Seguindo a sugestão de um dos leitores do AstroPT, aqui fica uma dica musical: a música ’39.
“’39” é uma canção atípica no repertório da banda Queen, pois, além de ser basicamente acústica, descreve a história de um homem que viaja numa nave com velocidade próxima à da luz, fazendo alusão à Teoria da Relatividade de Einstein.
Segundo Brian May (que tem doutoramento em astrofísica), em uma entrevista cedida à BBC, é basicamente uma ficção científica inspirada na obra do poeta e romancista alemão Hermann Hesse.” (vide wikipedia)
”
In the year of ’39 assembled here the volunteers
In the days when lands were few
Here the ship sailed out into the blue and sunny morn
The sweetest sight ever seen
And the night followed day
And the story tellers say
That the score brave souls inside
For many a lonely day sailed across the milky seas
Ne’er looked back, never feared, never cried
Don’t you hear my call though you’re many years away
Don’t you hear me calling you
Write your letters in the sand
For the day I take your hand
In the land that our grandchildren knew
In the year of ’39 came a ship in from the blue
The volunteers came home that day
And they bring good news of a world so newly born
Though their hearts so heavily weigh
For the earth is old and grey, little darling, we’ll away
But my love this cannot be
For so many years have gone though I’m older but a year
Your mother’s eyes, from your eyes, cry to me
Don’t you hear my call though you’re many years away
Don’t you hear me calling you
Write your letters in the sand for the day I take your hand
In the land that our grandchildren knew
Don’t you hear my call though you’re many years away
Don’t you hear me calling you
All your letters in the sand cannot heal me like your hand
For my life
Still ahead
Pity me
”
O nosso leitor Miguel Lopes adicionou excelentes comentários sobre esta música/letra, que nos esclarece sobre o tema da Relatividade:
“A canção parte do pressuposto de que o Tempo corre a velocidades diferentes consoante a velocidade a que se navega pelo espaço.
Nesse pressuposto, a canção imagina um grupo de viajantes que parte da Terra, para longe e depressa. Para eles o tempo parece passar normalmente, mas, na verdade, passa mais lentamente.
Na Terra, que deixaram, passa muito mais tempo do que lhes parece.
Esta é a história de um grupo de viajantes (os Voluntários) que no ano 39 partem da Terra para explorar um mundo distante, porque na Terra os recursos eram escassos (the days when lands were few).
Não é em 2039 ou 1939. É um qualquer ano 39 de qualquer século.
Partem no ano 39 e regressam no século seguinte, também no ano 39.
O regresso é no século seguinte (e não em séculos posteriores), porque é dito “Your mother’s eyes, from your eyes, cry to me”, ou seja, o narrador vê nos olhos de alguém o mesmo olhar da pessoa que deixou na Terra e já morreu. Assim, teriam passado somente 2 ou 3 gerações.
E quando regressam, tudo mudou.
Apesar de na Terra terem passado cem anos, para os Voluntários, na sua nave, passou apenas um ano porque o tempo passou mais lentamente (so many years are gone though I’m older but a year).
Esta diferença de correr do tempo é ilustrada na estrutura da própria música. Enquanto as músicas comuns têm uma primeira parte, depois uma segunda muito semelhante, depois o refrão seguido do solo, de guitarra ou outro instrumento, esta canção tem apenas uma quadra e refrão e logo a seguir o grande solo, simulando o tempo que está a correr.
Antes desse solo é a parte em que eles partiram para o espaço (In the year of ’39 […] the ship sailed out into the blue). Depois desse solo é a parte em que os Voluntários regressam (In the year of ’39 came a ship in from the blue, The volunteers came home that day).
Quando os Voluntários regressam, o mundo que encontram é muito diferente (the Earth is old and grey) e desgostoso para eles (But my love, this cannot be), quando até vinham trazer boas notícias (they bring good news of a world so newly born).
Na Terra, passou tanto tempo, tanto mudou. Muitos dos que haviam lá deixado, morreram. Encontram agora apenas os descendentes e alguém vê nos olhos de uma pessoa o olhar de outra já desaparecida (Your mother’s eyes from your eyes cry to me).
Este passar do tempo a velocidades diferentes, e a incongruência que parece encerrar, é sublinhada na frase do ferrão em que o orador fala das coisas que os seus netos (que são futuro) em tempos conheceram, num qualquer passado (the land that our grandchildren knew).
A canção, que tem uma melodia alegre, termina com um tom muito triste.
O narrador encontra uma Terra cinzenta sem nenhuma das pessoas que deixou para trás. Ele está sozinho no mundo, não tem consolo (All your letters in the sand cannot heal me like your hand). Ele sabe que o resto da sua vida será assim, e só espera que alguém tenha misericórdia por ele (For my life, still ahead, pity me).”
Após a excelente análise, o mesmo Miguel Lopes partilhou esta imagem para se compreender visualmente a ligação da canção à relatividade:
Últimos comentários