Óxido de grafeno nas vacinas?

Esta é uma daquelas mentiras que já anda a ser partilhada pelos grupos negacionistas há meses.
Aliás, é uma das razões que as pessoas dão nas manifestações anti-vacinas.

Supostamente, as vacinas contém grafeno.
As razões que os conspiracionistas dão para isso são variadas: uns dizem que é para mudar o ser humano (torná-lo mais máquina), outros dizem que é para os governantes saberem onde estamos (como se não existissem telemóveis), outros dizem que é para ficarmos magnéticos, etc. Enfim…

Atualmente, esta mentira voltou a ser fortemente partilhada devido a uma suposta análise feita na Universidade de Almería, Espanha.

Vamos a factos:

A primeira coisa que gostaria de referir é que o grafeno é uma forma de carbono.
Os seres humanos, as casas, o planeta, etc, são todos feitos de carbono.
Por isso, fico sem entender os conspiracionistas: têm medo do carbono de que são feitos?
(só refiro isto, porque estou convencido que os negacionistas nem sabem que são feitos de carbono)

O segundo aspeto que gostaria de referir é que o grafeno não tem propriedades magnéticas.
Aliás, esta conspiração dos ímans, devido ao grafeno, já foi desmentida, porque tinha sido uma brincadeira em que os ignorantes negacionistas acreditaram. Já explicamos isso, aqui.

O terceiro e último argumento é que as vacinas não contém quaisquer nanopartículas de grafeno.
A lista de ingredientes das vacinas mostra que não contém nem grafeno nem óxido de grafeno.

Neste caso, o curioso é que as pessoas não sabem o que contém a coca-cola que compram no supermercado periodicamente. Mas continuam a beber.
Aliás, as populares aspirinas têm mais efeitos secundários que as vacinas, mas as pessoas não querem saber dos ingredientes das aspirinas. Como já foi explicado aqui, isto é paradoxal.

As pessoas tomam diariamente produtos sem saberem o que contém. E não se importam.
Mas depois falam de vacinas, e já querem saber dos ingredientes.

O mais interessante é que, no caso das vacinas, apesar de ignorarem o que contém, inventam/mentem sobre isso.
Se querem saber o que as vacinas contém, é simples: estudam, formam-se academicamente numa área biológica, e depois no vosso laboratório podem analisar o conteúdo de tudo o que quiserem, incluindo das vacinas.
Até fazerem isso, as pessoas não passam de crentes acríticos, que acreditam em qualquer disparate que lêem na internet.

Crédito: Pablo Campra

Recentemente, os ignorantes anti-vacinas andaram a acreditar e a partilhar um suposto estudo que mostrava que existia óxido de grafeno em vacinas.

Ora, esse estudo – que pode ser lido, aqui – foi feito por Pablo Campra.

Como mostrei há dias atrás, aqui, um estudo científico feito por uma só pessoa é provavelmente treta.
Na atualidade, os estudos científicos são feitos por equipas de cientistas. Quando é só uma pessoa, deve-se imediatamente desconfiar.

Neste caso, o estudo é só um artigo em PDF. Não foi revisto por pares. Não teve qualquer avaliação científica.

O autor, Pablo Campra, examinou uma amostra da vacina da Pfizer recorrendo a dois microscópios: um microscópio ótico e um microscópio eletrónico de transmissão.

E a conclusão a que ele chegou está na imagem acima: a observação que ele fez com os microscópios não mostrou qualquer evidência de óxido de grafeno (uma forma oxidada do grafeno).
Assim, ele concluiu que não encontrou evidências, mas também não pode descartar que existem mas que ele não tenha detetado.

É o mesmo que eu dizer: não vejo quaisquer fantasmas à minha volta. Mas não posso descartar que eles existem e que eu não os veja.
Quem diz fantasmas, diz fadas, gambuzinos, elfos, unicórnios voadores invisíveis, ou o Pai Natal.

