A NASA divulgou finalmente as fantásticas primeiras imagens feitas pelo Telescópio Espacial James Webb.
Podem ver as imagens (e demais ciência) que vão saindo do James Webb, aqui.
Como já tínhamos escrito neste artigo, iríamos hoje ter acesso às fabulosas imagens (além de espectros e demais informação relevante) de 5 objetos cósmicos.
Podem ver a transmissão da NASA, aqui, e ler a transcrição do que foi dito, aqui.
A primeira imagem veio da direção de SMACS 0723, como escrevemos ontem aqui.
O telescópio apontou para um local do céu do tamanho de um grão de areia (visto da Terra). Nessa direção está o aglomerado de galáxias conhecido como SMACS 0723: o local onde, por lente gravitacional, grandes aglomerados de galáxias em primeiro plano ampliam e distorcem a luz dos objetos atrás deles, permitindo-nos ver galáxias muito distantes.
A imagem mostra o SMACS 0723, como ele era há 4,6 mil milhões (bilhões, no Brasil) de anos atrás – quando o planeta Terra estava a começar a formar-se. Lembro que olhar para o Universo corresponde a olhar para o passado: quando vemos o Sol, vemos como ele era há 8 minutos, que foi o tempo que a sua luz levou a chegar até nós.
Devido à enorme massa combinada de todo o aglomerado, ele atua como uma lente gravitacional, permitindo ver galáxias muito distantes por “trás dele” (da nossa perspetiva). Além dessas galáxias muito distantes, também é possível ver aglomerados estelares e outros objetos cósmicos difusos.
Notem como a luz das galáxias distantes aparece curvada pela lente cosmológica, tal como é explicado pela Teoria da Relatividade, de Einstein.
Bill Nelson, administrador da NASA, disse durante o evento que a luz de algumas daquelas galáxias distantes demorou mais de 13 mil milhões (bilhões, no Brasil) de anos a chegar até nós.
Assim, estamos a ver centenas/milhares de galáxias, tal como elas eram quando o Universo era jovem.
Esta fotografia funciona como uma máquina do tempo, para estudarmos o Universo jovem.
Agora, os astrónomos irão estudar várias dessas galáxias avistadas pela primeira vez, tentando perceber as suas massas, idades, historial e composições.
Realço que a partir de agora é que vai começar o verdadeiro estudo dessas galáxias.
Por exemplo, o instrumento NIRSpec (espectrógrafo no infravermelho próximo) já observou 48 galáxias individuais distantes, e analisou a sua composição.
Uma das galáxias está a 13,1 mil milhões de anos-luz de distância.
Apreciem a diferença entre a imagem atual e a imagem que tínhamos anteriormente da mesma zona do céu:
I had to make a before and after to really appreciate how good the James Webb Telescope really is. pic.twitter.com/dj0HL8XGaZ
— Jason Short (@jason4short) July 11, 2022
Outra das imagens é do Quinteto de Stephan: um grupo de cinco galáxias, na direção da constelação Pegasus.
4 das 5 galáxias (NGC 7317, NGC 7318A, NGC 7318B, e NGC 7319) estão a realizar uma dança gravitacional em conjunto, a cerca de 290 milhões de anos-luz de distância da Terra.
A outra galáxia (mais à esquerda), NGC 7320, está na mesma linha de visão (a partir da Terra), mas está a “somente” 40 milhões de anos-luz de distância.
Devido a ver em luz infravermelha, o Telescópio James Webb consegue ver os detalhes produzidos pela fusão/interação de galáxias.
Por isso, pela primeira vez consegue-se ver os detalhes impressionantes da formação estelar causada pela “colisão” gravitacional das galáxias e como essa colisão perturba o gás das galáxias.
Na imagem, existem milhões de jovens estrelas e inúmeros berçários explosivos de estrelas.
A imagem também mostra em detalhe um fluxo de gás impulsionado por um buraco negro no Quinteto.
A galáxia mais acima na imagem, NGC 7319, tem um buraco negro supermaciço no seu centro. Esse buraco negro tem 24 milhões de vezes mais massa que o Sol e tem uma luminosidade 40 mil milhões de vezes superior ao Sol.
Podem comparar esta imagem, com a que foi tirada pelo Telescópio Espacial Hubble, aqui.
A do Hubble parece mais bonita, mais “limpa”, mas a do Webb mostra muitos mais detalhes.
Outra imagem foi da Nebulosa Carina.
Esta nebulosa, que se encontra a cerca de 7600 anos-luz de distância da Terra, abriga algumas das estrelas mais maciças e brilhantes da nossa Galáxia.
As nebulosas são berçários estelares.
Esta imagem permite ver jovens estrelas individuais que antes estavam escondidas pelo gás e poeira da nebulosa.
