Vamos esquecer o facto inconveniente de não ser possível montar uma esplanada num planeta gasoso – não há superfície sólida onde pôr as mesas;
e já que estamos a imaginar cenários impossíveis, vamos também esquecer temporariamente outra maçada, isto é, a possibilidade de nos transformarmos em cinza devido ao calor de uma estrela demasiado próxima.
Se colocarmos de parte estas chatices, podemos imaginar como seria inesquecível contemplar (com uma cervejinha na mão) o esplendoroso céu dos planetas Pr0201b e Pr0211b. Alguma vez observaram as gotículas de humidade nos vidros? Pois substituam as gotículas por estrelas e terão o vosso céu, tal como surgiria perante os hipotéticos olhos de um hipotético habitante.
Gotículas de luz em todo o lado. Se o Rui Veloso lá fosse dar um concerto e cantasse Não há estrelas no céu/A dourar o meu caminho, a malta alienígena desataria à gargalhada por pensar obviamente que só podia ser piadinha. «My God, it’s full of stars», poderia dizer, com mais realismo, o comandante David Bowman do filme 2001: Odisseia no Espaço.
E por que razão menciono todas estas coisas? Porque os astrónomos descobriram estes dois planetas a orbitar estrelas semelhantes ao Sol. Bem, isto em si não é novidade – o que nunca tínhamos visto era planetas a orbitar à volta de sóis que pertencem a um aglomerado de estrelas. Nem sequer sabíamos que era possível formarem-se planetas em condições destas.
Mas é possível, sim – e é esta a descoberta principal. Num aglomerado de estrelas conhecido por muitos nomes (escolho só um, para não complicar: Messier 44), situado a 550 anos-luz da Terra (mesmo debaixo das nossas barbas, em termos cósmicos), formaram-se dois planetas jupiterianos dentro de um aglomerado de cerca de 1000 estrelas.
Se existissem habitantes nos planetas Pr0201b e Pr0211b, não teriam falta de poetas. Um céu daqueles inspira qualquer um. Que maravilhas nos reserva ainda o nosso Universo? Maravilhas infinitas, aposto.
2 comentários
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Que bonito!
Belíssimo artigo, Marco. 😉
Lá está a boa cervejinha. 😉 Observo, alegremente também, uma mescla perfeita entre toques da arte e ciência.
Falando-se em Rui Veloso, o saudosismo – para mim, uma espécie de poesia “vívida” – recorre-me ao refrão de uma canção do nosso Roberto Carlos, intitulada Cavalgada (1977), de tempos relativamente velhos e demasiadamente românticos para os jovens atuais…
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