Pacientes abandonados pela neuro-tecnologia

Crédito: Nature

A Nature publicou um artigo excelente, da autoria do biólogo e reconhecido jornalista em questões de investigação biomédica e de neurociência, Liam Drew.

O artigo explica o custo humano dos falhanços económicos da indústria de neuro-tecnologia.

Passando a explicar:

Existem pessoas que precisam de implantes eletrónicos para sobreviver e/ou para viverem uma vida com muito menos sofrimento (com menos dores).
Há problemas de saúde que não conseguem ser debelados com comprimidos ou outras terapias: a única coisa que funciona são dispositivos eletrónicos. Sem eles, as pessoas sucumbiriam ao sofrimento diário.
Assim, estes dispositivos são vitais para algumas pessoas.

Além de por vezes existir gestão danosa em start-ups que desenvolvem tecnologia de ponta, o grande problema geral a todas as empresas é que o mercado para estes dispositivos é pequeno.
As empresas que desenvolvem estes aparelhos médicos especializados num determinado problema, investem imenso dinheiro em pesquisa e posterior criação dos aparelhos.
Ao não conseguirem vender aparelhos suficientes para compensarem os seus gastos, por vezes estas empresas abrem falência… abandonando os seus projetos.

Como não existem competidores com a mesma tecnologia (e não existem alternativas com a mesma capacidade), então os pacientes vêem-se num enorme problema na altura em que os aparelhos precisam de manutenção: e sendo aparelhos eletrónicos, precisam periodicamente de manutenção, desde mudar uma pilha, consertar uma ligação ao aparelho, substituir o aparelho que se estragou, etc.

As pessoas ficam, assim, com implantes obsoletos no seu corpo.
E aqui surge um novo problema: mesmo que queiram retirar o aparelho eletrónico, os pacientes têm que se submeter a uma cirurgia invasiva e pagar por ela. Sabendo que o melhor resultado (sobrevivendo), é voltarem a ficar com imensas dores para o resto da vida.

Apesar de todos os médicos, investigadores e engenheiros entrevistados pela Nature defenderem que as pessoas precisam de ser protegidos contra os falhanços económicos das empresas que desenvolvem estes aparelhos médicos sofisticados, a verdade é que é muito difícil obrigar empresas privadas a pagarem os custos de manutenção quando estão falidos.

Apesar de existirem discussões éticas sobre esta questão (os pacientes são deixados ao abandono e a sofrer), elas não têm conseguido eliminar o problema.

Uma das soluções para este problema poderá ser a estandardização dos componentes dos aparelhos (como aconteceu com os pacemakers cardíacos): desta forma, sempre que seja preciso substituir um componente, outra empresa pode fazê-lo.
Uma outra solução apresentada, mais radical, é tornar estes aparelhos de neuro-tecnologia de uso livre (open source). O problema disto é que as empresas não estão dispostas a largar os lucros com as patentes que criam.

Qualquer que seja a solução encontrada, alguma coisa vai ter que se fazer, de modo a não abandonar as pessoas que utilizam estes implantes neurológicos que transformam as suas vidas.

Leiam todo o artigo, em inglês, aqui.

2 comentários

    • Jonathan Malavolta on 24/02/2023 at 17:56
    • Responder

    Desenvolver projetos de pesquisa nas áreas da eletrônica e da programação tem sido uma de minhas metas, inclusive há anos venho pensando em produzí-las no modo open source. Infelizmente ainda me faltam o laboratório e a oficina para desenvolvimento e produção destes recursos mas imagino que em poucos anos já terei eliminado esse transtorno e poderei dar início ao projeto (que por enquanto não existe fora da minha imaginação).

    1. Tem que tentar concorrer a projetos de investimento 😉

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