Na verdade, esta imagem mostra uma pequena parte próxima da Nebulosa Carina: uma região de formação estelar chamada NGC 3324, que contém muitas estrelas jovens.
Os “picos” mais altos de poeira nesta imagem, correspondem a 7 anos-luz!
A intensa radiação ultravioleta e os fortes ventos de jovens estrelas maciças, esculpem e erodem o gás e a poeira nas “paredes da caverna”.
Podem comparar esta imagem, com a que foi tirada pelo Observatório de La Silla no Chile, aqui.
A última imagem divulgada pela NASA diz respeito à Nebulosa do Anel Sul, também chamada de NGC 3132.
Esta nuvem de gás rodeia uma estrela moribunda.
Esta nebulosa planetária em expansão está a cerca de 2500 anos-luz de distância da Terra.
As 2 imagens foram feitas por duas câmeras diferentes no telescópio: a imagem da esquerda foi feita pela NIRCam (Near-Infrared Camera), e a imagem da direita foi feita pela MIRI (Mid-Infrared Instrument).
Perto do centro da nebulosa vemos duas estrelas numa dança gravitacional.
A estrela mais fraca é a responsável pela nebulosa planetária. Era uma estrela como o Sol que após a fase de gigante vermelha tornou-se numa anã branca, ejetando as suas camadas exteriores.
No entanto, a forma assimétrica da nebulosa é causada pelas interações gravitacionais entre as duas estrelas.
A estrela mais brilhante irá, no futuro, também ejetar as suas camadas exteriores e tornar-se numa nebulosa planetária.
Note-se que nessa altura, esta nebulosa planetária atual já não existirá, já que o gás e poeira da nebulosa irá gradualmente dissipar-se no espaço cósmico.
Curiosamente, os pontos de luz nas imagens não são estrelas, mas sim galáxias distantes.
Tal como a imagem anterior nos permitia entender melhor as fases iniciais de uma estrela, esta imagem permite-nos entender melhor as fases finais de uma estrela.
Podem comparar esta imagem, com a que foi tirada pelo Telescópio Espacial Hubble, aqui.
Quanto ao planeta WASP-96b, tivemos acesso ao seu espectro.
O extraordinário espectro produzido, está baseado na análise de 280 espetros individuais.
O enorme planeta extrassolar WASP-96b é um gigante gasoso, que orbita muito próximo da sua estrela (que é similar ao Sol). Ele encontra-se a cerca de 1150 anos-luz de distância da Terra.
Não se tem imagens deste planeta, obviamente. Os planetas são muito pequenos – muito mais pequenos que estrelas ou gigantescas galáxias. O Telescópio tem por objetivo ver objetos grandes muito longe. Além de que os espetros planetários dão muito mais informação do que somente olhar para um planeta.
Neste caso, o telescópio conseguiu detectar água (vapor), e pela primeira vez detectou evidências de nuvens e neblina na atmosfera deste exoplaneta.
Este planeta não é similar a nenhum dos que existe no nosso sistema solar.
Ele tem menos de metade da massa de Júpiter, mas tem um tamanho 20% superior a Júpiter. Assim, WASP-96b é um planeta “inchado” (puffier).
O planeta tem uma órbita muito próxima da sua estrela: está 9 vezes mais próximo da estrela do que Mercúrio está do Sol. O ano deste planeta dura somente 3,4 dias terrestres.
Devido a isto, a sua temperatura é de cerca de 540ºC.
Por último, realço que isto são só as primeiras imagens!
A verdadeira ciência e as fotografias deslumbrantes vão começar a aparecer a partir de agora.
Como comparação, o Telescópio Espacial Hubble, quando chegou ao espaço em 1990, foi uma desilusão!
Após consertarem o telescópio, mesmo assim, a primeira imagem do espaço profundo feita pelo Hubble só foi divulgada em 1996. Podem ver a fotografia, aqui. Não tem nada a ver com as fotografias deslumbrantes que nos habituamos a associar ao Telescópio Espacial Hubble.
Tal como no caso do Telescópio Hubble e de outros telescópios, estas são só as primeiras fotografias. Normalmente, estas são algumas das “piores” imagens no computo geral de todo o trabalho do telescópio: são aquelas de que nunca mais nos vamos lembrar.
E se estas são as “piores”, imaginem aquelas que estão para chegar…
Muitas mais e melhores fotografias estão para acontecer nos próximos 20 anos!
Além disso, veja-se a quantidade de conhecimento científico que o Hubble nos permitiu ter nos últimos anos. Esse conhecimento era inimaginável há 25 anos atrás.
Se o Telescópio James Webb nos der tanto conhecimento como deu o Hubble, daqui a 20 anos estaremos a viver num “universo diferente”, ou melhor, teremos um conhecimento muito maior do Universo do que temos agora.
Mantenham-se atentos!
1 comentário
É impressionante!