Despedaçada por um buraco negro

VLT observa em directo uma nuvem de gás a aproximar-se o mais possível do monstro que vive no centro da Via Láctea!

Novas observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO mostram, pela primeira vez, como é que uma nuvem de gás está a ser despedaçada pelo buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia. A imagem mostra as observações VLT de 2006, 2010 e 2013, a azul, verde e vermelho, respectivamente. Devido à distância e ao facto de vermos a órbita num plano muito inclinado à medida que a nuvem cai em direção ao buraco negro, apenas podemos ver a posição e não a forma da nuvem na imagem. O modo como a nuvem se encontra esticada pode ser visto em observações da sua velocidade, as quais permitem aos astrónomos descobrir onde se situam as diferentes partes da nuvem na órbita. Créditos: ESO/S. Gillessen

Novas observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO mostram, pela primeira vez, como é que uma nuvem de gás está a ser despedaçada pelo buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia. A imagem mostra as observações VLT de 2006, 2010 e 2013, a azul, verde e vermelho, respectivamente. Devido à distância e ao facto de vermos a órbita num plano muito inclinado à medida que a nuvem cai em direção ao buraco negro, apenas podemos ver a posição e não a forma da nuvem na imagem. O modo como a nuvem se encontra esticada pode ser visto em observações da sua velocidade, as quais permitem aos astrónomos descobrir onde se situam as diferentes partes da nuvem na órbita. Créditos: ESO/S. Gillessen

Novas observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO mostram pela primeira vez uma nuvem de gás a ser despedaçada pelo buraco negro de massa extremamente elevada que se encontra no centro da nossa Galáxia.
A nuvem está tão esticada que a sua parte da frente já passou pelo ponto mais próximo e desloca-se agora para longe do buraco negro a mais de 10 milhões de quilómetros por hora, enquanto a cauda da nuvem ainda se encontra a cair em direção ao buraco negro.

Esta simulação de uma nuvem de gás a passar perto do buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia, mostra o processo em meados de 2013. As novas observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO confirmam que a nuvem se encontra tão esticada que a parte da frente passou já pelo ponto da órbita mais próximo do buraco negro e está agora a afastar-se a mais de 10 milhões de km/h, enquanto a cauda ainda está a cair em direção ao buraco negro. Créditos: ESO/S. Gillessen/MPE/Marc Schartmann

Esta simulação de uma nuvem de gás a passar perto do buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia, mostra o processo em meados de 2013. As novas observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO confirmam que a nuvem se encontra tão esticada que a parte da frente passou já pelo ponto da órbita mais próximo do buraco negro e está agora a afastar-se a mais de 10 milhões de km/h, enquanto a cauda ainda está a cair em direção ao buraco negro. Créditos: ESO/S. Gillessen/MPE/Marc Schartmann

Em 2011 o Very Large Telescope do ESO (VLT) descobriu uma nuvem de gás com várias vezes a massa da Terra a acelerar em direção ao buraco negro que se encontra no centro da Via Láctea (leiam aqui, aqui, e aqui).
Estima-se que o buraco negro no centro da Via Láctea, conhecido pelo nome formal de Sgr A* (Sagitário A asterisco), tenha uma massa de cerca de quatro milhões de vezes a da Sol. É, claramente, o buraco negro de massa extremamente elevada mais próximo de nós, sendo por isso o mais adequado para estudar detalhadamente os buracos negros.
Esta nuvem está agora a efectuar a sua máxima aproximação a este objeto e as novas observações VLT mostram que a nuvem está a ser esticada pelo campo gravitacional extremo do buraco negro.

