Já vos tinha dado conta aqui do aparecimento de um curioso sistema de nuvens sobre a região do pólo sul de Titã. Na altura especulei se essa enorme estrutura não seria uma tempestade polar. Ontem, a equipa de imagem da missão Cassini pronunciou-se finalmente sobre o assunto. O novo adorno de Titã é um impressionante vórtice polar!
Vórtice circumpolar titaniano descoberto pela Cassini. Imagem em cores naturais obtida a 27 de Junho de 2012.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.
Os vórtices polares são gigantescos ciclones formados sobre as regiões polares de planetas com atmosferas significativas. Terra, Vénus e os gigantes Júpiter e Saturno têm as suas respectivas versões. O vórtice polar de Titã tem cerca de 784 km de comprimento e 575 km de largura e parece executar uma rotação completa em apenas 9 horas (muito mais rápido que os 16 dias do período de rotação titaniano). A sua súbita formação parece estar de alguma forma relacionada com a aproximação do Inverno no hemisfério sul.
Os instrumentos da Cassini reuniram nas últimas semanas alguns dados intrigantes relativos à sua composição química. Aparentemente, a estrutura é formada por aerossóis de materiais orgânicos condensados em densas nuvens situadas a cerca de 300 km de altitude. Os cientistas da missão interpretam a intrincada organização destas nuvens como a assinatura da presença de uma célula de convecção sobre o pólo sul de Titã. Normalmente, as células de convecção são fenómenos caracterizados pelo movimento descendente de ar na zona central da célula em simultâneo com movimentos ascendentes na periferia e consequente formação de nuvens periféricas. No vórtice polar titaniano, a equipa de imagem não conseguiu ainda observar as camadas mais inferiores, pelo que não lhes é possível nesta fase perceber exactamente todos os mecanismos em jogo. Resta-nos agora aguardar por novas observações nos próximos meses. Até lá apreciem esta magnífica animação.
Animação mostrando a rotação do vórtice polar de Titã vista pela sonda Cassini.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.
6 comentários
4 pings
Passar directamente para o formulário dos comentários,
Caros amigos. Estive lendo sobre Titã, sua natureza, desde muito tempo, em que me interessei por esse astro e o elegi meu favorito entre os mundos do sistema solar. E, em minha humilde concepção, ouso imagina-lo mais “acessível” que Marte, se desconsiderar a enorme distância a percorrer.
O primeiro motivo em que penso é a pressão atmosférica ambiente. Ao contrário dos Lunautas e Marcianautas do futuro, os Titanautas estarão em um mundo com uma pressão atm quase igual à da Terra (uns 50% maior, ainda bem suportável), e isso pode lhes dar a opção de trajes mais leves e bases mais seguras, pois não precisarão de sistemas tão sofisticados de pressurização. Os trajes pressurizados que usam no espaço, na Lua e em Marte deixam o astronauta desajeitado e com mobilidade mínima, os próprios o descrevem como “tentar trabalhar com uma bola de praia entre os braços”. Mas eles têm que ser assim para que nossos sistemas vitais se mantenham num ambiente atmosférico e pressurizado que simule o da Terra. e os trajes colados e estilosos dos filmes e ilustrações são apenas um sonho distante, mas em Titã seriam bem mais simples, já que o ambiente proporciona uma atmosfera assim, a única necessidade é o isolamento térmico e a respiração.
O segundo motivo tem a ver com as vantagens em relação à Marte: a radiação é muito menor, nada de micro poeira mortal por toda a parte e um clima muito mais ameno, sem as perigosas tempestades de areia.
Ao contrário de mundos como Marte, Lua e Vênus, até um rasgão acidental em seu traje não seria imediatamente letal, creio que haveria preciosos minutos suficientes para encontrar abrigo em sua base ou veículo e se reparar rapidamente. Não tenho certeza mas acho que seria assim porque a atmosfera Titânica é rica em Nitrogênio e um pouco de Metano, gases já conhecidos nossos aqui da atmosfera da Terra. A única preocupação latente nossa lá seria o frio, onde a água vira um gelo duro feito rocha, mas isso é padrão em Marte também.
Voar para cobrir grandes terrenos em Titã e aterrissar onde for interessante seria uma prática corriqueira. A gravidade é quase a mesma da nossa Lua e a atmosfera é densa, um homem com um par de asas poderia levantar voo apenas batendo os braços mas o mais interessante seria o balonismo. Os astronautas voariam em um balão através das nuvens de gás natural ao sabor dos ventos de Titã sobre as áreas dos lagos de hidrocarbonetos, aterrando a cada área interessante a ser pesquisada no solo. Explorar Titã seria uma atividade interessante também à espeleologia, dados indicam formações criovulcâncias (vulcões de gelo que expelem uma mistura de água e amônia das entranhas do planeta) que devem formar vastos sistemas de cavernas. Considerando os últimos dados sobre possibilidades de um oceano global sob a crosta planetária, Titã deve voltar a levantar questões biológicas, e essa atividade vulcânica e cavernas internas tornariam essa pesquisa um verdadeiro safari atrás de fontes hidrotermais, claro, aqui já estou mais dentro da especulação do que dos dados conhecidos.
Uma pergunta que me fazem quando mostro esse mundo incrível aos amigos, e eu também já me fiz, seria sobre uma forma de vida alternativa que viva nesse ambiente, com corpos adaptados ao frio e usando o metano líquido, e seus ciclos em Titã, da mesma forma que usamos a água e seus ciclos aqui na Terra. Não há nada de errado em especular os titaneses bebedores de metano, mas, quando estudamos química desenvolvemos uma visão mais cética, embora igualmente fascinante, do Universo e seus potencias biológicos. O fato é, metano não se compara à água, principalmente por ser um péssimo solvente de substâncias químicas, diferente da água, maior razão pela qual a abundância de água fora determinante ao surgimento da vida aqui na Terra.
