Num post de há algum tempo atrás, referia um dos motivos apontados para a tendência das pessoas em acreditarem e continuarem a acreditar em histórias fantásticas, como as falsas profecias acerca do fim do mundo. Falava da hipótese da dissonância cognitiva, que diz que, quando perante duas ideias incompatíveis (como uma profecia não cumprida), as pessoas procuram elementos de consonância (por exemplo, outros crentes) de forma a diminuir essa sensação de desconforto. Geralmente, isto leva a um agravamento da crença e não ao seu abandono.
Mas há um outro motivo possível e (aparentemente) simples que contribui para o aparecimento e manutenção de falácias e mitos na população: repetir mentiras até à exaustão! Se repetida um suficiente número de vezes, uma afirmação falsa parece tornar-se progressivamente “verdadeira” ou, melhor dizendo, tida como tal pelas mentes menos analíticas e críticas. Este efeito é ainda mais forte, se esse mito for divulgado e repetido na televisão. E dá-se mesmo que a afirmação seja completamente descabida e à “primeira vista” inacreditável.
Porquê?
Segundo o físico/linguista Łukasz Dębowski, o segredo do sucesso está em transmitir a ideia com uma frase curta e, claro, repeti-la tantas vezes quanto possível. E não faz falta que haja muita gente a dizê-lo, bastam umas quantas vozes bem altas. Também vários psicólogos e outros investigadores da área das ciências sociais apoiam esta ideia com diversos estudos recentes. Vejam, por exemplo, o artigo do Lee Dye na ABC News sobre esta temática.
Este fenómeno foi o que provocou, por exemplo, a perigosa campanha anti-vacinas que ainda hoje prolifera nos EUA, cujos elementos, que incluem várias celebridades, afirmam que as vacinas (nomeadamente a VASPR – contra a rubéola, sarampo e papeira) provocam autismo! Sobre este assunto, também escrevi aqui.
Observa-se também com outros dois grupos de movimentos anti-científicos: os que negam a evolução e os que negam as alterações climáticas.
Talvez devido a este “efeito viral”, os ditos e provérbios são tão atraentes e tão facilmente ficam na nossa memória…às vezes, mesmo sem darmos por isso.
Atenção, o pensamento crítico é fundamental! Reparem também em quem diz o quê: na maior parte dos casos, não é quem fala mais alto ou tem mais atenção mediática quem tem as opiniões mais credíveis. E isto é válido em todos os aspectos da nossa vida, não só em temas relacionados com a ciência.
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Na mesma linha de pensamento, este artigo é também muito interessante:
http://arstechnica.com/tech-policy/news/2011/09/why-we-care-what-politicians-think-about-science.ars
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Frase-chave: “It’s not what you know, it’s who you listen to”
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Olá a todos!
Obrigada pelas palavras de ânimo! 😉
Ana, não desistas!
Mesmo que só consigamos tocar a mente de uma pequena percentagem dos que nos rodeiam, já vale a pena o esforço. Claro que, no entretanto, a frustração é muita!
Quando eu falo em pensamento crítico e em estar atento a quem fala, não quer dizer que passemos o dia a questionar tudo o que ouvimos, mas, entre acreditar na Jenny McCarthy a assegurar que o seu filho é autista por culpa da vacina que tomou ou nas dezenas de estudos que foram entretanto publicados por cientistas (dentro e fora da industria farmacêutica), o meu sentido crítico escolhe quem sabe que está a falar, os médicos e cientistas!!
E isto não é porque sou cientista. Acho que esta linha de pensamento pode ser aplicada por qualquer pessoa, independentemente do seu grau de literacia. É sentido comum. Se antes (e não só) se ouviam os mais velhos da tribo, por algum motivo era…
Como o Carlos explicou, e bem, se quiser saber sobre pintura, falo com um pintor!
Então porque é que para falar de ciência, não se dirigem aos cientistas?
E ainda hei-de escrever um longo post (/artigo/monografia/etc :p) sobre a homeopatia!
Há anos que acho que é tudo uma grande treta, mas só há pouco tempo é que me deparei com uma acérrima defensora que, claro, me acusou (e a todos os médicos sãos) de não ter uma mente aberta!
E dá-lhe com esse argumento!
Tudo o que um cientista negue, por ser falso, é falta de abertura de ideias para esta gente!
É impressionante e frustrante!
Enfim, há que continuar!
Quando ocorreu a campanha anti-vacina da gripe também escrevi alguns artigos no meu blog e aqui cooquei alguma coisa. É triste como a desinformação pode ser perigosa para a saúde
Olá Diana,
A parte sobre as crenças é realmente muito interessante… mas o que me saltou mais à vista foi a parte de pensamento crítico 🙂
A última frase é bastante pertinente.
Muitos vezes somos acusados aqui no blog de sermos arrogantes (por termos conhecimento dos assuntos de que falamos) e de que temos a mania que sabemos tudo.
Quando isso são críticas de mentalidades pequenas, acríticas, que se sentem ameaçados por não terem tanto conhecimento desse assunto em causa.
