O astrofísico Jeffrey Baumgardner criou alguma celeuma na comunicação social ao dizer que o lançamento de foguetões por parte de Elon Musk provoca buracos na ionosfera.
A ionosfera é “a camada da atmosfera que se localiza entre 60 km e 1000 km de altitude e é composta de iões e plasma ionosférico” (in wikipedia).
A ionosfera “é uma das camadas da atmosfera característica por sofrer ionização da radiação solar. Assim, ela é bastante ativa e seu tamanho diminui conforme a energia que absorve do Sol.”
Falcon 9 exhaust trail drifting across the Milky Way Wednesday night. This was not an obvious visual sight by this point and really relied on the camera to bring it out. San Francisco Peaks and Flagstaff light dome providing a landing point for the Milky Way down there. pic.twitter.com/0zVIuLliRA
— Jeremy Perez (@jperez1690) July 21, 2023
Apesar de parecerem, isto não são auroras boreais…
Após o lançamento do foguetão Falcon 9, da SpaceX, no passado dia 19 de Julho, o fotógrafo Jeremy Perez fez esta imagem dos efeitos desse lançamento na atmosfera (imagem em cima).
Jeremy disse que este fenómeno ficou visível durante cerca de 20 minutos, e afirmou também que o brilho fluorescente vermelho expandiu-se “para Sul”, tendo “cruzado a Via Láctea”.
Esse brilho vermelho é o tal “buraco” na ionosfera, devido aos iões de oxigénio reagirem com os eletrões dos gases de escape do foguetão.
Interesting effects with the Vandenberg launch tonight. Sliver of sunlit backlighting as it popped in and then sailed back out of that. Fluorescent exhaust trailed beyond that. From north of Flagstaff. 8 sec exposure. You can see thin trail of the vehicle at tip of the red arc. pic.twitter.com/qnPvLFGuEL
— Jeremy Perez (@jperez1690) July 20, 2023
Em entrevista ao conhecido website Spaceweather, aqui, o professor Baumgardner disse que quando os foguetes queimam os seus motores cerca de 250 quilómetros acima da superfície terrestre, é provável que nessa altura o foguetão utilizado por Elon Musk provoque fendas ionosféricas. Ou seja, durante o seu lançamento, o foguetão abre um buraco na ionosfera.
Obviamente, quanto mais foguetões forem lançados, mais ruturas ionosféricas se abrem.
No entanto, o cientista disse que estes “buracos” são temporários: quando o Sol nasce, a sua radiação torna a reionizar essa zona atmosférica, efetivamente fechando o “buraco”.
Na verdade, não é um “buraco” físico como estamos habituados. Simplesmente, existe uma diminuição da densidade ionosférica, ficando mais ténue.
À noite, sem a radiação solar, essa diminuição ionosférica é real. Essa diminuição é diária, natural e estende-se à parte noturna da atmosfera terrestre. Notem que a ionosfera não deixa de existir! Mas devido à diminuição da ionização pelo Sol, então essa camada ionosférica na atmosfera vê a sua densidade reduzir: fica mais ténue.
Já a diminuição provocada pelo Falcon 9 é criada pelos Humanos, é súbita e é concentrada no local do lançamento do foguetão. Durante o lançamento, os gases expelidos pelo foguetão (água e dióxido de carbono) reduzem a formação de partículas carregadas até 70%, e as ondas de choque provocadas pela velocidade do foguetão causam perturbações na camada de iões e plasma.
Os efeitos reais para os Humanos são a nível das comunicações rádio, podendo até levar a erros nos sistemas de GPS.
Um estudo científico (aqui), de 2008, já tinha mostrado que o lançamento de foguetões provoca enormes “buracos” na ionosfera, que se mantém durante algumas horas.
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