Investigadores no Reino Unido, na Universidade de Oxford, realizaram um enorme estudo com mais de 11500 pacientes hospitalizados (em mais de 175 hospitais diferentes) a quem foram administrados 6 medicamentos distintos.
2104 pacientes receberam o fármaco Dexametasona.
Os resultados foram bastante promissores.
A Dexametasona tornou-se o primeiro medicamento comprovadamente eficaz contra a COVID-19 em pacientes em estado (muito) grave.
Ao utilizar-se um tratamento com pequenas doses (1 comprimido durante 10 dias), conseguiu-se que este fármaco reduzisse em mais de 1/3 (35%) o risco de morte em pacientes ventilados (com ventiladores) e para 1/5 (20%) o risco de morte em pacientes com suporte de oxigénio.
Foi possível salvar 1 em cada 8 pessoas ventiladas que iriam morrer por COVID-19. Ou seja, em cada 8 pacientes que precisam de ventiladores, devido a este fármaco salva-se 1 vida.
Foi também possível salvar 1 em cada 25 pacientes que necessitam apenas de oxigénio.
Assim, este medicamento demonstrou diminuir significativamente a mortalidade.
Se este medicamento fosse utilizado desde o início da pandemia em doentes bastante graves, estima-se que poderia ter salvo 5000 vidas no Reino Unido.
Daí já ir ser utilizado nos hospitais britânicos.
Este foi um desenvolvimento importante, até porque este medicamento é bastante conhecido, de fácil acesso e muito barato.
É um corticóide usado em alergias, asma, artrite reumatóide, entre várias outras patologias. É também utilizado em inflações graves, como no pulmão.
É um fármaco que possui efeito anti-inflamatório e imunossupressor.
Aliás, substâncias com propriedades anti-inflamatórias, do grupo dos glicocorticóides, como existe no fármaco dexametasona, já são utilizadas em vários hospitais pelo mundo (incluindo em Portugal), em pacientes com a COVID-19 com um quadro clínico muito grave.
Assim, este estudo dá esperança para o futuro, sobretudo se existir segunda vaga.
Nesse caso, pode-se tentar tratar os doentes muito graves com este medicamento e assim salvar algumas vidas.
Apesar do estudo com Dexametasona ser bastante promissor, a verdade é que existem ainda várias limitações.
Alguns exemplos:
Este é um ensaio clínico inicial, com resultados preliminares.
São necessários mais estudos para demonstrar se estes resultados se comprovam.
Os detalhes completos da pesquisa ainda não foram devidamente publicados.
Assim, não existiu qualquer revisão pelos pares (não existiu peer-review).
Não existe qualquer revisão independente de outros grupos de investigadores (incluindo de outros países).
Só existe um “acreditar” no que os investigadores deste estudo dizem.
Ora, assim, não se está, ainda, na presença de conclusões científicas.
As conclusões científicas só existem após a revisão pelos pares, com todos os detalhes publicados.
Neste caso, pode existir algum deslumbramento académico, bastante aproveitamento político (pelo governo britânico) e demasiada publicidade nos media (que não querem saber do processo da ciência).
O tratamento com este medicamente demonstrou somente alguma, limitada, eficácia.
O medicamento só é eficaz em pacientes muito graves, que estejam ligados a ventiladores ou a precisar de assistência com oxigénio.
Além disso, a percentagem de pessoas “recuperadas” é baixa. Apesar de ser um avanço importante (porque se salvam algumas pessoas), será necessário fortalecer o nível de eficácia.
O tratamento utilizado tem que ser específico.
Neste caso, o que se sabe é que tem que ser dado sob certas condições e sob intensa supervisão médica.
Além disso, como em todos os tratamentos, tem que ser dada com uma dose certa. Essa dose pode ainda não ter sido conseguida de forma ideal.
Por outro lado, essa dose foi dada durante um curto espaço de tempo. Será que com mais dias teria um maior benefício ou não?
Não foram observados quaisquer benefícios em pacientes que não necessitam de auxílio respiratório.
O fármaco não é eficaz em doentes que não sejam graves. Em doentes menos graves (que estejam sem ventilação nem oxigénio assistido), este fármaco não tem resultados positivos.
Este medicamento só é eficaz em pacientes hospitalizados, nos cuidados intensivos, devido à COVID-19.
E isto é extremamente importante!
Este medicamento não é a cura! Ele não resolve a infeção!
Este medicamento também não previne a infeção pelo novo coronavirus.
Este fármaco não previne a infeção, contaminação ou transmissão da doença!
Assim, não deve ser usado em casa! Não deve ser tomado como prevenção da COVID-19! Pelo contrário! Se este medicamento for utilizado em casa pode aumentar a agressividade do vírus! Porque este fármaco diminui a resposta do sistema imunitário.
Há autoridades médicas de vários países que estão reticentes quanto a este medicamento.
A Coreia do Sul, por exemplo, alerta para possíveis efeitos secundários. Mesmo que o paciente grave não morra, pode ficar com sequelas adversas muito graves.
Vários médicos norte-americanos também estão muito cautelosos.
Note-se que este é o processo da ciência: vai-se descobrindo mais coisas, à medida que se vai estudando melhor a doença e os possíveis tratamentos.
Neste caso do medicamento Dexametasona, ele parece ser só eficaz para pacientes hospitalizados, em estado muito grave, e a precisarem de apoio respiratório.
Outros fármacos estão a ser fornecidos, para pacientes com estados mais leves da doença.
Por exemplo, o Remdesivir está a ser utilizado em alguns hospitais, antes dos doentes precisarem de ventilação mecânica.
Fonte: comunicado de imprensa da Universidade de Oxford
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