no modelo, que depois acontece na vida real).
Entretanto, uma falha/sobrecarga de energia no modelo (que dá luz à noite) provoca uma falha de energia global na vila (a central elétrica que fornece energia a Littleton fica destruída). As pessoas da vila culpam Conley e querem matá-lo.
Então, Jason salva Conley, admitindo para toda a gente que foi ele que ajudou a vila e que provocou a sobrecarga de energia por acidente.
Conley tenta roubar o modelo/maqueta, mas parte-a. Toda a cidade fica um caos. E o modelo/maqueta deixa de funcionar (já não projeta as coisas para a vila).
Este episódio fez-me lembrar o episódio The Game, na série Stargate Atlantis.
Também aqui, Jason faz um papel quase de Deus para os habitantes da vila.
Também aqui, as coisas são mais complexas do que à primeira vista se poderia pensar (pensa-se que ter um poder divino devia ser linear, simples).
Tal como em Stargate Atlantis, neste episódio também se percebe que por mais intenções benevolentes que os “deuses” tenham, a verdade é que o resultado dá sempre errado para as pessoas reais.
Tal como é dito neste episódio: nunca conseguimos imaginar todas as mudanças que os nossos atos causam no mundo, por melhores intenções que tenhamos.
Existem sempre efeitos (nefastos) não previstos…
No entanto, também é dito no episódio que isto não nos devia desmotivar: devemos agir! Devemos tentar tornar o mundo melhor.
A mensagem final no episódio parece ser a de que os deuses (tal como os super-heróis) devem se manter no anonimato/segredo.
A partir do momento em que a sua identidade é descoberta, tudo pode descambar. Tal como aconteceu quando Jason contou que era ele o Ajudante da Vila.
Infelizmente, tal como acontece muitas vezes, o poder de Jason levou-o a perder tudo…
Este é um bom episódio!
9 – Try, Try – Tentar, Tentar
Marc Wheeler salva Claudia King de ser atropelada na rua.
A seguir, vão ao museu juntos e conversam sobre diversos assuntos. Parecem ter vários interesses em comum. Marc parece saber exatamente quais os interesses e sonhos de Claudia.
No museu, Marc apanha uma garrafa de água que acidentalmente ia bater na cabeça de Claudia. Outros supostos “milagres” acontecem, quando Marc parece saber antecipadamente o que vai acontecer.
Claudia fica um pouco assustada com estes “milagres” e com o facto de Marc parecer saber muito sobre si (Claudia). Assim, Claudia confronta Marc: como ele sabe tanto sobre ela?
Marc diz-lhe que sempre que adormece ou morre, acorda neste mesmo dia e refaz todos os seus passos. Ele está preso no tempo, a reviver o mesmo dia vezes sem conta.
Claudia não acredita. Mas Marc dá-lhe informações mais pessoais sobre ela própria e prevê vários eventos naqueles minutos, que realmente acontecem.
Ela passa a acreditar nele. Mas sente que foi manipulada por ele: ele aproveita-se dela, recolhendo informações sobre ela ao longo de várias tentativas para depois aparecer com a sua versão melhor possível para ela.
Além de manipulada, ela sente que está a ser perseguida por ele, no mesmo dia, vezes sem conta.
Ela está assustada com ele. Ele diz-lhe que está apaixonado por ela, mas ela rejeita-o. Ele ataca-a. Mas ela dá-lhe vários murros e ganha essa batalha.
Marc adormece. Quando acorda, recomeça o mesmo dia.
Gosto sempre destas histórias com viagens no tempo, apesar de serem cientificamente incorretas.
Neste caso, é um episódio muito similar ao filme Groundhog Day – Feitiço do Tempo.
A partir do filme, podemos tirar várias lições.
Por exemplo, o amor não se conquista de forma forçada, manipulando pessoas.
O amor pode ser doentio, obsessivo: que leva a comportamentos de stalker, perseguição.
A verdade é que apesar dele parecer romântico, na verdade ele só pensava nele próprio: na forma dele conquistar os seus próprios objetivos (que eram ela). Ela era simplesmente um prémio para ele.
Também se percebe que aquilo que é interpretado como “milagre” (habilidades milagrosas) por alguns, é somente um truque, uma manipulação da audiência.
Aquilo que parece ser uma benção (reviver o mesmo dia e poder melhorar esse dia com mais e mais conhecimento), na verdade torna-se uma prisão, um confinamento solitário donde o protagonista não se consegue libertar.
