Já temos escrito várias vezes sobre o João Magueijo, como podem ler nesta categoria, nomeadamente sobre este livro, sobre a velocidade da luz variável, sobre a velocidade do som variável, e até sobre teorias quiçá similares.
Podem ver algumas análises ao livro, aqui e aqui.
A Gradiva, que publicou o livro em Portugal, faz este sumário do livro:
“Mais Rápido Que a Luz – que será sem dúvida um dos livros mais polémicos do ano – é a história fascinante de como a ideia herege de um jovem físico genial poderá vir a destronar Einstein e a mudar para sempre o nosso modo de ver o mundo.
Em física, basta dizer-se a palavra «luz» para que todos entoem: Nada se move mais depressa do que a luz – o que é de facto verdade. Mas a luz tem outra propriedade espantosa: propaga-se a uma e uma só velocidade, que é uma das constantes da natureza. Esta ideia foi consagrada por Einstein na sua teoria da relatividade restrita e é um dos pilares da física moderna: todos lhe atribuem o estatuto de verdade religiosa. Mas e se não for correcta?
Em Mais Rápido Que a Luz, o físico teórico João Magueijo, doutorado pela Universidade de Cambridge, propõe uma especulação extraordinária: que a velocidade da luz tenha sido maior no universo primordial.
Por que é que alguém com trinta e poucos anos e quase de certeza com uma carreira brilhante à sua frente iria arriscar a reputação com uma ideia aparentemente tão descabida, que põe mesmo em causa Albert Einstein? Magueijo mostra neste livro original que a sua teoria da velocidade da luz variável (VSL) resolve alguns dos problemas mais difíceis da cosmologia. Embora quase todos aceitem que o cosmos teve origem num big bang, há aspectos do universo ainda por explicar. Há décadas que estes paradoxos enlouquecem os cientistas; eis que a VSL dá respostas geniais a todos de uma só vez. A teoria pode além disso ter consequências fabulosas quanto a viagens espaciais, buracos negros, dilatação do tempo e teoria das cordas. Muito ironicamente, talvez a VSL seja a porta para a teoria de grande unificação que escapou a Einstein.
De certa forma, não importa se é Einstein ou Magueijo quem tem razão: este livro é acerca das ideias e do seu lugar no mundo. É acerca de como os cientistas trabalham em conjunto e acerca do que os separa. É acerca do quanto é preciso lutar para que as nossas ideias sejam aceites. No fundo, Mais Rápido Que a Luz é a biografia de uma especulação científica.
É também a história de uma tentativa única de desvendar a natureza do universo. Magueijo encontra inspiração para a sua busca nos locais mais inesperados: em Goa, ao observar hippies movidos a ecstasy despedirem-se do sol; num pub arruinado de Notting Hill, ao discutir teoria das cordas com um colega; em Cambridge, ao atravessar os campos de jogos num dia cinzento…
Como Richard Feynman e outros antes dele, João Magueijo teve a temeridade de afrontar ideias aceites. Mais Rápido Que a Luz é a fantástica história dessa viagem, que ainda não chegou ao fim.”
O livro basicamente divide-se em 2 partes: numa 1ª parte (mais ou menos as primeiras 100 páginas) o Magueijo dá uma excelente explicação da relatividade do Einstein; na 2ª parte apresenta a sua proposta de teoria VSL (Velocidade da Luz Variável) e fala abertamente dos seus problemas (nomeadamente a falta de evidências – falta testar, experimentar), critica mordazmente a Teoria das Super-Cordas com algumas palavras chocantes (p. 239), e faz críticas ferozes e por vezes ofensivas à burocracia académica, a alguns “journals” científicos (p. 255), aos revisores, aos administradores universitários, aos cientistas mais velhos, e à forma de financiamento de projectos científicos.
A 1ª parte do livro é centrada na ciência, enquanto a 2ª parte é centrada no cientista (nomeadamente, nas experiências e opiniões dele como cientista).
Tenho o livro quer na versão americana, quer na versão portuguesa.
