Chris Wallace é um conhecido/famoso jornalista nos EUA.
Durante muitos anos ele foi a voz da moderação na televisão FOXnews.
Agora, ele tem um programa de entrevistas na CNN, chamado Who’s Talking to Chris Wallace.
Há cerca de um mês, ele entrevistou o famoso astrofísico e comunicador de ciência Neil deGrasse Tyson.
A entrevista foi interessante.
Wallace descreve Tyson como um pop-scientist: um cientista que faz parte da cultura popular.
Tyson descreve o que um alienígena diria caso viesse à Terra.
Tyson diz que o alienígena veria que uma espécie se tinha espalhado pelo planeta. Mas isto é enganador: muitas espécies estão espalhadas pelo planeta, quer em terra quer no mar. Tyson fala como se os Humanos fossem especiais, como se fossem a única espécie que o conseguiu, mas é mentira.
Depois, Tyson diz que o alienígena repararia nas linhas que os Humanos desenharam na Terra, a delimitar os seus países. Mas essas linhas não existem. Pelo contrário, um alienígena não veria quaisquer linhas delimitadoras a partir “de cima”.
Tyson diz que é muito provável que exista vida (microbiana) noutros planetas, tendo em conta que: a vida desenvolveu-se muito rápido na Terra, os elementos constituintes da vida existem por todo o Universo, e a quantidade de planetas que existem na nossa Galáxia.
Seria muito surpreendente não existir vida fora da Terra.
Tyson fala das cartas de ódio que recebeu por ter participado na “despromoção” de Plutão: deixou de ser considerado um planeta principal, para ser categorizado como um planeta-anão.
Tyson explica alguma das razões para que Plutão não seja um planeta principal e compara-o a um cometa: tem uma órbita inclinada e tem gelo (de azoto) em mais de metade do seu volume (se Plutão estivesse na órbita da Terra, o calor solar evaporaria o gelo de Plutão e Plutão ficaria com uma cauda).
Depois, Tyson explica como é importante para a comunidade negra, mas também para a comunidade branca, existirem pessoas negras e atléticas, que escolhem ser académicos e são diretores de museus de ciência: isso faz com que as pessoas questionem as pré-conceções identitárias que têm: sendo um homem negro, alto, atlético, vindo do Bronx, as pessoas metiam-no na “caixa” de que ele só iria para a universidade se tivesse uma bolsa de atleta.
Para mim, a pior frase de Tyson foi quando ele disse: “I didn’t choose the universe, the universe chose me”.
O grande problema é que esta frase foi utilizada dezenas de vezes como teaser, para promover esta entrevista no programa de Chris Wallace.
Ora, esta é uma frase que promove o geocentrismo psicológico, que está em oposição ao Princípio da Mediocridade que rege a astronomia desde Galileu. Esta frase dá a entender que Tyson é muito importante no Universo, ao ponto do Universo o escolher a ele (e o Universo ter consciência para isso).
A verdade é que somos irrelevantes no Universo. Tyson escolheu a astronomia como a sua paixão. Mas o Universo está-se nas tintas se o estudam ou não. O Universo até se está nas tintas se existem Humanos ou não. O Universo já existia antes de haver humanos num grão de poeira chamado Terra, e vai continuar a existir durante gaziliões de anos após já não existirem quaisquer humanos em lado nenhum no Universo.
Podem ver toda a entrevista, na CNN:
4 comentários
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Muito boa a tua resposta, muito detalhada, bem fundamentada e faz sentido. Mas insisto que somos relevantes no Universo sim.
Teu exemplo do micróbio é excelente porque , de facto, na maior parte das vezes não dás por isso. Mas um belo dia apareces com tosse, constipação e febre. Ou seja um organismo antes insignificante para ti, encontrou uma forma de evoluir e expandir no teu corpo.
A Terra tem milhões de anos e o ser humano ,mesmo estando cá por uns míseros milhares de anos, já faz sentir o seu inpacto na Terra, por exemplo, causando degelos nos Polos!
Tal como o micróbio estamos expandindo e evoluíndo no Universo. O nosso peso no Universo já foi mais irrelevante do que é hoje. Vê só como passamos da dificuldade em fazer fogo e agora estamos a usar matemática para simular o Universo nos nossos computadores. Imagina daqui a uns milhões de anos onde e como estarão os humanos.