“O gás que se encontra à cabeça da nuvem está esticado ao longo de mais de 160 mil milhões de quilómetros em torno do ponto da órbita mais próximo do buraco negro. E o ponto de maior aproximação está a apenas um pouco mais do que 25 mil milhões de quilómetros de distância do buraco negro propriamente dito – por pouco não caindo lá para dentro,” explica Stefan Gillessen (Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, Garching, Alemanha), que liderou a equipa de observação. A distância da maior aproximação corresponde a cerca de cinco vezes a distância Neptuno – Sol, o que é realmente muito próximo para um buraco negro com uma massa de quatro milhões de vezes a do Sol!
“A nuvem está tão esticada que atingir o ponto de maior aproximação ao buraco negro é um processo que dura, não apenas um instante, mas um longo período de pelo menos um ano.”

Novas observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO mostram como é que uma nuvem de gás a passar perto do buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia está a ser despedaçada. O eixo horizontal mostra a extensão da nuvem ao longo da sua órbita e o eixo vertical mostra as velocidades das diferentes partes da nuvem. A nuvem está esticada de modo dramático e a velocidade da parte dianteira é vários milhões de km/h diferente da velocidade da cauda. Créditos: ESO/S. Gillessen

Novas observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO mostram como é que uma nuvem de gás a passar perto do buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia está a ser despedaçada. O eixo horizontal mostra a extensão da nuvem ao longo da sua órbita e o eixo vertical mostra as velocidades das diferentes partes da nuvem. A nuvem está esticada de modo dramático e a velocidade da parte dianteira é vários milhões de km/h diferente da velocidade da cauda. Créditos: ESO/S. Gillessen

À medida que a nuvem de gás se estica, a sua radiação torna-se mais difícil de observar. Mas utilizando o instrumento SINFONI montado no VLT, para observar a região próxima do buraco negro durante mais de 20 horas de exposição – a exposição mais profunda alguma vez feita a esta região com um espectrógrafo de campo integral – a equipa conseguiu medir as velocidades das diferentes partes da nuvem à medida que esta se aproxima o máximo possível do buraco negro central.

“O mais excitante que vemos nestas novas observações é a cabeça da nuvem a deslocar-se outra vez na nossa direção, ao longo da órbita, a mais de 10 milhões km/h – cerca de 1% da velocidade da luz,” acrescenta Reinhard Genzel, líder do grupo de investigação que estuda esta região há quase vinte anos. “O que significa que a parte dianteira da nuvem já passou pelo ponto da órbita mais próximo do buraco negro.”

Estas observações obtidas pelo instrumento SINFONI, montado no Very Large Telescope do ESO, mostram como é que uma nuvem de gás está a ser esticada e despedaçada à medida que passa perto do buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia. O eixo horizontal mostra a extensão da nuvem ao longo da sua órbita e o eixo vertical mostra as velocidades das diferentes partes da nuvem durante os últimos dez anos. A nuvem está agora (2013) esticada de modo dramático e a velocidade da parte dianteira é vários milhões de km/h diferente da velocidade da cauda. Créditos: ESO/S. Gillessen

Estas observações obtidas pelo instrumento SINFONI, montado no Very Large Telescope do ESO, mostram como é que uma nuvem de gás está a ser esticada e despedaçada à medida que passa perto do buraco negro de massa extremamente elevada situado no centro da nossa Galáxia. O eixo horizontal mostra a extensão da nuvem ao longo da sua órbita e o eixo vertical mostra as velocidades das diferentes partes da nuvem durante os últimos dez anos. A nuvem está agora (2013) esticada de modo dramático e a velocidade da parte dianteira é vários milhões de km/h diferente da velocidade da cauda. Créditos: ESO/S. Gillessen

A origem da nuvem de gás permanece um mistério, embora não haja falta de ideias sobre este assunto. Os astrónomos pensam que a nuvem de gás possa ter sido criada por ventos estelares emitidos por estrelas que orbitam o buraco negro. Ou pode também ser o resultado de um jacto emitido a partir do centro galáctico. Outra opção era a de uma estrela estar no centro da nuvem e neste caso o gás viria, ou de um vento desta estrela, ou de um disco planetário de gás e poeira que se encontrasse em redor da estrela.
As novas observações diminuem, no entanto, as possibilidades.

