Gostei bastante deste texto – bastante similar à ideia na base da minha cadeira de astrobiologia -, que pelo que percebo foi escrito por “Andy B. Goode” e foi reproduzido, aqui.
Vou colocar alguns excertos, sobretudo a parte final porque tem mais a ver com a área da astrobiologia:
“(…) A semiótica (…) busca estudar a relação do ser humano com as coisas do mundo através da forma como ele, culturalmente, dá sentido a elas. (…)
(…) O ser humano criou as significações para as coisas que estão no mundo a partir de suas experiências empíricas. (…)
Voltando aos extraterrestres, segundo a semiótica, o ser humano não pode criar novos símbolos e sim, apenas resignifica-los, ou seja, apenas podemos codificar e dar sentidos às coisas existentes que estão ao nosso alcance. “Maçã” pode deixar de significar fruta, maçã pode significar um tom de cor para você, mas ainda assim, você resignificou o código “maçã” para outra coisa existente no mundo, no caso “cor”. Então, quando pensamos em que aparência teriam os supostos extraterrestres (…). Vamos procurar pensar porque em quase todos os filmes ou livros de literatura, extraterrestres são representados, basicamente, como humanoides. Simples, mesmo que desconheçamos qualquer espécie de extraterreste por falta de contato, supomos que um ser para viver com plenitude precisa possuir cabeça, tronco e membros, mesmo que disformes à forma humana, as proporções biológicas são as mesmas. Não acreditam? Permitam-me imaginar um ser completamente bizarro e inexistente no nosso planeta… Imagino então (viajando legal), um ser de 8 cabeças, 16 pernas, olhos na barriga, pele de um tom avermelhado, uma cabeça onde deveria ser a púbis e o púbis onde deveria ser seus ombros… Bicho louco esse, eu sei, ele realmente não existe no mundo, mas os conceitos básicos de sua formação sim, supus que este ser inexistente para viver precisaria ter uma cabeça, ou no caso, 8 (que é um signo existente no mundo), supus, mesmo sem perceber, que ele precisaria de pernas para se locomover, fiz logo 16 (o signo pernas também está presente no mundo), supus também que ele precisaria enxergar, dei-lhe então olhos, (signo este que também está presente no mundo), dei-lhe um tom de pele avermelhado, supus, novamente, que para viver ele precisaria de algo, no caso a pele, que protegesse seus órgãos internos (novamente signos que já existem no mundo), o mesmo se repete com a barriga, com a púbis, com os ombros… Eu criei mentalmente um novo ser, criei um novo significado, mas não um novo signo, porque só posso criar a partir dos signos que já possuo, no caso, cabeça, pernas, olhos, cor vermelha, pele, e etc. Podemos, em relação a isso, concluir que, se um dia déssemos de cara com um ET, não o reconheceríamos como tal, porque a carga de signos que possuímos a partir do significado “ET”, o velho baixinho, cabeçudo, “zóiudo” e esverdeado, não bateria com sua verdadeira forma, provavelmente diríamos: “Nossa, que bicho estranho!”, mas não o relacionaríamos a um ser de outro planeta e passaríamos reto, uma vez que o dito popular nos apresenta extraterrestres como humanoides, cabeçudos, e se ele verdadeiramente não possuir estas características ou parte delas, não o reconheceremos como tal. Da mesma forma como se aparecer um bicho gosmento da sua sala, talvez ele até criei um certo pânico, sua namorada pode subir na cadeira desesperada e gritar “Mata! Mata!”, você provavelmente vai olhar com nojo e até jogar sal pra ver se ele derrete, e ele pode ser um ser de outro planeta, assim como se aparecer na sua sala uma criatura de dois metros de altura parecida com o Alien você não terá vergonha alguma em sai correndo como você nunca correu na sua vida e chorando como uma garotinha de 6 anos de idade.
A diferença está na referência sígnica que você tem a partir dos seres apresentados, uma vez que sua experiência empírica, no caso assistir ao filme do Ridley Scott, lhe faz pensar que um ser bizarro de dois metros é ameaçador quando na verdade, ele poderia estar querendo apenas ser simpático e dizer um “oi” e o bicho gosmento que você tentou matar, que aparentemente era inofensivo poderia ser altamente perigoso.