A vida pra mim é uma continuidade da química. O universo começou quimicamente simples, só havia Hidrogênio. Aí a nucleossíntese estelar começou toda a alquimia cósmica que da origem à diversidade de elementos químicos que conhecemos, razão pela qual Sagan nos chamou de “poeira das estrelas”. De resto, a química continuou “evoluindo” formando combinações entre os elementos originais em Nebulosas e Planetas, nasce assim as substâncias, Água, Metano, Amônia, etc. O resto da história é bioquímica pré-biótica, compostos e energia formando sistemas cada vez mais complexos, evoluindo em lugares propícios do Universo, como a Terra.
Se o segredo é mesmo química e energia, ambiente, tudo isso aponta vários lugares no cosmos, até no sistema solar, seja nas nuvens de Júpiter ou nos oceanos de Europa. Conhecemos a vida que evoluiu na Terra, por essa razão procuramos lugares parecidos, desses Titã é o mais estranho e exótico, mas não o menos potencial. Ainda assim, suas formações pré-bióticas o tornam interessante mesmo que a vida não se desenvolva nele, então, mesmo assim continuará um laboratório natural entre nossos favoritos.
Barbaridade falei demais… 🙂
Bom, um bom dia a todos. visitem meu blog: http://dominiosdosol.blogspot.com.br/
tem umas brincadeiras astronomicas que estou fazendo em 3D… não é nenhuma produção da BBC 🙂 mas algumas até que ficam legais. A última é uma descida até Plutão…
Excelente comentário!!!
Escreveu um post sobre isso? 😉
Obrigado Carlos, espero que minha imaginação aguçada não tenha ferido o bom senso científico em algum ponto, mas sempre me inspiro quando se trata dessa lua saturnina :). Outro lugar que me faz viajar é Tritão, a lua de Netuno, acho aquele lugar psicodélico…
Apesar do meu comentário ter ficado do tamanho de um post, nunca escrevi um post a respeito… 🙂
A minha área é programação e astronomia uma verdadeira paixão, sempre leio muito tudo o que aparece a respeito e esse blog tem sido muito bom sobretudo em graças ao pessoal daqui, que agrega bastante informações de uma forma muito cooperativa, compartilham seu conhecimento e esclarecem questões de forma bem simplificada e compreensível. Entrei procurando informação, encontrei isso e mais: conhecimento, muito bom por sinal. 🙂
Ainda quero poder agregar a minha área profissionalmente à astronomia, por isso estudo o 3D, para um dia estar desenvolvendo softwares visuais que proporcionem uma simulação tridimencional do espaço, um Cellestia da vida ou algo mais complexo. Quanto ao astrônomo profissional, também penso em um dia desenvolver soluções para ele, mas para isso, além de programas matematicamente poderosos, tenho ainda bastante a aprender das próprias ciências espaciais, física, astrofísica, cosmologia… Tudo é ainda um grande sonho, to no começo da jornada, mas ainda tornarei esse sonho uma visão. 🙂
Um abraço.
Eu perguntei porque no seu blog pode ter colocado esses pensamentos em texto. Colocou? 😉
É que se assim for, eu poderei fazer um post e colocar o link aqui num post 😉
Ou prefere escrever directamente isso no astroPT? 😉
Já agora, e que diz a ligar a sua área profissional ao astroPT? 😉
Bom, sendo assim, não tenho esse texto publicado em parte alguma, por isso acho que será bem legal ter a honra de uma publicação minha no astropt. 🙂
Quanto a ligar a minha área ao vosso blog, também aceito prontamente, só precisamos ver onde minhas animações 3D podem se aplicar ao site. Assim como em meu blog, eu faço as animações, e depois as reenderizo na forma de vídeo. Você pode, por exemplo, me pedir para tal dia uma simulação da paisagem de Vênus… aí me passa uns dados – Jonatas, faça um solo vulcânico e montanhoso e simule um rasante sobre ele, não esqueça de fazer um ambiente trêmulo para simular a atmosfera superdensa! … – enfim, podemos ir conversando. 🙂
Quanto ao texto que fiz sobre Titã, pode sim transcrevê-lo para o AstroPT na forma de publicação, será um honra. 🙂
Contactei-o via facebook 😉
[…] obtidos pela sonda Cassini revelaram que o vórtice atmosférico que paira sobre a região do pólo sul de Titã contém partículas de gelo de ácido cianídrico […]
[…] polares são fenómenos atmosféricos que se formam nas regiões polares de objectos como a Terra, Titã, Vénus e Júpiter, locais onde exibem normalmente padrões circulares. O vórtice do pólo norte […]
[…] para estudarem as camadas superiores da atmosfera titaniana. Na imagem de cima é possível ver o impressionante vórtice polar que paira sobre o pólo sul desta lua de […]
[…] A Cassini terminou ontem uma sessão de quase 30 horas de monitorização do movimento de nuvens na atmosfera titaniana. As imagens usadas na composição de cima foram obtidas no final dessa sessão, quando a sonda da NASA se encontrava sobre a região do pólo sul da lua de Saturno, a cerca de 993 mil quilómetros de distância. Esta região alberga desde Maio passado um impressionante vórtice polar. […]