Qualquer pessoa racional pensa: “ok, então a conclusão é: não existem evidências disso.”
Já os ignorantes negacionistas concluem: “Se ele não conseguiu encontrar evidências, então é porque elas existem.”

E depois ainda mentem, afirmando que ele encontrou evidências de grafeno, o que é absolutamente falso!
O próprio autor diz que não encontrou evidências!

A própria Universidade de Almería emitiu um comunicado a desmentir tudo isto!
A Universidade desmente que tenha sido um estudo feito pela Universidade (por um grupo de investigação). Foi só uma pessoa que decidiu observar uma amostra desconhecida de vacina, e não existiu uma avaliação por outros cientistas da Universidade.
E desmentiu as conclusões a que as redes sociais chegaram (e que são opostas ao que diz o artigo!).
A Universidade termina o comunicado ameaçando processar quem continuar a difundir esta mentira sobre a Universidade.

Fontes: Observador, Observador, Visão.

2 comentários

  1. Olá boa noite!
    Quanto às fake News, afirmo e responsabilizo-me pelas palavras que atribuo ao meu comentário. Pelos seus introdutórios, clickbait, e generalidade dos seus conteúdos (fake_News) são reais rubbish bin. Incrível em 2021 ainda existirem crentes dessas tretas e no caso atual em que vivemos de pandemia mais lamentável se torna os seus crentes arriscam as suas próprias vidas em textos em nada baseados em factos e mal escritos. Fake News? Nunca as denominarei de notícias porque realmente não o são.
    Mais lamentável de tudo é de facto vivermos em democracia, mas, como ela pode, deixa e deve permitir vazar para todas as plataformas digitais e de igualmente forma pelas TVs? Mentiras mais ou menos formuladas na forma a que os menos astutos saibam e como se desenrascarem como o bom português afirma, procurarem se essas pseudoinformações são ou não de facto reais? Se estão ou não a serem enganados? Bem! Difícil não é mas dá um pouco de trabalho, mas lá se chega a, tal e qual a este site de Informação e Educação Científica que já acompanho à alguns anos! Ok! Onde quero eu chegar? Simples, como todos sabemos há décadas que os políticos, venham de onde vierem, de que Nação vierem, de que parte mais remota do Planeta vierem limitam-se a fazerem o que melhor sabem, demagogia, criação e alteração de impostos e para resumir a mais inaceitável postura de corruptos. Bem! Nem sequer vou aqui mencionar nada com relação à ultima cimeira do Clima porque essa???? 🙁 O meu foco é, porque é que os governantes e definitivamente não se proponham de forma humildade, verdadeira e real enfrentarem que, as fake-News são uma ameaça para as sociedades? As Fake News são uma real ameaça à existência individual e humana já que vivemos uma Pandemia e ela mata de verdade? A questão é! Porque não Criminalizar e Proibir toda e qualquer forma de mentira? Porque não catalogar esses propagadores de falsas noticias de Genocidas? Já que a classe política tem peito para ordenar o encerramento de negócios porque também não têm peito para efetivarem a obrigatoriedade dos planos vacinais contra a Covid19 nas populações????
    Agora revelo um sonho meu de criança e atualmente já entro na porta dos 50 e que ainda o vivo e amava ver concretizado no meu tempo de vida! Não sou Cientista, mas amava tê-lo sido, vivi toda a minha vida a amar a Ciência em todas as suas especialidades ou áreas sejam quais forem eu amo a Ciência e ela até hoje provou-me a sua verdade e realidade e julgo legitimo fazer aqui uma breve nostalgia de escola, Alexander Fleming o “Pai” da Penicilina para dar um exemplo. Sem ele hoje não seriamos os quase 8.000.000.000 de seres humanos e sem qualquer dúvida, o meu Obrigado a Alexander Fleming.
    O que pretendo agora e para concluir e revelar o meu sonho de criança é! Na vez de Políticos comuns, com licenciaturas “convencionais” e que de acrescento às sociedades já demonstrado de que de valor é pouco e por vezes apenas para declararem Guerras inúteis que de nada trazem de valor à Humanidade, porque não, toda a comunidade Científica Global e com todo o respeito deixarem de apenas esperarem desta classe atual de políticos os fundos, apoios ou capitais para a concretização das investigações Científicas? Porque não se candidatarem? Porque não os substituírem? Por uma classe composta pelas várias áreas e comunidades Científicas ao nível Planetário e reestruturarem toda a Politica Social, Ambiental ou melhor para resumir, Porque não uma sociedade Planetária Governada por Cientistas que criem Valor ao Planeta Terra e a toda a sua Biosfera? Isso sim seria o maior avanço civilizacional de toda e sem exceção Humanidade! Talvez aqui nos situaríamos em uma sociedade Planetária de nível 3 se não cometo erro.
    Ao Dr. Carlos Alberto deixo o meu mais elevado sentido orgulho de o conhecer, de me(nos) permitir ter acesso à divulgação Cientifica e verificar que luta para tentar balancear e preferencialmente superiorizar a verdade Científica sobre a falsas informações!
    De mim, uma vez mais muito obrigado!

