O rover Curiosity encontrou evidências de que o local onde pousou teve água no passado.
As análises às pequenas pedras na área da imagem (chamada Hottah) mostram que os seixos estiveram no fundo de uma espécie de rio com 10 a 50 centímetros de profundidade.
As pequenas pedras não poderiam ter sido transportadas pelo vento, já que são grandes demais. Teriam que ser transportadas por um riacho com uma forte corrente.
Uma aproximação a uma das partes partidas (com o círculo branco) mostra partes arredondadas fruto de erosão provavelmente devido a um curso de água que durou bastante tempo.
Análises a outra zona, chamada Link (imagem abaixo), que tem poeira avermelhada, mostram exactamente a mesma coisa: seixos arredondados pela água e evidências de riachos a levar pequenos seixos.
Pelos vistos existiram realmente canais em Marte. Mas eram relativamente pequenos e totalmente naturais.
Leiam o artigo original, na página da NASA.
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Se a água realmente correu pelos canais de Marte e se isso é fato e não uma probabilidade, estamos então no limiar de novas descobertas, e o passado que vem a tona a cada dia, nos mostrando padrões iguais lá e aqui, nos dizem que se Marte já esteve em melhores condições para abrigar a vida um dia, e se essa vida teve tempo suficienta para se desenvolver, então há a probabilidade de a inteligência ter de fato emergido em nosso vizinho, andado, pensado e um dia se preocupado com as mesmas nossas preocupações que hoje temos.Se esse louco e triste sonho especulativo for mais do que mera sandice, então como os seixos rolaram empurrados pelas águas lá e aqui, terão os nossos hipotéticos vizinhos planetário sido empurrados para fora de seu planeta moribundo que perdia seu manto protetor, assim como ocorrera um dia a essa nossa gente inteligente que de tão inteligente chegou ao ponto de fazer bomba nuclear só para nos garantir a paz…
esclarecido! 🙂 obrigado. hehe
Author
“A minha dúvida então é a seguinte. a zona habitável, não deveria estar a “afastar-se”, mediante o crescimento do sol? ”
Totalmente Correcto.
Habitable Zone é uma noção pontual, do momento.
Continuously Habitable Zone, é como a Habitable Zone se move ao longo do tempo.
Leia este PDF 🙂
http://www.physics.uc.edu/~sitko/AdvancedAstro2011/21-CHZs/CHZs.pdf
Na página 13, tem um gráfico intitulado: “sun’s habitable zone over time” que mostra precisamente isso que descreveu 😉
Por isso, até aqui, tudo correcto. Sim, Marte poderá ter as condições da Terra no futuro. E a Terra será certamente (sublinho, certamente) como Vénus.
Até aqui tudo correcto.
Agora vem o problema maior: Marte.
Marte já teve água no passado, porque tinha uma atmosfera que lhe permitia isso. Agora não tem 😉
Por outro lado, há aqui mais uma variável em relação ao Sol: quando o Sol era jovem, uma proto-estrela, era maior e emitia bastante radiação infravermelha e ainda “colocava cá fora” a energia vinda da sua contracção gravitacional.
Ou seja, apesar dos modelos simplificados serem lineares, a verdade é que existem mais variáveis que complicam os modelos 😉
Excelente pergunta 😉
abraços!
Carlos. Tire-me uma dúvida (não de ignorante, mas de uma pessoa bastante interessada em astronomia) :). Então é o seguinte. sabemos que o sol está a “crescer”, e que daqui a uns milhões de anos irá pulverizar pelo menos mercúrio e vénus. sabemos também que neste momento a zona habitável do nosso sistema solar tem o nosso planeta mesmo “na mouche”, e que, tanto vénus, como marte estão nos extremos da mesma. A minha dúvida então é a seguinte. a zona habitável, não deveria estar a “afastar-se”, mediante o crescimento do sol? ou seja, daqui a uns milhões de anos não estaria o nosso planeta na situação de vénus no presente, e marte na situação da terra, também no presente? e, se assim for, qual a razão de Marte ter tido água a correr no passado (e se tal aconteceu a probabilidade de ter existido vida ser grande) e hoje não? é que, pelo que entendo, vejo hoje marte como a terra daqui a uns milhões de anos, quando, pela minha interpretação da dita zona habitável, devia ser o contrário, ou seja, marte ser o “irmão” mais novo da terra e não o mais velho. 🙂 continuação do óptimo trabalho que a equipa do astropt está a fazer. abraços
Uma vez evidenciada a existência de água líquida (seja em curso, seja em depósito) no passado de Marte, surge a próxima, necessária e inevitável pergunta a ser enfrentada pela ciência: o que fez essa água desaparecer dos locais onde antes ela existia na superfície de Marte? As respostas a essa pergunta talvez sejam importantes para nós aqui do planeta vizinho, em tempos de divergências e polêmicas sobre um aquecimento global considerado antropogênico para alguns.