“Tal como um desafortunado astronauta num filme de ficção científica, vemos que a nuvem está a ficar tão esticada que parece um esparguete, o que quer dizer que provavelmente não terá uma estrela no seu interior,” conclui Gillessen. “Neste momento pensamos que o gás veio muito provavelmente das estrelas que orbitam o buraco negro.”

O culminar deste evento cósmico único no centro da nossa Galáxia está a acontecer e a ser observado de perto por astrónomos em todo o mundo. A extensa campanha de observação fornecerá imensos dados, não apenas revelando mais sobre a nuvem de gás, mas também observando as regiões próximas do buraco negro, as quais não tinham ainda sido estudadas anteriormente, e os efeitos da gravidade extremamente elevada.

Este é um artigo do ESO que pode ser lido no original, aqui.

8 comentários

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  1. Olá,
    Nossa professora indicou o site, e só agora entrei, estudamos em grupo e visitamos o site, não reparei as perguntas dela.
    Obrigado pelas respostas

  2. E o que essa luz, raios Gama poderia fazer aqui?
    Estamos protegidos com a Camada de Ozônio?

    Pode haver mais fenômeno desse, em outro lugar, mais perto daqui?
    Obrigado

    1. Yuri ou Amanda, o IP é o mesmo, as perguntas são muito similares, a resposta é a mesma: isto nada tem a ver com a Terra.

    2. Já foram vistos alguns buracos negros ejetando raios cósmicos, no caso raios gama.
      Poderia ser letal para algum planeta estar na direção deste raio.

      Mas isto ocorre só em buracos-negros super-massivos, que em geral só tem um por galáxia.
      Quando eles estão assim dizem-se que estão “ativos”.

      Mas o nosso, não esta assim, esta calmo.
      E uma nuvem mesmo grande não causaria este fenômeno (se bem que não se pode ter certeza).
      Precisaria ter muito mais massa, como uma estrela pelo menos.

      Mas a probabilidade de um raio assim acertar a Terra em cheio, seria uma probabilidade muito pequena, seria como ganhar na loteria, só que ao contrário hehe.

  3. Olá,
    – Esse imenso buraco negro, ou a nuvem que está se aproximando dele, ou o que originou a nuvem de gás, mesmo não sabendo ao certo o que a originou, podem influenciar de alguma forma o Sistema Solar, a Terra, mesmo que de longe? Ou a gravidade extremamente elevada?

    – Podem caminhar para cá, ou outro buraco negro?

    “O mais excitante que vemos nestas novas observações é a cabeça da nuvem a deslocar-se outra vez na nossa direção, ao longo da órbita, a mais de 10 milhões km/h – cerca de 1% da velocidade da luz,” acrescenta Reinhard Genzel, líder do grupo de investigação que estuda esta região há quase vinte anos.

    – Seria em direção da Terra?

    A minha professora indicou esse site, e realmente é muito bom! Obrigado!

    1. Não.
      Não.
      Não chegará nem perto da Terra.

      abraços

    2. E já agora, Yuri, tem o mesmo IP da Amanda, que faz perguntas semelhantes o tempo todo.

  4. Esse universo eim, sempre nos supreendendo, legal.
    Eu já sabia a algum tempo que esta núvem estaria se aproximando do nosso buraco-central, mas parece que ela vai se escapar dele ..

    Oq é interessante, pois assim estamos assegurados que ele não despejaria alguma rajada cósmica de raios gama por receber excesso de matéria acrescida.
    Que apesar de poder ser um show espetacular, prefiro não correr este risco..

    Claro, alguns poderão dizer que esta nuvem tem massa de menos pra provocar este fenômeno, pode ser, mas ela é grande em..
    Outros que não haveria risco, ou ainda que o evento mesmo que direcionado para nossa direção chegaria aqui só daqui a muito tempo.

    Mas também temos que ver que não é bem assim, a luz que estamos vendo agora, já viajou todo esse tempo, então se uma rajada acontecesse na nossa direção, ela viria, como que ‘logo atrás’.

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