A verdade é que os cientistas não sabem tudo. E eu também não sei tudo. Nem ninguém sabe tudo.
Mas tenho inteligência suficiente (no sentido de literacia funcional) de ir perguntar às pessoas que sabem mais que eu em assuntos de que eu não sei.
Exemplo: pintura.
Eu não percebo nada de pintura.
Se eu quiser aprender sobre pintura ou até quiser começar a pintar como hobby ou profissionalmente, faz todo o sentido eu ir-me informar em livros credíveis de pintura e com pintores credíveis.
Como eu não sei, nem posso saber tudo, obviamente que me vou informar com quem sabe mais.
Não faria qualquer sentido eu ir-me informar sobre pintura com:
– quem nunca pintou;
– quem acha que os pintores são todos arrogantes;
– quem acha que o conhecimento sobre pintura está na Bíblia;
– quem acha que os pintores pertencem todos a uma associação homogénea que nos andam a enganar – é tudo uma grande conspiração dos pintores!
– quem acha que o facto de Júpiter estar no focinho de um porco que se desenhe no céu, isso faz com que os quadros mudem de côr.
– quem acha que os quadros são feitos por extraterrestres;
– quem olha para os quadros e interpreta como o fim do mundo ser amanhã.
Quem diz um desses quaisquer disparates sobre pintura, só pode ser parvo.
E daí que não tem qualquer credibilidade porque é notório que não percebe nada do assunto.
Agora mude-se o exemplo. Ponha-se Ciência, ou neste caso, Astronomia.
É exactamente a mesma coisa.
Muita gente ignora o assunto ciência. Quem é inteligente, informa-se com quem percebe do assunto… e nestes incluem-se os nossos leitores.
Mas o que se vê na net é milhões de websites só com disparates, escritos por gente sem qualquer conhecimento do assunto, e no entanto milhões de seguidores crêem piamente nesses disparates (que são parvoíces exactamente iguais às que eu disse em cima sobre pintura).
Não entendo como para pintura, por exemplo, toda a gente percebe que essas minhas frases seriam disparatadas, mas quando o assunto é ciência, tanta gente deixa-se levar pelos mesmíssimos disparates.
O critério de avaliação de disparates é o mesmo. Mas para uns assuntos as pessoas utilizam-no e para outros não. Não aplicam de forma consistente esse pensamento crítico.
Enfim.. foi mais um desabafo de não entender porque a ciência não é avaliada da mesma forma que tudo o resto 🙂
Macaco de imitação 😛 😀
-eu disse primeiro, eu disse primeiro! 😀
Sorry. Por acaso não tinha visto o teu comentário 🙂
Tavamos a escrever ao mesmo tempo, penso eu 🙂
Lol, não era pra pedir Sorry 🙂 Sorry do quê? great minds think alike, ora.. 😛 ahahah (ó pra ela, tão modesta… :D).
É um sentimento que nos está a atacar a todos. Confesso que ando desanimada, sim. 🙁
Concordo perfeitamente…
O que me assusta é que parece que os disparates “proliferam” a uma velocidade estonteante. Mais agora do que dantes. Numa era em que o conhecimento esta tão acessível parece-me inacreditável.
Bem verdade! Mas, sabes, somos hoje de tal forma bombardeados com informação, vinda de todos os lados, que, por vezes, se torna impossível estar sempre a confirmar tudo. Claro que há determinadas coisas q saltam logo à vista, especialmente p quem é especialista ou tem formação numa dada matéria, mas como o conhecimento é vasto e uma pessoa só, sozinha, não consegue abarcá-lo todo, é certo que alguma vez todos nós vamos cair numa peta qualquer…por mais espirito critico que tenhamos. Penso que, aí, o ideal é ser-se humilde o suficiente para saber que se foi enganado, que se enganou, que não se está correcto, etc. Coisa que falta a muitos. Ou para perguntar a quem sabe mais do que nós numa determinada área. Ou para respeitar quem realmente sabe mais do que nós numa determinada área. Mas há egos que são grandes demais para admitir que se enganaram (e isso vê-se muito no meio académico, o que é comprovado por pessoas geniais numa determinada área a dizerem autênticas barbaridades – como o nobel da medicina que quer provar que a água tem memória, validando a homeopatia, e que o dna pode ser teletransportado quanticamente). Tb há quem tenha mesmo complexos de inferioridade e não consiga admitir que alguém mais novo, por ex, saiba mais. É aí que entram os insultos como arrogante, mania-que-sabe-tudo, mania-que-é-dono-da-verdade e outros chavões bonitos com que muitos de nós são brindados no dia a dia ao dizerem a alguns que “desculpa, estás errad@”,
É complexo. Muito complexo. Passa por se utilizar melhor o espirito critico, sem dúvida, mas vivendo nós numa sociedade onde o excesso de informação impera, onde nos é exigida celeridade na produtividade, e tendo em conta a quantidade de triagem de informação que temos de fazer para chegar a uma só conclusão fidedigna… enfim, só de pensar nisto já estou em stress. 😛 😀
Em stress e desanimada. Se vos contasse as vezes que já me chamaram arrogante nos últimos dias… dá vontade de desistir. Dá mesmo.