Nunca se percebe como é que ele entrou nesse time-loop: como é que ele passou a voltar sempre atrás no tempo nesse dia? Porque isso aconteceu?
Este é um episódio muito bom!
10 – You Might Also Like – Talvez Também Goste
Uma mãe dona de casa, Janet Warren, que vive na zona rica da cidade, sente que anda a “perder tempo”: por vezes “acorda”, após ter adormecido a meio da tarde, sem se lembrar do que se passou antes para ter estado a “dormir”. Ela só se lembra que durante o dia, regularmente (intervalos regulares), ela ouve uma música (uns acordes) e imediatamente sente-se a perder a consciência. Depois, quando acorda, horas depois, está deitada na cama. Ela até pensa que pode ser um tumor cerebral…
Janet pensa que o que tem acontecido pode se dever a um novo produto que toda a gente tem encomendado. O produto publicitado na televisão é um Ovo que, é dito, é o futuro: o anúncio promete que o Ovo vai mudar tudo para melhor para sempre.
Como o problema dela coincidiu com o anúncio do Ovo, então ela cancela a encomenda do Ovo.
Simultaneamente, ela coloca uma camera de vídeo (baby monitor) na sua casa para filmar o que acontece quando ela perde a consciência.
Ela perde a consciência novamente.
A câmera de vídeo filma a entrada dela na casa, pelo ar, a pairar pelo quarto, e a pousar suavemente sobre a cama.
Com cordas, ela decide prender-se a uma enorme cadeira (que não passa pela janela). Quando perde a consciência, é levada pelo quarto. Mas a cadeira é arrastada com ela. Nessa altura percebe-se que ela estava a ser raptada por extraterrestres. Um enorme disco voador paira sobre a sua casa, raptando-a utilizando um “raio de transferência” (tractor beam – feixe de atração). Devido a estar presa à enorme cadeira, ela fica retida numa árvore.
Janet acorda no topo da árvore. Vê o disco voador, e fala para os extraterrestres.
Os extraterrestres são os Kanamit. Jane fala com a raínha deles.
Janet fica a saber que o Ovo, todos os Ovos foram postos pela raínha dos Kanamit. Quando o Ovo eclode, o ser/cria que sai de lá, come os Humanos.
Janet acorda de novo na sua cama, em sua casa. Lá fora ouvem-se gritos, disparos, etc: o mundo está violento.
Janet vai recolher o seu Ovo, toda contente. Ao mesmo tempo que enormes discos voadores pairam sobre a cidade (apesar de ninguém reparar neles).
Neste episódio, aparecem novamente os Kanamit – os famosos extraterrestres do episódio mais icónico/popular da Twilight Zone: “To Serve Man“.
Na história original percebe-se que os extraterrestres não vinham servir (to serve) a humanidade, mas que este era simplesmente o título de um livro de culinária (os humanos eram servidos num “prato” para serem comidos).
Fantasticamente, com um mero jogo de palavras, os Humanos deixaram de ser os “senhores do Universo”, o topo da cadeia alimentar, para serem simplesmente um alimento no menu dos extraterrestres, ou melhor, são somente um dos ingredientes numa receita.
Adorei o facto deste episódio ir buscar a ideia (e os extraterrestres) do episódio original.
Adorei a forma como os auto-proclamados xamãs, astrólogos, espíritas são retratados: como vigaristas. A astróloga a quem Janet recorre inicialmente responde-lhe somente com “frases feitas”, gerais, escritas para não dizerem nada e serem adaptáveis a toda a gente. Exemplo: “Os planetas dizem que só você terá a força para retraçar o fluxo do rio do espaço-tempo.”
Obviamente, não gostei dos extraterrestres serem humanoides… mas isso já o eram na história original.
Também não gosto do episódio promover a ideia de OVNIs, com alienígenas humanoides a conduzi-los.
No seguimento, não gosto da promoção da paranoia e da irracionalidade por parte do episódio.
É muito interessante a forma como os extraterrestres conversam entre eles: por telepatia.
Aliás, tal como é dito por eles, eles têm uma mente única e partilhada entre eles, daí que o pronome com que se referem a UM deles é: Nós! We! Us!
Daí os extraterrestres terem medo dos humanos quando estão acordados.
Porque nessas alturas, os Humanos têm a capacidade para terem uma mente própria: cada um com os seus desejos pessoais, mudando de ideias frequentemente, serem imprevisíveis, etc.
Adorei o facto do Ovo ser uma tecnologia biológica para exterminar a raça humana.