Li o livro em 2003, quando o livro saiu. Nessa altura, adorei o livro, especialmente a 2ª parte já que era a mais polémica. Aliás, a divulgação do livro foi feita muitas vezes com base nessa 2ª parte, sobretudo os insultos, a rebeldia, ficando para segundo plano quer a ciência, quer a Relatividade, quer a VSL.
A semana passada reli este livro. Tornei a gostar bastante do livro, mas sobretudo da 1ª parte. A 1ª parte é brilhante. Já a 2ª parte, agora que conheço os meandros da ciência, não me atrai; qualquer teoria de qualquer pessoa terá críticas antes de ser publicada, e penso que ele poderá actualmente já ter sido revisor de alguns artigos científicos e terá feito as referidas críticas aos trabalhos que quiserem ser publicados (críticas científicas, claro); por outro lado, fiquei sem perceber nada da VSL no livro, e penso que teria sido mais vantajoso utilizar a 2ª parte para explicar a VSL com muito maior detalhe.
Em termos específicos, algumas curiosidades interessantes:
– na página 42, ele explica que Einstein, em 1911, já tinha proposto uma velocidade da luz variável, já que especulou que a gravidade travaria a velocidade da luz.
– na página 54, explica que as teorias posteriores têm que explicar tudo o que as anteriores já explicavam e algo mais, e as suas previsões têm que ser melhores. Ou seja, a ciência é cumulativa, é uma acumulação de conhecimento.
– na página 55, explica que o poder das teorias depende das suas previsões, e posteriores experiências e observações para ver se as previsões se concretizam.
– na página 59 fala da especulação em torno do planeta Vulcanus.
– na página 63, refere cálculos errados de Einstein, e de como expedições para provar que Einstein estava correcto sofreram revezes devido ao tempo chuvoso e à 1ª Guerra Mundial.
– a partir da página 83 fala do Russo Alexander Friedmann que previu a expansão do Universo (p. 85), que Einstein rejeitou inicialmente mas depois teve que aceitar.
– na página 253 dá o segredo para se fazer boa ciência.
– na página 259 refere que o importante é gerar novas hipóteses e tentar novas ideias, desafiando o conhecimento estabelecido. Isso é ciência. Assim como é ciência depois testar essas hipóteses com experiências concretas mediante algumas previsões. Daí que, diz ele, se a VSL for considerada como errada, isso não é qualquer problema, pelo contrário: isso é ciência.
Concluindo: é um livro excelente que recomendo a toda a gente. A 2ª parte só recomendo a quem quiser ler algo do género de “conversas de café”, mas a 1ª parte recomendo a toda a gente porque é brilhante 🙂
6 comentários
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Eu tenho e adorei o livro. Por várias razões, coincidentes até com o que o Carlos dispõe aqui… Na altura comprei-o, entre outras razões, por ser de um cientista português e acabei por achar realmente fantástica a explicação da relatividade que ele dá, bem como a forma “mordaz” como apresenta a sua teoria e apresenta as suas criticas. Muito bom.
Li o livro há alguns anos e gostei bastante. Entretanto, sei que o João tem uma série televisiva: João Magueijo’s Big Bang (http://science.discovery.com/tv/joao-magueijo/joao-magueijo.html). Alguém sabe se vai passar por cá?
Author
A série está aqui no blog 😉
http://www.astropt.org/2008/09/24/magueijo/
Cool! 😀
Fica aqui o abstract e link do artigo:
A time varying speed of light as a solution to cosmological puzzles
Andreas Albrecht, Joao Magueijo
(Submitted on 2 Nov 1998 (v1), last revised 5 Jan 1999 (this version, v2))
Comments: To be published in Physical Review D. Note added referring to John Moffat’s early work on VSL theories
Subjects: Astrophysics (astro-ph); General Relativity and Quantum Cosmology (gr-qc); High Energy Physics – Theory (hep-th)
Journal reference: Phys.Rev.D59:043516,1999
DOI: 10.1103/PhysRevD.59.043516
Cite as: arXiv:astro-ph/9811018v2
Boas,
Já li o livro a alguns anos, e fiquei com a ideia que o que ele “propõe” é que a velocidade no inicio terá sido mais rápida, e isso explicaria a expansão do universo, Essa hipótese não é válida!!!?