Satélite em queda abatido!

A 26 de Janeiro de 2008 demos uma notícia em 1ª mão: os EUA tinham perdido o controlo de um dos seus satélites espiões.
O satélite iria bater na Terra nos finais de Fevereiro.
Não se sabia exatamente onde ele iria cair, mas havia rumores de que o satélite podia ter materiais potencialmente perigosos.

Não era a primeira vez que um satélite estava em queda.
O perigo era de uma reentrada não controlada: devido a possíveis materiais perigosos, devido a poder cair numa zona populacional, e devido a poder cair em território “inimigo” o que não convém quando se trata de um satélite espião.

A 16 de Fevereiro de 2008 soubemos que devido ao satélite conter materiais perigosos, o governo americano decidiu enviar um míssil para destruir o satélite antes deste entrar na atmosfera terrestre.
O abate iria custar 60 milhões de dólares.

A destruição com um míssil de um satélite de reconhecimento avariado (anunciada recentemente pelo Pentágono) é um sinal claro de que os EUA possuem capacidade para abater satélites em órbitas baixas, usando um sistema naval, embora com algumas limitações.
A destruição do NROL-21 foi anunciada como uma medida de prevenção para que o satélite em questão não derrame qualquer combustível tóxico na superfície terrestre. O satélite possui hidrazina que é usada para os motores de manobra do satélite. Como este nunca foi usado, a hidrazina encontra-se intacta dentro do satélite. Ora, a hidrazina é um combustível tóxico e caso chegasse à superfície terrestre podia ser perigosa. É possível também que o satélite tenha um gerador de radioisótopos (RTG), embora nada tenha sido dito publicamente sobre isto.
Mas talvez o aspecto mais interessante neste caso é a sua destruição por um míssil SM-3 lançado de um navio AEGIS, que pode ser interpretada como uma demonstração de que o actual sistema antimíssil da marinha americana pode também ser adaptado para abater satélites espiões.
O navio e o míssil em questão fazem parte do sistema de defesa de mísseis balísticos (BMD) da marinha norte-americana e não estão concebidos para abater satélites em órbita.
Mas é notório com este caso, que numa situação de conflito, o sistema pode ser adaptado para abater satélites inimigos em órbita baixa.
Portanto, a destruição do NROL-21 não é apenas uma precaução contra a meia tonelada de hidrazina que o satélite avariado contém e um eventual gerador de radioisótopos (RTG).
É também uma demonstração militar das capacidades norte-americanas no domínio da guerra anti-satélite (ASAT), embora estejamos a falar de um satélite numa órbita relativamente acessível e de um sistema concebido para outro tipo de funções.

Um cruzador americano baseado no Pacífico vai abater com um míssil um satélite espião avariado. É uma medida de precaução para que nada chegue cá abaixo (nem combustível, nem algum segredo). Mas é também um acto com implicações técnicas e políticas interessantes, que nos passa completamente ao lado como muitas outras coisas na espuma dos dias.
Na parte técnica é uma espécie de ficção científica que se torna realidade. Um navio que abate um satélite com um sistema concebido não para abater satélites, mas sim mísseis balísticos. Embora limitado a órbitas baixas (que são justamente aquelas percorridas pelos satélites de reconhecimento), o sistema de combate em questão (um sistema AEGIS/SM-3) mostra uma versatilidade de emprego, que não seria de esperar num sistema destes. Com tal emprego, o sistema valoriza e outros utilizadores (fora dos EUA) ficarão a pensar se um dia não vale a pena ter a última versão do sistema nos seus navios de guerra. Estou só a lembrar-me aqui ao lado da Espanha, que vai ter 6 fragatas com o sistema AEGIS, embora sem capacidade antibalística.
Na parte política, os EUA mostram que o programa anti-míssil (BMD) da marinha americana tem grandes potencialidades e que além da sua vertente antibalística, pode também ser adaptado para acções anti-satélite, embora de forma limitada e pontual. Ora, esta vertente tem uma influência política interna e externa. A nível interno reforça o papel do programa BMD da marinha baseado no binómio Aegis/SM-3, a nível externo projecta a capacidade americana deste sistema e o seu potencial de combate em caso de conflito.
Talvez nada disto seja importante para nós, mas é de espantar que não se veja na imprensa (na televisão já nem se fala) uma análise aprofundada sobre este evento. Passa por nós como se não existisse. Mas existe e vai acontecer depois de amanhã no meio do oceano com navios a fazer pontaria a uma coisa avariada, que devia andar lá por cima a espiar.
P.S. Já agora ver o único artigo de análise sobre isto publicado na área militar.

Podem ver uma animação do satélite a ser abatido pelo míssil, aqui.

Dia 21 de Fevereiro de 2008, o satélite foi abatido com sucesso!
Sabe-se que o satélite foi abatido à primeira tentativa.
Foi a primeira vez que isto foi tentado, daí que seja relevante que logo à primeira vez tiveram sucesso!

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