Esta notícia tem sido bastante divulgada nas redes sociais: foi publicado um artigo com evidências de vida extraterrestre num meteorito. A notícia tem sido transmitida como a mais importante descoberta científica desde há 500 anos.
A notícia diz-nos que o meteorito caiu perto da cidade de Polonnaruwa no Sri Lanka a 29 de Dezembro de 2012.
A equipa de investigação foi liderada pelo conhecido Chandra Wickramasinghe.
Segundo os autores: “We report the discovery for the first time of fossilized diatoms in a carbonaceous meteorite that fell on 29 December 2012”. Ou seja, foram encontrados fósseis de diatomáceas nesse meteorito. Diatomáceas ou diátomos são algas marinhas microscópicas, sendo na verdade organismos unicelulares.
Segundo eles, isto prova que a hipótese da panspermia (que a vida veio do espaço exterior) está correcta.
Podem ler a notícia, aqui, e o artigo científico, aqui.
O que me apraz dizer?
Bem, eu já disse tudo o que tinha a dizer sobre este tipo de notícias sensacionalistas pela mesma revista, aqui.
Por isso, deixo-vos a análise de Phil Plait, aqui.
A suposta descoberta foi publicada por N. C. Wickramasinghe, um crente na ideia de panspermia, que até defende que a popular gripe – além de outras coisas triviais – vem do espaço. Qualquer coisa que não se saiba a procedência (ou mesmo quando se sabe, como a chuva vermelha de Kerala), imediatamente ele diz que veio do espaço.
A suposta descoberta foi publicada no Journal of Cosmology, que tem publicado artigos com dados que todos os cientistas refutam. Mesmo em astronomia, tem publicado artigos completamente errados, por exemplo sobre o suposto planeta Tyche. Ou seja, a credibilidade desta revista é próxima de 0. Além disso, um dos editores é precisamente o N. Chandra Wickramasinghe, por isso o trabalho não foi avaliado por equipas externas de cientistas.
Plait enviou um e-mail ao professor Patrick Kociolek, especialista nestes assuntos, que lhe respondeu que as imagens no artigo são realmente de diatomáceas/diátomos, mas não parecem estar fossilizados, e todos as evidências de diatomáceas que aparecem nas fotografias são de espécies conhecidas na Terra que pertencem a diferentes etapas no processo evolutivo terrestre. Conclusão do professor Kociolek: eles são da Terra e não do espaço. Este é um caso claro de contaminação do meteorito com água terrestre.
Na verdade, mesmo o meteorito poderá ser somente uma pedra terrestre já que não há qualquer prova que a pedra tenha vindo do espaço e esteja ligada a uma estrela cadente que viram no céu. Mesmo a fotografia que apresentam não se parece nada com um meteorito. Parece uma pedra que encontraram no fundo de um rio.
Frase final do Plait: “In the end, the idea of life in space is a scientific one, and must be solved with scientific processes. Careful scientific processes. After all, this is one of the biggest and most fundamental questions we have. Flamboyant articles with grand conclusions based on questionably-conducted research and incomplete reporting are not the right way to go about this.”
Conclusão do Plait sobre a tal “descoberta científica”: “It’s wrong. Really, really wrong. Way, way, way ridiculously oh-holy-wow-how-could-anyone-publish-this wrong.”
9 comentários
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Não sei se posso ressussitar um post antigo assim.
Mas resolvi consultar esta matéria quando estava numa discussão no G+
e também tive o acesso ao trabalho de publicaçao original da notícia
Neste post fala que a principal contra-evidência a notícia é não seria um meteorito mas sim uma pedra comum.
Já na matéria da publicação encontrei isto, que afirma que é mesmo um meteorito e prova.
http://journalofcosmology.com/JOC21/PolonnaruwaRRRR.pdf
Olá Xevious,
Os autores apenas afirmam que a rocha é um meteorito. Não apresentam quaisquer resultados que suportem a sua afirmação (leia com atenção o artigo, por favor). Mesmo que se provasse que esta rocha é, de facto, um meteorito, os autores não afastam qualquer hipótese das diatomáceas serem contaminantes terrestres. Mais, as frústulas exibidas nas imagens são típicas de diatomáceas da família Bacillariaceae (ver aqui alguns exemplares: http://westerndiatoms.colorado.edu/taxa/morphology/nitzschioid), organismos abundantes em rios e lagos em todo o mundo. Logo seria muito fácil estes organismos terem penetrado numa rocha com aspecto poroso como esta (uma característica invulgar nos meteoritos). 😉
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Xevious, no comentário acima do seu tem um link com os “buracos” nessa história… que o Sérgio também apontou de forma excelente 😉
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Continuação das críticas de Phil Plait a mais um artigo do Chandra cheio de buracos:
http://www.slate.com/blogs/bad_astronomy/2013/03/11/meteorite_life_claims_of_fossils_in_a_meteorite_are_still_wrong.html
Conclusão: A aranha sem pernas, não ouve!
Se a Panspermia for correta, os meteoritos que teriam vindo do espaço seriam tão antigos, que estariam já a kilometros abaixo da Superfície.
Eu tmb! kkkkk
Parei de ler aqui:
«Segundo eles, ISTO PROVA que a hipótese da panspermia (que a vida veio do espaço exterior) ESTÁ CORRETA»
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Este texto foi revisto pelo nosso especialista neste tipo de micro-plantas, Sérgio Paulino 😉
[…] – Panspermia. Zita Martins. Richard Hoover. Chandra Wickramasinghe. Vida na estratosfera. […]