Atualmente, a guerra biológica parece-me muito mais plausível que uma guerra convencional, com armas.
Adorei o facto dos anúncios publicitários se passarem na cabeça dela, quando ela está a dormir/inconsciente. Os ETs usam a publicidade televisiva inconsciente para manipular as mentes humanas.
Parece-me que a forma personalizada com que os anúncios são cada vez mais recebidos, e a forma como as pessoas estão fartas de receber anúncios, vai levar a que os recebamos desta forma no futuro…
De igual forma, a maneira com que já sofremos brainwashing (lavagem cerebral) nos anúncios publicitários tenderá a piorar: essa lavagem cerebral será cada vez mais subtil, quando estivermos a dormir. Continuaremos a não nos aperceber desse brainwashing.
Adorei as várias mensagens sociais do filme (além do brainwashing já referido):
As pessoas são demasiado materialistas e ansiosas, sempre à espera do the next great thing, do telemóvel último modelo, etc. É um consumismo desenfreado que, ao contrário do que assumimos, só nos tem deixado mais infelizes e ansiosos.
Ninguém questiona porque quer as coisas. É-lhes vendida a ideia de que têm de ter esse produto para terem uma vida melhor. E as pessoas alimentam-se disso, como se fosse essencial para a sua sobrevivência. No episódio, o Ovo é publicitado como algo que as pessoas precisam verdadeiramente para terem uma vida melhor. É tudo treta, mas as pessoas assumem que é a verdade.
Este consumismo por produtos e esta ansiedade, deixa as pessoas infelizes, egoístas, possessivas.
Curioso que no episódio, as pessoas como Janet têm uma vida aparentemente perfeita. Mas nunca é suficiente.
No episódio, as pessoas são levadas a acreditar que o egoísmo, a violência (que se vê nas ruas depois), etc, é que é a vida perfeita.
As pessoas nem sequer se apercebem da violência que geram para terem a tecnologia que pensam que necessitam.
As pessoas são infelizes, apesar de terem todos os objetos materiais que querem.
Aliás, os Kanamit criticam os Humanos por não quererem o que têm, mas por quererem sempre aquilo que não têm.
No final, Janet é “conquistada”: ela vai recolher o seu Ovo, toda contente.
O desejo de ter a nova tecnologia, o consumismo, sobrepõe-se ao raciocínio lógico!
As pessoas, as casas, as coisas que detém, são todas “iguais”. Todas as pessoas têm o mesmo.
Daí no episódio, no bairro rico, ser tudo branco, puro, “perfeito”, mas sem côr, sem diferença, sem individualidade.
Estas pessoas, estes consumidores sem cérebro próprio, são semelhantes aos Kanamit: com uma mente única, partilhada, sem desejos próprios, sem individualidade.
Tal como se vê pela interação de Janet com a astróloga, estas pessoas sem cérebro próprio são facilmente enganadas pelos vigaristas.
Uma outra ideia que é passada é que as pessoas conformam-se a seguir a norma: de se casarem, terem filhos, terem muitas coisas (objetos materiais). As pessoas deixam para trás os seus sonhos de quando eram jovens. Em vez de seguirem os sonhos, conformam-se. Daí serem infelizes.
Gostei bastante das críticas às linhas de “apoio ao cliente”.
Quando se tenta cancelar algo, é-se recebido com desdém e complicações: o apoio ao cliente não apoia, dificulta ao ponto de quase ameaçar os clientes.
Os extraterrestres fazem o mesmo: quem atende diz que só trabalha ali e que ela (o cliente que quer cancelar) tem que falar com o supervisor… num ciclo interminável até à pessoa desistir do cancelamento.
Não entendi como os Kanamit têm uma raínha. Se existe uma raínha, alguém que está à parte do resto dos Kanamit, então eles não têm uma mente única, mas têm algumas individualidades dentro da sociedade deles.
Talvez sejam como as abelhas: trabalham em colectivo, mas têm uma raínha a liderá-los e a colocar os ovos.
Existe uma coisa que não faz qualquer sentido: se os Kanamit nos veem como alimento, não deveriam falar connosco. Afinal, somos muito inferiores a eles.
Eu também não falo com os camarões que como ao almoço…
Mas se formos como animais de estimação para eles, então já faz mais sentido. Porque eu falo com o meu cão. Mas a verdade é que cães e gatos também foram (ainda são) considerados alimento em algumas culturas.
Este é um excelente episódio!
Últimos comentários