    1. Boa noite Marco,

      O seu comentário tem várias questões interessantes.

      Vou-lhe dar a minha visão/opinião (sendo opinião, é obviamente falível, e não quer dizer que seja o certo).

      Os políticos criminalizarem as fake news poderia dar problemas…
      Por exemplo, há 4 anos atrás, na era de Trump nos EUA, se existisse essa lei, tenho a certeza que Trump criminalizaria todas as notícias que falassem mal dele.
      O grande problema é esse: quem está no poder, poderia utilizar essa lei de uma forma bastante assustadora.

      Quanto a cientistas no poder:
      Já temos/tivemos alguns. Merkel na Alemanha é, provavelmente, o caso atual mais conhecido. Ela formou-se em química quântica e foi investigadora alguns anos.
      Mas lembro-me também do Mariano Gago, que tanto fez pela ciência em Portugal.

      O problema dos cientistas em política é o mesmo das pessoas comuns: em ciência, é mais fácil discernir o correcto (com experiências científicas), é mais fácil tirar conclusões objetivas. A política depende de ideologias, que são subjetivas. Assim, vai depender muito do que a pessoa pensa sobre o assunto (opinião) e não tanto sobre a investigação de algo (para termos factos).
      Além disso, a política depende de muita politiquice, de muitas ferramentas sociais (aliadas a cinismo, hipocrisia, diplomacia, etc), que os cientistas não são experientes.

      A política também depende muito de convencer as pessoas a votarem em nós.
      Para isso, mente-se bastante e fazem-se muitas promessas ôcas.
      Ora, isto são comportamentos sociais a que os cientistas são avessos.
      Eu sou muito direto, por exemplo, como pode comprovar aqui em muitas respostas minhas a comentários.
      Ninguém iria votar em mim, se eu começasse a dizer as verdades às pessoas… porque as pessoas gostam de fábulas. Faz parte da psicologia humana.

      Por outro lado, se não existir equilíbrio e só existir ciência, perdem-se outras dimensões do ser humano.
      Nas décadas antes do Homem ir à Lua (em 1969), toda a estrutura americana foi moldada para esse feito.
      Assim, na década de 1950, por exemplo, foram colocados cientistas, engenheiros, etc, em posições de poder em vários departamentos.
      Uma coisa que foi mudada nessas décadas, é que praticamente todo o dinheiro da educação ia para áreas científicas e de engenharia.
      Quem ficou a perder nessas décadas foram artistas, por exemplo. Praticamente não havia financiamento das artes, porque todo o $$ era canalizado para as ciências.
      No final, conseguiu-se um grande feito científico. Mas perderam-se outras coisas.
      Valeu a pena? Para mim, sim!
      Mas se calhar alguns artistas da altura (incluindo alunos, potenciais artistas que se perderam) pensam que não.

      Os assuntos sociais são sempre muito complexos… 😉

      abraço!

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