“Até agora, estas estruturas eram meras curiosidades de laboratório. Mas afinal existem também nas nossas células e poderão permitir desenvolver novas terapias contra o cancro.
Sessenta anos após a histórica descoberta da estrutura em dupla hélice do ADN, na Universidade de Cambridge, por James Watson e Francis Crick, uma outra equipa da mesma universidade acaba de revelar a existência, nas células humanas, de regiões do ADN não com dois, mas com quatro cadeias moleculares entrelaçadas.
Estas estruturas, chamadas quadruplexos-G por se formarem em regiões do genoma ricas em guanina (um dos quatro componentes de base do ADN), demoraram dez anos a serem postas em evidência in vivo, explica aquela universidade em comunicado. (…)”
Leiam o artigo completo da Ana Gerschenfeld, no jornal Público, aqui.
2 comentários
Já não é a primeira vez que o paradigma da molécula de DNA é alterado. Nós estamos habituados a ver uma forma do DNA, que é o B-DNA, mas existem outras, nomeadamente A-DNA e Z-DNA, sendo que pelo menos esta última forma existem também in-vivo. Não são alterações tão bruscas como esta do quadruplex, mas ainda assim têm o seu interesse e mostram que a estrutura do DNA não ficou definida pelo Watson e Crick e acabou-se por aí a investigação e as descobertas.
Depois também não percebi o salto que os cientistas que descobriram estas estruturas in vivo fizeram para possíveis terapias para o cancro. Descobriram que estas estruturas se formam em locais ricos em guanina e especialmente durante a replicação (altura em que a molécula se encontra a sofrer várias torções o que, talvez, poderá levar à formação de estruturas menos comuns) e assumem não só que estas estruturas podem ter uma função mas que, para além disso, podem estar envolvidas no cancro. Especular é bom e é o primeiro passo para a descoberta, mas parece que o que eles estão é a simplesmente a atrair “patrocínios”. Afinal de contas pouca gente do público se interessa se o DNA é uma hélice dupla, tripla ou quadrupla, o que interessa é que isso cure o cancro e a SIDA.
Se com esta investigação os cientistas querem dizer que uma maneira de derrotar o cancro é atacar características de células de crescimento rápido, então não estão propriamente a dar uma novidade. Mesmo que se desenvolvam tratamentos baseados no bloqueio destes quadruplexos cujas consequências são a paragem/abrandamento da divisão celular, então estamos perante mais um tipo de quimioterapia com os efeitos secundários característicos do ataque às células de crescimento rápido: queda de cabelo, problemas de pele, problemas do tubo digestivo, etc..
Seja como for, isto é a opinião de quem leu o que se tem vindo a dizer sobre o assunto mas que ainda não passou da introdução do artigo.
Já agora, creio ter lido que a Nature só o vai disponibilizar gratuitamente durante uma semana, se o quiserem ler façam o download já.
O artigo científico está disponível de forma gratuita na Nature: http://www.nature.com/nchem/journal/vaop/ncurrent/abs/nchem.1548.html