Carneiros perigosos ?

Segundo o jornal National Post, do Canadá, a polícia de Chatham-Kent, Ontário, decidiu olhar para os dados das detenções de 2011 de forma inédita, analisando os signos dos detidos. De 1.986 pessoas presas, 203 pertenciam ao signo Carneiro, enquanto 139 a Sagitário.
Podem ler aqui, aqui, e aqui.

Já se sabe que a astrologia é uma treta.
Mas algumas notícias de astrologia são puras vigarices para apanhar os mais incautos. É o caso desta.

Foram 1.986 pessoas presas. Supondo que são 12 signos (que não são) e que têm todos o mesmo espaço de tempo (que não têm), então sem qualquer influência estelar, os signos deveriam ter cada um cerca de 166 pessoas presas. Escorpião e Capricórnio estão mesmo nessa média, sem que isso se deva a quaisquer estrelas, mas a simples matemática.
O signo “menos criminoso” é Sagitário, que difere 27 pessoas da média, o que corresponde a 1.4% do total de pessoas. Ou seja, está dentro do desvio aceitável. A simples estatística explica que deveria ser assim.
O signo “mais criminoso” é Carneiro com 203, o que difere 37 pessoas da média. Isto corresponde a 1.8% das pessoas, o que é uma percentagem muito baixa para ser sequer próxima de relevante. Mais uma vez, nada se deve a signos, mas sim a simples matemática e erros de estatística.
Resumindo e concluindo: os vigaristas são aqueles que pertencem à polícia de Chatham-Kent e que puseram esta “notícia” cá fora como se fosse relevante. E desses não sabemos os signos…

10 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. Acho que atingiam resultados mais informativos se verificassem o grau académico, a zona de residencia, o ambiente familiar, entre outras questões que intreferem com o comportamento do cidadão na seu dia a dia… agora signos; astrologia?
    Give me a break!

    • Dinis Ribeiro on 05/01/2012 at 12:53
    • Responder

    Penso que este livro devia ser ainda mais conhecido : How to lie with statistics.

    Link: http://en.wikipedia.org/wiki/How_to_Lie_with_Statistics

    Um pequeno pdf: http://www-stat.wharton.upenn.edu/~steele/Publications/PDF/TN148.pdf

    Abstract.

    Over the last fifty years, How to Lie with Statistics has sold more
    copies than any other statistical text.

    This note explores the factors that contributed
    to its success and provides biographical sketches of its creators: author
    Darrell Huff and illustrator Irving Geis.

    Key words and phrases:

    Darrell Huff, Irving Geis, How to Lie with Statistics,
    numeracy, graphs, crescent cow

    Quanto aos “simbólicos” signos astrológicos, ocasionalmente sinto muito nítidamente que existem “reforços positivos”, o que leva a que os que pensam que são “Carneiros” a serem “mais violentos”, devido a um perigoso fenómeno conhecido como “Profecia auto-realizada”.

    Uma profecia autorrealizável ou autorrealizada é um prognóstico que, ao se tornar uma crença, provoca a sua própria concretização.

    Ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Profecia_autorrealiz%C3%A1vel

    A self-fulfilling prophecy is a prediction that directly or indirectly causes itself to become true, by the very terms of the prophecy itself, due to positive feedback between belief and behavior.

    Ver: http://en.wikipedia.org/wiki/Self-fulfilling_prophecy

    Este fenómeno do “positive feedback” ( http://en.wikipedia.org/wiki/Positive_feedback ) pode explicar parte do crescimento vertiginoso das ideias pseudo-científicas.

    Positive feedback tends to cause system instability, divergence from equilibrium, oscillation and often exponential growth.

    When there is more positive feedback than there are stabilizing tendencies, systems will typically accelerate towards a non-linear region, which may stabilise the system or (depending on the system) even damage or destroy it.

    Enfim…

    Estas “tradições astrológicas” têm alguns efeitos secundários (fecundos?) sobre a criatividade artística.

    Dois exemplos:

    1) Vale a pena ouvir os excertos de musica (famosa?) a partir deste link:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Cultural_influence_of_astrology

    The most famous piece of music to be influenced by astrology is undoubtedly the orchestral suite “The Planets”. ( http://en.wikipedia.org/wiki/The_Planets )

    Written by the British composer Gustav Holst (1874–1934), and first performed in 1916, the framework of “The Planets” is based upon the astrological symbolism of the planets.

    2) Parte da criatividade de Fernando Pessoa, está ligada á astrologia, sobretudo os (famosos?) heterónimos. http://en.wikipedia.org/wiki/Heteronym_(literature)

    Um livro curioso: http://www.wook.pt/product/printproduct/id/10708364

    A partir da interpretação das cartas astrológicas de Fernando Pessoa sobre personalidades mundiais, Portugal e dos seus heterónimos, o livro “Fernando Pessoa – Cartas Astrológicas” explica, de modo acessível e rigoroso, como a astrologia se insinua na obra de um dos maiores poetas portugueses.