Abraço
Author
“(…) um organismo antes insignificante para ti, encontrou uma forma de evoluir e expandir no teu corpo.”
Sim, para mim, que sou irrelevante no Universo. 😉
Esse micróbio continua a ser irrelevante no Universo. Alguém que viva no planeta XPTO continua a não saber do micróbio. Ele só foi relevante durante 0,000000000000000…. etc… % do tempo do Universo para um outro ser irrelevante.
É o mesmo que um micróbio afetar uma formiga. Continua a ser irrelevante para mim e para todo o Universo 😉
“já faz sentir o seu inpacto na Terra”
Sim, e se desaparecermos amanhã, a Terra vai continuar a viver bem e regenerar-se rapidamente. Não temos o impacto que pensamos. Temos impacto para a nossa estadia; nada mais.
Mesmo as nossas construções não duram mais que alguns milhares de anos.
A questão é que milhares de anos são irrelevantes, em gaziliões de anos 😉
Não sei como estarão os Humanos dentro de alguns milhões de anos. Espero que muito mais evoluídos do que hoje. A todos os níveis.
Mas estamos a falar de ordens de grandeza enormes. Se subirmos uma ordem de grandeza, é excelente, mas continua a ser irrelevante.
Fizemos fogo num minúsculo pedaço de poeira, irrelevante, no Universo.
Mesmo que nos tornemos numa civilização tipo 3 na escala de Kardashev (neste momento, nem 1 somos), conseguiríamos manipular e consumir a energia de toda a galáxia. Mesmo assim, ainda só andaríamos pelo grupo local.
O Universo é muito maior do que isso…
https://www.astropt.org/2009/12/15/tamanho-do-universo/
abraço!
As pessoas que não votam em eleições também acham que o voto de uma pessoa é irrelavante.
Acho um exagero dizer que somos irrelevantes para o Universo. Sendo assim podes dizer que o sol é irrelevante para o Universo ou se tirares uma galáxia também não faz diferença. Mas repara que se retirares todas as partes irrelevantes do Universo aí o Universo deixa de existir.
Pode não parecer mas somos relevantes para o Universo porque também somos parte do Universo.
Author
Este debate é interessante.
É ideológico, de filosofia da ciência, mas também tem muito a ver com o ego dos Humanos (que eu chamo de geocentrismo psicológico).
A diferença na ordem de grandeza entre nós no Universo, ou uma pessoa nas eleições, é enorme 😉
O Princípio da Mediocridade diz-nos que não temos qualquer lugar especial no Universo. É um Princípio que desde Galileu tem vindo sempre a ser reforçado. Cada vez que temos mais conhecimento sobre uma determinada matéria, percebemos que somos cada vez menos especiais. Por exemplo, Darwin e Einstein reforçaram isso.
Sim, o Sol é irrelevante no Universo. O Sol é uma pequena estrela, sem qualquer relevância. É uma de gaziliões e gaziliões de estrelas, muitas delas já morreram, outras ainda irão nascer. Existir o Sol ou não, é absolutamente irrelevante. As outras continuariam a fazer o Universo.
O mesmo para uma qualquer galáxia, sim.
“se retirares todas as partes irrelevantes do Universo aí o Universo deixa de existir.”
De acordo. Mas lá está: se retirar todas as partes *irrelevantes* 😉
No entanto, o Universo continuaria a existir. O Universo não precisa de ter planetas, estrelas ou galáxias para existir. Muito menos precisa de Humanos.
“Pode não parecer mas somos relevantes para o Universo porque também somos parte do Universo.”
Isso já me parece uma frase dos livros de auto-ajuda 😀
Sim, somos parte do Universo. Como um determinado micróbio faz agora parte de mim. Mas amanhã já não fará. E na semana passada, esse micróbio nem existia. O micróbio é relevante para mim? Não. Nem o conheço, nem sequer sei que existe. É-me irrelevante ser o micróbio X ou Y.
Finalizo com o que eu disse no post: o Tyson pode não gostar, mas é irrelevante no Universo. O Universo não quer saber se durante 0,000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000001% da idade do Universo existiu um ser nano-microbiano (para a grandeza do Universo) que achava que era especial para esse Universo.
abraço!