Pode parecer complicado à primeira vista, pensemos através da biologia então, através da taxionomia, como se registra um novo animal encontrado na natureza? Quais são as características que ele necessita para se encaixar em um determinado reino ou espécie? Se ele não possui nenhuma das características em comum com os outros animais ele não será reconhecido como tal e um novo reino poderá ser definido. Mas ainda assim, a não ser que este “animal” diga “Oi, sou um ET!”, ele não será classificado como tal, porque, repetindo novamente, a bagagem de símbolos culturais que carregamos através dos anos não são suficientes para significa-lo corretamente.
Concluindo, a semiótica afirma que captamos através dos anos, desde nosso primeiro dia de vida uma enorme quantidade de símbolos que são significados ou resignificados dependendo de nossa cultura, acontece que, quando nos deparamos com um novo signo, no caso um ser de outro planeta, tudo o que obtivemos até hoje não será o suficiente para reconhece-los devidamente em sua verdadeira forma, até porque, a carga sígnica que carregamos que nos faz definir mentalmente este mesmo ser em um determinado padrão, se ele estiver fora deste padrão não conseguiremos defini-lo como tal. Em outras palavras, ao invés de ficar procurando por OVNIs ou tentar se comunicar com serezinhos cabeçudos, procure abrir a sua mente a todas as possibilidades imagináveis ou não, já parou para pensar que aquela lesma estranha que você ficou morrendo de nojo e pisou semana passada poderia ser um ser de outro espaço com um conhecimento infinito sobre o surgimento do Universo e você simplesmente não percebeu?”
Curiosamente, a ideia que é provável que mesmo que encontremos vida extraterrestre, ela poderá ser tão estranha que nem a reconheçamos como vida, também foi defendida por um painel da Academia Nacional de Ciências dos EUA, que referi neste post
5 comentários
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Et´s não têm que ter precisamente as formas dos humanos, mas acredito que a existir vida inteligente não andará muito longe da dos humanos. Não consigo conceber vida inteligente doutra maneira. Tudo o resto que se possa afirmar não passa de pura ficção. Atenção estão de fora daquilo que concebo como vida inteligente os animais. Estes poderão sim ter as mais bizarras formas como remos vistos em filmes de ficção.
Da mesma forma, os deuses foram inventados à imagem e semelhança da consciência das pessoas de cada época que os inventaram.
Os primeiros deuses da História eram ignorantes, estúpidos, guerreiros, com regras morais esquizas (aos nossos olhos de hoje), apenas refletindo o que pensava o homem troglodita.
A maioria dos deuses surgiu e desapareceu porque evoluiu a consciência que os gerou. Quando a consciência não evolui eles permanecem no imaginário. Pode-se dizer, então, que católicos, judeus, muçulmanos e hindus pararam no tempo.
Quando a consciência evoluiu um pouco mais, apareceu uma mescla, grupos sociais conjecturam agora a possibilidade de o nosso “criador” ser uma espécie alienígena. Alguém produz um filme. As pessoas que se permitem aceitar essa ideia estão um passo a frente dos crentes citados no parágrafo acima, um passo mais a frente mas não necessariamente mais certas, mas continuam se “encaixando” no contexto do assunto.
De facto sempre pensei isto… porque raio deverão ser identificáveis conosco?!? E se não tiverem olhos ou forma ou linguagem por nós fácilmente percéptivel?
Atribuimos-lhes formas razoávelmente humanas, mesmo de que de longe…apenas por que existirem “supostos” videos de Roswell, que até hoje não sabemos verdadeiramente o que foi .
Associa-los na sua forma a nós deverá ser a nossa maoior ilusão, a não ser que pudéssemos ser uma criação deles, como o filme “Prometheus” sugere…
Author
Roswell está explicado 😉
http://www.astropt.org/2007/07/08/roswell/
Exactamente a minha ideia de extraterrestres… Provavelmente nunca os identificaríamos como seres vivos, por serem tão diferentes do tipo de vida a que estamos acostumados na Terra…
[…] e Bactérias (citação). Equação de Drake. Equação de Flake. Academia Nacional de Ciências. Semiótica. Jovem Universo. Planeta vivo. Sagan. Anãs Brancas. Dentro de Buracos Negros. Buraco Negro de […]