    Sobre o autor:

    Jerónimo Pizarro é Professor Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Doutor pelas Universidades de Harvard e de Lisboa. É membro do grupo de trabalho que prepara a Edição Crítica de Fernando Pessoa, projecto para o qual já contribuiu com sete volumes.

    Em 2009 organizou o livro Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis (Texto Editores); actualmente co-organiza um livro intitulado Portuguese Modernisms in Literature and the Visual.

    Mais informação: http://umolharsobreomundo.blogs.sapo.pt/108603.html

    1. “Statistics are like a bikini. What they reveal is suggestive, but what they conceal is vital.” – Aaron Levenstein

      “Statistics are like a drunk with a lampost: used more for support than illumination.” – Andrew Lang

      😛

    • Fernando Simões on 05/01/2012 at 11:52
    • Responder

    Os aquários não me deixam ficar mal. Assim é que é: segundo lugar dos mais bem comportados. Ou mais bem comportados… ou correm mais depressa do que a polícia.

    1. “(…) ou correm mais depressa do que a polícia.”

      LOLLLLLLLLLLLL 😀

  2. Isso quereria dizer que os Carneiros canadianos são mais violentos, que eles são mais propensos a serem criminosos, que têm menos jeito para não serem incriminados, ou que não têm jeito nenhum para fugir às autoridades depois de identificados?
    🙂

    1. “(…) ou que não têm jeito nenhum para fugir às autoridades depois de identificados?”

      LOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL 😀

  3. Fazendo o teste chi-square aos dados tal como estão obtém-se um p-value de 0.005, o que significa evidência de bias. Se a evidência se mantivesse, após normalizar para o número de nascimentos por signo, etc., essa evidência seria que alguém estaria a manipular dados.

    Programinha em R:

    crimes.per.sign = c(142,169,203,146,159,147,177,183,189,166,139,166)
    # If the P value is low (e.g: below 0.05) there’s evidence of bias
    chisq.test(as.table(crimes.per.sign), p = rep(1/12, 12))

    1. a manipulação dá… publicidade nos jornais 😉

      se dissessem a verdade que na realidade não há diferenças… não tinham publicidade nos jornais 😉

        • Dinis Ribeiro on 06/01/2012 at 05:31

        Por falar em jornais, penso que nesta insidiosa notícia do National Post, pode haver também a tentativa deliberada associação com uma outra possível leitura (subconsciente?) da do adjectivo zodiac(al)…

        Se deixarmos cair a terminação “al” e também o plural da segunda palavra do título, temos a expressão “zodiac criminal”…

        Vi há uns anos atrás, um curioso filme que também dá bastante que pensar sobre o papel dos jornais num caso (famoso?) dum assassino em série.

        The Zodiac Killer’s crimes, letters and cryptograms to police and newspapers inspired many movies, novels, television productions and other serial killers.

        http://en.wikipedia.org/wiki/The_Zodiac_Killer_in_popular_culture

        Filme: http://en.wikipedia.org/wiki/Zodiac_(film)

        O facto de que este caso (do zodiac killer) tenha inspirado outros assassinos em série, só me leva a pensar de novo como a “informação” pode ser verdadeiramente tóxica.

        A expressão “macaquinho de imitação” e “copycat” são sinónimos.

        Ver aqui uma imagem dum macaquinho a imitar: http://en.wikipedia.org/wiki/Mirror_neuron

        A copycat crime is a criminal act that is modeled or inspired by a previous crime that has been reported in the media or described in fiction.
        http://en.wikipedia.org/wiki/Copycat_crime

        Uma citação sobre o filme de 2007 do link da wiki mencionado acima:

        Overall, reviews of the film were highly positive.

        Entertainment Weekly critic Owen Gleiberman awarded the film an “A” grade, hailing the film as a “procedural thriller for the information age” that “spins your head in a new way, luring you into a vortex and then deeper still.”

        Nathan Lee in his review for the Village Voice wrote, “Yet it’s his very lack of pretense, coupled with a determination to get the facts down with maximum economy and objectivity, that gives Zodiac its hard, bright integrity.

        As a crime saga, newspaper drama, and period piece, it works just fine.

        As an allegory of life in the information age, it blew my mind.”

        Lembrei-me de novo do livro “The Copycat effect”, e penso que é de leitura obrigatória para se compreender melhor uma parte do inquietante fenómeno da virulenta difusão das ideias pseudo-científicas.

        The Copycat Effect: How the Media and Popular Culture Trigger the Mayhem in Tomorrow’s Headlines

        http://books.google.pt/books?hl=en&lr=&id=3B4lTTZE58oC&oi=fnd&pg=PR9&dq=copycat+effect&ots=vfNvk73kTl&sig=1S0gp41Ne8E4SSFUDr9NW9HqI50&redir_esc=y#

        Sugiro também este link: http://hammernews.com/copycateffect.htm

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.