Aliás, perdão pela observação acima: acho que cometi um pequeno lapso. Saltei uma instância: o MSL vai querer responder primeiramente se o ambiente onde essa água líquida foi possível abrigou formas de vidas primitivas (ou se ainda abriga). Já estou a botar o carro na frente dos bois, não é Carlos? 🙂
Author
Penso que está no caminho certo 🙂
Mas duvido que o Curiosity responda a tudo… o alcance dos rovers é muito limitado…
Se calhar perto dos pólos, quando se conseguir retirar amostras de gelo… aí sim poderá ter-se mais “certezas”… penso eu 😉
abraços!
Author
“o que fez essa água desaparecer dos locais onde antes ela existia na superfície de Marte? ”
Pelo que sei, foi o facto da atmosfera marciana ter praticamente deixado de existir.
E a razão para isso, foi a massa do planeta ser baixa e não ter conseguido reter a atmosfera durante muitos milhares de milhões de anos.
abraços
como é que podemos aferir se as rochas foram erodidas pela água e não por derrocadas, deslizes de terras ou outra coisa no estado líquido?
Tiago, deslises de terra nao “escupem” a rocha de forma arredondada, e que outra materia liquida averia em marte? vodka?
Olá Tiago,
Em primeiro lugar, temos que ter em conta o contexto desta descoberta. Estes afloramentos rochosos estão a jusante de um extenso leque aluvial com origem num canal que desce pelas montanhas da orla norte da cratera Gale. No leque aluvial foram identificados pela Mars Reconnaissance Orbiter pequenos canais que parecem divergir do canal principal a montante. Toda esta morfologia é sugestiva de que a água fluiu no passado neste local.
Depois temos o tipo de conglomerado descoberto pelo Curiosity e a forma arredondada de alguns dos seixos. Na Terra, este tipo de abrasão só é possível em sistemas fluviais imaturos, como por exemplo pequenos riachos de fluxo rápido. Ora, se integrarmos todas estas observações, é fácil concluir que a água fluiu por esta paisagem no passado, continuamente ou repetidamente durante bastante tempo.
Alguém já disse uma vez que a mente humana é uma máquina especializada em detectar padrões. A mente científica trabalha assim, na interpretação da natureza. Onde está o padrão? Usa-se também a comparação, o elemento paradigma. No nosso caso específico aqui, é o nosso planeta Terra. Aqui sabemos como se “comporta” a natureza após a passagem da água: podemos caminhar numa estrada e verificar a paisagem: é possível saber que a água passou por ali em várias situações: seja na conformação da vegetação, seja no aspecto do solo, e, com mais complexidade, na disposição das rochas, e seixos. Você levanta a questão de que a erosão das rochas pode ter sido provocada por deslizamento/desabamento natural. Mas observe que uma coisa não exclui necessariamente a outra. A água passou numa determinada época, produziu um curso principal, canais. Como sabemos? O tal do padrão natural que ocorre aqui na Terra. Foi isso que o Carlos explicou. O que acontece aqui, lança luzes sobre o que se vê lá – ciência. Sim, pode ter acontecido erosão natural, mas o conjunto dos elementos do contexto dentro daquela área da Cratera, como bem disse o Carlos, evidencia a presença da água em curso num passado de Marte. O objeto é “um bicho” chamado água, e suas “pegadas” no solo e nas rochas. Se aqui no “planeta azul” ela se comporta de um jeito, não seria diferente em Marte, nosso vizinho “vermelho”, nas condições normais de temperatura e pressão.
Author
Excelente comentário. Totalmente de acordo.
A pergunta do Tiago tem razão de ser, porque o argumento da analogia é um argumento falacioso (daí os problemas de pareidolia, por exemplo).
Mas a ciência utiliza muito a analogia para detectar padrões. E tem-se dado muito bem com esse método, como percebemos pelo mundo científico que utilizamos diariamente.
A diferença é precisamente a que o Luiz Diogo apontou: a ciência não se baseia somente num padrão, mas vê evidências em diferentes padrões que quando apontam todos na mesma direcção se pode tirar uma conclusão. Não quer dizer que se tenha certezas de 100%, mas dá-nos um método probabilístico bastante confiável para podermos tirar conclusões com diferentes (por vezes, elevados) graus de confiança.
Este é um método que utilizamos também no dia-a-dia.
Exemplo: vamos a andar no passeio e vemos um carro a vir na nossa direcção: o que fazemos? Fugimos da direcção do carro. Porquê? Dos milhares de cenários que poderiam acontecer, incluindo a gravidade deixar de existir e o carro começar a voar e passar-nos por cima, vamos à nossa experiência, aos padrões que vemos no dia-a-dia, e confiamos que o carro irá continuar na nossa direcção e bater-nos. Por isso, tomamos a decisão de fugir, com elevada confiança na hipótese de que se não o fizermos, morremos.
