Ontem à tarde os meus dois filhos não tiveram aulas. Decidi levá-los ao cinema. O filme escolhido, para agrado de todos, foi «Paranorman». Um filme de desenhos animados dobrado para Português.
O improvável herói do filme, Norman, é uma criança diferente das outras: consegue ver e falar com os mortos. E esta circunstância faz com que seja vítima de bullying na escola, o próprio pai o trate com rudeza e não tenha amigos. A mãe explica-lhe que “o medo leva as pessoas a fazer e dizer coisas más”.
O enredo do filme, não o vou contar para não estragar os planos de quem o pretenda ver. Mas adianto que mete uma criança que foi julgada e condenada por bruxaria e que lança uma maldição aos que a condenaram.
O filme é adequado para crianças e mesmo os adultos hão-de gostar.
No carro, durante o regresso a casa, expliquei aos miúdos que de facto, há alguns séculos atrás muitas pessoas, especialmente mulheres, foram acusadas de bruxaria. Acusadas com argumentos que nós hoje mal conseguimos entender. E condenadas a torturas horríveis, para em seguida serem queimadas.
E que na base de toda essa maldade, praticada por quem achava que estava a proceder bem, estava o medo do sobrenatural, a superstição, a intolerância e desconfiança por quem é diferente de nós.
É importante não esquecer a História. Conhecer as atrocidades que cometemos no passado para que não as repitamos no futuro. A Inquisição é apenas um exemplo. A história das religiões, cheias de sacrifícios humanos para apaziguar deuses e seres imaginários; o Holocausto e a crença numa raça superior; etc…
Mesmo nos nossos dias, a pseudo-ciência e a superstição grassam pelo planeta:
Em África, muitas crianças albinas são perseguidas e desmembradas por “bruxos” que as comercializam para serem utilizadas em rituais, acreditando que partes dos seus corpos transmitem poderes mágicos;
Nos E.U.A., políticos, organizações e pessoas influentes tentam levar a religião para a sala de aulas, ainda que a mascarem de ciência e lhe chamem “Theory of intelligent Design”. Não passa de Criacionismo, mas continuam a insistir…;
Em muitos países do Médio Oriente, extremistas religiosos impõem às mulheres um tratamento que no nosso mundo ocidental seria totalmente inaceitável. Mas como alegam que se baseiam na religião, tudo lhes é admitido e tolerado;
Um pouco por todo o mundo, avistamentos de OVNIs e toda uma fantasia em torno de seres extraterrestres, fazem lembrar as aparições de seres divinos do passado. Apesar de lhes ser dada uma roupagem mais tecnológica, a condizer com o avanço do nosso conhecimento, toda a irracionalidade e misticismo continuam bem vivos na mente de muita boa gente.
Não haja dúvidas que continuamos a ser perseguidos pelos demónios. O livro de Carl Sagan “Um Mundo Infestado de Demónios” devia ser de leitura obrigatória e de debate nas escolas. Talvez pelos alunos do 9º ano…
3 comentários
1 ping
Vi o filme hoje 😉
Ao contrário de ti, que conseguiste dar um spin de sentido crítico, eu vi o filme como propaganda à crença em fantasmas 🙁
Memorizei esta frase do filme, que vou entender como factual:
“Not believing in an afterlife is like not believing in astrology. ”
“Não acreditar no “além”, na vida após a morte, é como não acreditar na astrologia”
😛 😛 😛
Author
Essa é mesmo uma pergunta muito estranha num formulário para um emprego (a não ser para se trabalhar numa instituição religiosa…).
Deixar essa questão em branco, não seria uma opção?
Um mundo de idiotas criados a semelhança de seus deuses: hipócritas, egoístas, frios e ridículos. Por isso existe o preconceito, porque quem não segue os demais não tem lugar neste mundo. Falo isso porque tive que preencher uma pre- entrevista para um emprego que tinha uma pergunta muito estranha: Qual a sua religião? A mesma contia ateu como opção, mas eu tive que colocar católico porque se eu tivesse colocado ateu não teria o emprego.
[…] Ser Vigarista. Kumaré. Caça-Gurus. Enganar as pessoas. Penn & Teller. Mitchell & Webb. Misticismos ParaNorman. Bandoletes Quânticas. Água Quântica. Abuso quântico. Asas de Elefantes. Mundo Infestado de […]