Falei do Dr. Gustavo Carona neste post, em que ele chama os negacionistas de criminosos.
Agora, li este artigo muito interessante, escrito por ele, e publicado no jornal Público.
O artigo é de Setembro de 2020, mas mantém-se atual em quase toda a sua totalidade.
Realço estes excertos:
“O querer acreditar é a maior força do ser humano. Quando a vontade é muita, somos capazes de acreditar nas coisas mais estúpidas e inverosímeis. E neste momento estamos a transbordar de vontade em acreditar em algo que nos livre deste pesadelo. (…) Mas há que resistir. Resistam. Resistam à tentação de querer saber mais do que a ciência. Estão a pôr em risco a vossa vida, dos vossos e de todos nós. É perigoso não resistir à vontade de acreditar em parvoíces. E como a desinformação se espalha mais forte e rapidamente do que o vento, não é fácil ter tempo para desconstruir todas as baboseiras que se dizem por aí.
1. A ciência aos cientistas. Eu não imagino que alguém se levante do seu lugar num avião a passar por uma tempestade e tente tirar os pilotos do cockpit: “Sai daí! Eu é que sei aterrar este AirBus 380 no meio desta tempestade.” É isto que estamos a presenciar. Doutorados em patetices a dizer que sabem mais do que toda a comunidade científica. (…) A ciência tem auto-regulação. Aceita o contraditório. Tem avanços e recuos, comete erros, mas aprende e evolui, e será sempre o mais perto da verdade que vamos estar.
2. “Morrem mais pessoas de cancro!” Sem dúvida, e mais ainda de doenças cardiovasculares. A mortalidade por doenças não-covid sem dúvida que subiu pelos danos colaterais do controlo da pandemia. Mas esta é uma forma simplista de olhar para um problema extremamente complexo. A pergunta que tem de ser feita é: quantas mais morreriam de causas não-covid, se a pandemia estivesse descontrolada? (…)
3. Dinheiro e felicidade. (…) o sofrimento colectivo que estamos a passar e a quebra da economia poderiam eventualmente ser maiores se fingíssemos que o vírus é apenas mais um e nos deparássemos com hospitais a transbordar de mortos. (…)
(…)
(…) peço-vos encarecidamente que não alimentem as campanhas de desinformação, conspiração e negação, porque estas são perigosíssimas e põem a vida das pessoas de que mais gostamos em risco. E ver gente a morrer não é bonito. Acreditem.
(…)
Há muita vontade em acreditar na estupidez. Resistam.”
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