O mesmo se passa neste caso das evidências de um riacho em Marte. De todos os cenários possíveis, olhamos para o leque de evidências e tiramos uma conclusão com elevado grau de confiança.
abraços!
mas a minha dúvida é se não podemos encontrar outras situações prováveis, falei nas derrocadas porque á medida que as rochas vão sendo erodidas pelo vento vão rolando, principalmente seestiverem num ponto alto, isso ve-se na Terra com frequencia, agora o conglomerado suporta a teoria da existencia de água, mas não necessariamente no estado líquido, um glaciar na terra tambem forma conglomerados na sua base. não sei também se se formam conglomerados sem envolver água mas parece-me claro que na formação de conglomerados tem que existir algum solvente com os cimentos que integram e consolidam a rocha dissolvidos.
em relação aos padrões de que falava o luiz diogo, com base numa palestra a que assisti aqui no astropt, posso dizer que as pessoas muitas vezes veem o padrão que lhes intereça ver ou que lhes permite uma maior probabilidade de sobreviver, omesmo se passa com a nasa, ou não fosse esta representada por indivíduos que dependem do seu trabalho para sobreviver (prestando ainda um importante serviço tecnológico e de recolha de informação á humanidade), como vivemos num mundo gover nado por poucos dos humanos existentes e a maioria desses poucos é imcompetente e imponderada, projectos como os da NASA e da ESA são deixados para segundo plano, sendo estes forçados a apresentar resultados, infundados ou não. logo os padrões visionados pela NASA não são os mais rigorosos necessariamente, mas sim os que permitem assegurar o financiamento do projecto e a sua continuidade, não que os cientistas da nasa sejam imcompetentes, mas sim pessoas que veem os sonhos de uma carreira científica séria e extremamente útil afectados pelas pressões políticas de pessoas que só olham a factores como número de resultados e rapidez de obtenção destes.
ah! e obrigado pela dedicação que demonstram ao manter um blog de tanta qualidade e seriedade científica em funcionamento, não se encontram muitos sítios como este.
Author
Obrigado pelas suas palavras 😉
Caro Tiago,
falando um pouco sobre geologia em si, apesar de pertinente, seu comentário a respeito dos conglomerados tem uma explicação.
“agora o conglomerado suporta a teoria da existencia de água, mas não necessariamente no estado líquido, um glaciar na terra tambem forma conglomerados na sua base. não sei também se se formam conglomerados sem envolver água mas parece-me claro que na formação de conglomerados tem que existir algum solvente com os cimentos que integram e consolidam a rocha dissolvidos.”
Existem vários tipos de conglomerados, com diferenças bem perceptíveis entre si, gerados em diferentes ambientes sedimentares.
Você está correto quando fala na presença de um fluido, ou solvente, na chamada “matriz” da rocha, ou seja, a parte de granulometria mais fina da mesma. No caso dos glaciares, ou geleiras aqui no Brasil, formam depósitos de conglomerados glaciais que têm características bem espefíficas. A primeira e mais marcante, é a forma dos grãos em “ferro de engomar”, onde uma face dos grãos fica reta, devido ao atrito contra a superfície durante o deslizamento do glaciar, deixando os grãos em forma triangular. Outro fator importante, é quanto a seleção e maturação dos grãos na rocha, ou seja, a variação de tamanho e arredondamento dos mesmos. Lembrando que em glaciares também existem rios subglaciais, que correm sob a espessa camada de gelo. Em geral, depósitos glaciais e depósitos gerados por deslizamentos formam conglomerados mal selecionados e imaturos, já que o fator principal atuante é a gravidade. Já depósitos de conglomerados gerados em sistemas fluviais, mesmo em leques aluviais, possuem uma seleção e maturidade um pouco melhores, além de diferenças na composição da rocha. A presença dos grãos bem arredondados praticamente “mata” essa questão. Outro possível ambiente sedimentar formador para Marte seria um ambiente eólico, mas este tipo dificilmente gera conglomerados, e as rochas geradas pelo mesmo têm em geral as melhores maturidade e seleção dos ambientes sedimentares.
Portanto, como já explanaram aqui, são vários os fatores que levam a este tipo de interpretação, apesar de não se dever descartar outras interpretações, apenas chegam-se a analogia mais provável.
Abraços a todos, e parabéns aos editores do Blog pelo excelente trabalho!
Author
Excelente comentário!
Muito Obrigado, Daniel.
Dá até para deduzir que o sentido do riacho era da parte mais alta da cratera, as bordas formadas pelas paredes e penhascos, a correr para a parte mais escura da imagem, após a área chamada atualmente de Glenelg. E aposto que ali, naquela área escura, próxima ao sopé da Montanha Sharp vão ser revelados mais achados importantes… quem viver verá
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