Quando a lua está ausente do céu noturno, as estrelas permanecem como celestes pistas visuais. No entanto, é apenas nas aves, focas, e nos seres humanos que é conhecida a utilização das estrelas para orientação. Os Besouros africanos enroladores de bolas de esterco exploram o sol, a lua, e o padrão de polarização celeste para se moverem ao longo de caminhos em linha recta, longe da intensa competição pela pilha de esterco. Mesmo em noites limpas e sem luar, muitos besouros ainda se conseguem orientar por caminhos em linha recta. Isto levou-nos a colocar a hipótese de que os escaravelhos exploram o céu estrelado para orientação, um feito que até agora, tanto quanto é do nosso conhecimento, nunca foi demonstrado num insecto. Aqui, mostramos que os escaravelhos transportam as suas bolas de esterco por caminhos em linha recta sob um céu estrelado, e que perdem essa capacidade em condições nubladas. Num planetário, os besouros orientam-se igualmente bem quando sob um céu estrelado completo assim como quando apenas a Via Láctea está presente. O uso desta sugestão bidireccional celeste para orientação tem sido proposto para vertebrados, aranhas, e insectos, mas nunca foi comprovado. Esta descoberta representa a primeira demonstração convincente do uso do céu estrelado para orientação em insectos e fornece o primeiro uso documentado da Via Láctea para orientação no reino animal.
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Podem ler o paper original aqui.
Já este carocha, ou fusca no Brasil, usa o GPS 🙂
Também achei curioso os Biólogos terem usado a expressão algo arcaica “reino animal.” Porventura não terão visto os fungos nos excrementos do Scarabaeus viettei.
No entanto, a Drª Marie Bracke e os seus colegas estiveram de facto muito atentos, e para além de terem feito esta descoberta excepcional ainda afirmam que, muito provavelmente, a dança algo bizarra que estes animais desempenham no topo das suas bolas de excremento possa ser a forma deste insecto enquadrar as suas medidas de observação para orientação astronómica.
Que grande lição nos traz este fantástico animal. Literalmente da decomposição dos excrementos para o disco equatorial galáctico, o caminho das estrelas que vemos em noites limpas, sem luar.
5 comentários
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Muito interessante.
Qual será o mecanismo que usam? Será que quando iniciam o percurso “tiram um print” às estrelas e depois seguem esse padrão para se orientarem?
Quando vi isto no facebook, num mural de um grupo de astronomia, pensei que fosse uma brincadeira. Afinal é a sério.
E, não sendo uma brincadeira, isto é muito, mas mesmo muito interessante.
O comum dos cidadãos (grupo em que também me incluo), que desconhece os detalhes dos olhos de alguns coleópteros que o Jorge Almeida acima refere, sempre se habituou a pensar que era um sinal de inteligência a circunstância de já o Homem primitivo procurar padrões no céu para se orientar, para estabelecer um calendário, determinar as alturas das sementeiras, praticar certos atos religiosos, etc.
Mas talvez esta ligação à “esfera celeste” não seja assim tão especial, já que outros seres vivos, totalmente desprovidos de inteligência (tal como nós a definimos) recorrem também a esse tipo de expediente para se orientarem e, quem sabe, para determinar a altura em que devem iniciar uma migração.
Talvez a Astronomia não tenha na sua base uma atitude resultante da inteligência humana. Talvez resulte do instinto animal, atingido um grau incomensuravelmente maior de complexidade no Homem devido à inteligência que possui.
Se nao fosse este escaravelho, estávamos sob uma camada de 2,5km de espessura de escrementos!
Há coleópteros que usam a luz polarizada para se orientarem, bem como certos dípteros (=moscas) que têm olhos listrados que usam luz polarizada (caso de Tabanidae, vulgo “tavões” ou “tabões” – alguns têm olhos com riscas). Não é exclusivo apenas dessas ordens supracitadas.
Obrigado Jorge por essa informação mais precisa, aprendo eu e aprendem os leitores 🙂
[…] 61 – Animais no Espaço (tag): Laika. Escaravelho orienta-se pelas estrelas. […]