Entrevista que fiz ao Carlos Oliveira sobre astrobiologia para o Diário de Coimbra.
Numa altura em que a capacidade da Humanidade, em observar o Universo longínquo, tem permitido encontrar planetas com características análogas às do nosso planeta, efectuei uma entrevista a Carlos Oliveira, astrónomo e comunicador de ciência português que lecciona um curso inovador de Astrobiologia na Universidade do Texas (Estados Unidos da América).
António Piedade – De que é trata a astrobiologia?
Carlos Oliveira– É o estudo da vida no Universo. Por todo o Universo, incluindo na Terra, e por todo o tempo (passado, presente e futuro). Donde vimos? Para onde vamos? Estaremos sozinhos? Que condições deverão existir para a vida tal como a conhecemos? Que tipo de vida pode existir sob certas condições? São estas algumas das perguntas que a astrobiologia faz.
António Piedade – Quem é que utilizou pela 1ª vez o termo astrobiologia?
Carlos Oliveira – A astrobiologia é uma ciência que funciona como um “guarda-chuva” de ciências. Pode-se argumentar que desde sempre as pessoas imaginaram vida pelo Universo… a que chamaram deuses. Pode-se pensar que Anaxagoras, há 2500 anos atrás, falou na panspermia – de que a vida na Terra veio do espaço. No entanto, ao longo dos séculos, a argumentação a sustentar a astrobiologia era religiosa. No Renascimento, a ideia de vida pelo Universo recebeu novo impulso, com a injecção de novas ideias por Giordano Bruno e outros. No entanto, continuou tudo muito religioso e somente baseado em opiniões.
Em 1860, Kirchhoff e Bunsen, com a espectroscopia, deram um dos primeiros passos científicos para o estudo da astrobiologia. Mesmo assim, continuou tudo a funcionar muito por analogia, e não porque se detectava alguma coisa.
Em 1941, L. J. Lafleur usou pela 1ª vez o termo astrobiologia num artigo científico, mas isto em nada desenvolveu a astrobiologia. É somente nomenclatura.
Em 1995 foram oficialmente detectados os primeiros planetas extrasolares, dando um novo impulso à astrobiologia.
Em 1998, foi criado o NAI – NASA Astrobiology Institute – que trabalha com muitos cientistas espalhados pelo mundo, sob o “guarda-chuva” da astrobiologia. Este também foi um passo extraordinário para não só tornar a astrobiologia numa ciência, mas sobretudo para a desenvolver enormemente já que todos trabalham com esse fim.
António Piedade – Quais são, na tua opinião, as principais descobertas na astrobiologia com impacto sobre o conhecimento que temos de como a vida surgiu e evoluiu?
Carlos Oliveira – Actualmente são, sem dúvida, as constantes descobertas de planetas extrasolares, as descobertas de extremófilos na Terra, e as descobertas de material orgânico nos meteoritos.
António Piedade – Quais são os principais “desafios fronteira” da astrobiologia actual?
Carlos Oliveira – Penso que serão as áreas que respondi na pergunta anterior.
Planetas extra-solares e microbiologia são duas das áreas mais fortes da astrobiologia actualmente, e que têm mais hipótese de ter grandes repercussões no futuro. Por exemplo, descobrir vida num outro local do Universo levará a uma revolução do pensamento humano. Claro que essa descoberta será muito provavelmente de vida simples, mas mesmo assim já trará enormes consequências para o nosso conhecimento. E novas perguntas começarão a surgir: será vida como a nossa? Será que teve a mesma origem? Serão saborosos? Terão deuses? Que tipo de inteligência terão? Só funcionam por instinto? Poderemos vender-lhes micro-ondas? E muitas outras perguntas do mesmo género. (algumas perguntas são meio a brincar e meio a sério: na Terra, comemos muita da vida que existe, por isso o mesmo se deverá passar no exterior; na Terra comparamos a inteligência dos outros à nossa; na Terra, regemo-nos pelo capitalismo e pelo comércio; na Terra, tentamos converter os outros aos nossos deuses; na Terra, temos a mesma origem para a vida – o antepassado comum; na Terra encontramos vida tal como a conhecemos; etc.)
António Piedade – Que satélites, sondas, telescópios estão dedicados à astrobiologia?
Carlos Oliveira – Existem vários. Fora os satélites de radioastronomia do SETI, temos claro os telescópios que podem detectar e até visualizar planetas. E nesse caso, existem vários telescópios/missões que nos ajudam: Hubble, CoRoT, Espresso, HATnet, OGLE, Super-WASP, XO, etc., e claro a fabulosa missão Kepler. Estes todos estão “virados para fora”, mas há telescópios, sobretudo da NASA, virados “para dentro”, ou seja, apontados à Terra, e que estudam a dinâmica de ecossistemas terrestres. E o ambiente terrestre é importante, já que é essencial para a vida na Terra (vida na Terra também é vida no Universo, logo, estudar a vida na Terra é uma das funções da astrobiologia).
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Acho muito bem, deviamos de fazer estas coisas mais vezes, porque na verdade, nos vivemos no Universo, e ainda nao conheçemos quase nada sobre ele…
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