É óbvio que és uma arrogante.
Tu tens Mestrado em Biotecnologia. Eu nunca estudei biotecnologia. Mas acordei ontem e digo que recebi uma comunicação telepática de extraterrestres a dizerem-me que biotecnologia foi dada por eles, e eu é que sei. É óbvio que o meu conhecimento de biotecnologia está ao teu nível… ou melhor, o meu conhecimento (dado por ETs) é superior ao teu. Como te atreves a falar dessas coisas só por teres passado tantos anos a estudá-la? É claro que és uma arrogante… e não eu.
Eu é que sou humilde, porque acordei ontem e fiquei a saber tudo de biotecnologia sem ter pegado num livro ou falado com alguém que soubesse do assunto. Eu sou o cúmulo da humildade por não saber nada, e ter a certeza que sei tanto ou mais que tu.
BAZZZZZZINGA!!!
P.S.: a “comunicação telepática com ETs” não foi escolhida ao acaso. É que foi assim que o Nibiru foi “descoberto” a vir colidir com a Terra.
http://www.astropt.org/2011/08/11/elenin-nao-e-uma-ana-castanha-nem-o-nibiru/
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL 😀 😀 😀 😀
Bem, pega antes na Bioquímica e não na Biotecnologia 😉 dou mais para a Bioquimica e o próprio mestrado também deu, ahaha. Biotenologia a sério é com o Marco Filipe e com o Dário 😀 Se bem que ultimamente já nem saiba para que lado dou LOL
Pronto, pronto, eu ajoelho-me perante o teu curso universal telepático! 😀
😉
Teleportation can be applied not just to pure states, but also mixed states, that can be regarded as the state of a single subsystem of an entangled pair. The so-called entanglement swapping is a simple and illustrative example.
If Alice has a particle which is entangled with a particle owned by Bob, and Bob teleports it to Carol, then afterwards, Alice’s particle is entangled with Carol’s.
A more symmetric way to describe the situation is the following: Alice has one particle, Bob two, and Carol one. Alice’s particle and Bob’s first particle are entangled, and so are Bob’s second and Carol’s particle
___
/ \
Alice-:-:-:-:-:-Bob1 -:- Bob2-:-:-:-:-:-Carol
\___/
Now, if Bob performs a projective measurement on his two particles in the Bell state basis and communicates the results to Carol, as per the teleportation scheme described above, the state of Bob’s first particle can be teleported to Carol’s. Although Alice and Carol never interacted with each other, their particles are now entangled.
O tele-transporte quântico não reconstrói qualquer partícula, quanto mais um batch de DNA.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Entrela%C3%A7amento_qu%C3%A2ntico
No entanto já vi pessoas com formação superior muito consistente em áreas noutras áreas de ciências ficarem a pensar que as experiências realizadas Áustria e nos EUA eram relativas a tele-transporte de matéria atómica, e não eram. Não eram porque há 3 princípios que a tornam impossível, para além do limite da velocidade da luz. A diferença é que essas pessoas se defendem e perguntam aos Físicos: “olha lá, mas isto é assim?”, e até parece ficarem descansadas porque o seu sistema de alarme anti-treta, que é perguntar a alguém da área, funcionou. Hoje apenas me pergunataram 2 vezes sobre o Niribubu e o XPTO da Profecia de Eça de Queiroz, vá lá vá lá, hoje ninguém ainda me quis matar. É pena, é excelente incentico para continuar a escrever e para informar todas as pessoas que me perguntam que o Niribu é treta, que o planeta x é treta e que a Profecia Maia é treta, Ah, e as pulseiras quânticas basta começar a rir que as pessoas percebem logo que é treta. O que eu concluo é que as pessoas são todas capazes de se defenderem se simplesmente forem humildes, ontem à noite estive a ver a Cassiopeia e Cisne com 2 pessoas adultas que mal sabem ler e foi fantástico o seu interesse e o conhecimento que tinham das estrelas dados pelos seus pais e avós. E ainda gozaram no melhor sentido, com amizade sincera: Tás cá um Professor, e se fossemos agora petiscar uns mariscos que a gente apanhou hoje nas rochas? Eu não tenho conhecimentos nem coragem suficientes para apanhar mariscos em locais onde se vai descendo falésias de 100 metros a pique. Ter partilhado o pouco que sei sobre Cisne e a Cassiopeia, por a literacia funcional a funcionar, é que pode mesmo ser delicioso. Que isto anime :))
[…] Primeira ministra da Austrália. Edward Snowden. Júlia Pinheiro. Dissonância Cognitiva: mentiras. Lista + 10 + 11 + infografia. Ig Nobel. 1910. 2008. 2010. 2010. 2011. 2012. 2013. 2014. 2014. […]