Reflexões

O membro da nossa comunidade Samuel Coelho deu-nos a conhecer este artigo do Professor Orfeu Bertolami sobre o ensino superior em geral em Portugal e em particular sobre a estagnação da astronomia portuguesa.
Na lista da comunidade, discutimos bastante este assunto nesta thread.

Pessoalmente, na lista, falei sobre a minha própria experiência no ensino superior em Portugal comparado com fora do país, referi que já há alguns livros sobre esta temática de como o modelo de ensino superior na “velha Europa” está falido, repeti o que já outros tinham dito que o que conta é as pessoas seguirem os seus sonhos (Les Brown: “Shoot for the moon. Even if you miss, you’ll land among the stars”) da maneira que preferirem, arriscarem, e levantei a ponta do véu sobre o que penso que é preciso mudar em Portugal – a mentalidade das bases!

Isto faz-me voltar a um tema de há meses atrás: os Jogos Olímpicos.
Tivemos 77 representantes nacionais, mas somente 2 medalhas (Nélson de Ouro, e Vanessa de Prata; e mesmo na derrota tivemos sinais positivos do Obikwelu, da Naide, do Gustavo Lima, entre outros).

Mas o que chocou mais os portugueses foram as razões apresentadas por alguns atletas que não conseguiram bons resultados. 13 delas:

– tenho asma, não vou aos jogos;
– a poluição em Pequim prejudicou-me;
– o meu cavalo assustou-se com os ecrans gigantes;
– tive problemas gastro-intestinais durante a corrida;
– não estava a conseguir ver bem;
– fiquei intimidada com o estádio tão cheio;
– fiquei intimidada com tantas atletas a correr ao mesmo tempo;
– não sou dada a grandes competições;
– a culpa foi do árbitro;
– estava num dia mau;
– não vale a pena correr, porque as africanas vão ganhar;
– comecei a correr muito depressa, e depois as pernas não davam mais;
– de manhã não é para competir, mas para estar na caminha.

Comparem agora essas atitudes com estas:
– a nadadora Dana Torres não se desculpou com os seus 41 anos ou com a sua filha, e ganhou 3 medalhas de prata.
– o Phelps nos 200 metros mariposa teve um problema com os óculos – deixavam entrar água – o que não lhe permitia ver a parede a cada 50 metros, mas mesmo assim continuou, ganhou, e bateu o recorde do mundo.
– a Shalane Flanagan teve intoxicação alimentar o que a obrigou a ir ao hospital e a não treinar. Mas mesmo assim achou que não devia ir a Pequim “passar férias”. Foi correr 10.000 metros e ganhou a medalha de bronze.

Qual é a diferença entre estas atitudes?
Não me parece que a culpa seja dos nossos atletas.
A culpa é da mentalidade portuguesa. Além de uma mentalidade pequena, limitada, os portugueses têm a incrível mania, e eu já o digo há vários anos e já fui mal-interpretado várias vezes por o dizer, de arranjarem sempre desculpas para não fazerem as coisas. Enquanto noutros países a mentalidade é de fazer-se. Faz-se ou não se faz, mas não se arranja desculpas. Em Portugal há a mentalidade de “fazia-se, mas…”. Há sempre razões, justificações, desculpas externas para não se fazer alguma coisa.
E posteriormente, constantes lamúrias pelo que não se fez e pela vida que levam (como diria Robert West: “Não é necessário nenhum talento, abnegação, inteligência e carácter para se estabelecer no ramo das lamúrias”).

(a excepção é dos Paralímpicos que teriam todas as razões do mundo para apresentarem desculpas MUITO válidas para não fazerem… mas PREFEREM empregar o tempo a terem melhores resultados que os Olímpicos! 7 medalhas!)

É preciso arriscar, é preciso tentar, é preciso fazer!
É preciso ganhar (ou no mínimo, TENTAR o melhor) independentemente das circunstâncias, das razões, das desculpas!

E se as desculpas/razões fazem parte da mentalidade portuguesa, é natural que também se veja na astronomia.
No Blog têm havido várias críticas, como aqui e aqui, a alguns sectores da astronomia em Portugal. Na lista, têm havido muitas mais críticas, sobretudo ao nível de haver menos encontros nacionais dos que havia antigamente.
Mas vai-se a ver e há um rol enorme de desculpas para não se fazer alguma coisa – mesmo neste projecto astroPT reparamos nisso por vezes.
As razões/justificações/desculpas são variadas:
– não tenho tempo;
– tenho o meu trabalho;
– não há fundos para fazer essa actividade;
– nesse dia/fim-de-semana não posso;
– tenho que estar com a minha família;
– vou estar com a minha namorada;
– vai a pessoa X e eu não gosto dela;
– hoje não posso porque me dói o Y;
– já tenho o meu projecto individual;
– não gosto de colaborações;
– as associações não promovem;
– tou de férias;
– etc…

Longe de mim dizer que algumas das razões não são legítimas; são. Mas, tal como as de cima, não passam de justificações/desculpas para não se fazer algo.
Antes de apontar o dedo aos atletas portugueses, é preciso ver a “Big Picture” e perceber que é toda uma cultura, uma mentalidade que está em causa. É preciso olhar para dentro e perceber que nós próprios damos desculpas similares no dia a dia em diferentes projectos.
No meu entender, mais do que melhorar condições (seja para atletas, seja para a astronomia) é preciso mudar esta mentalidade de insucesso.
Em vez de se inventarem desculpas para não se fazer, em vez de nos resignarmos que não conseguimos mais; está na altura de nos unirmos, de todos puxarmos para o mesmo lado, de colaborarmos, de se passar a dizer que se faz, e de se fazerem as coisas!

Isto vê-se no desporto, na educação superior, ou na astronomia.
A mentalidade é a mesma.

Claro que não são só as bases que têm culpa. Quem está no poder, quem está numa posição de fomentar positivamente as actividades e mudanças, também deveria fazer por melhorar as condições, seja no desporto (por exemplo, nos Jogos Olímpicos, o Presidente do COP demitir-se antes de atletas portugueses competirem foi uma autêntica palhaçada), seja na educação superior, ou seja na astronomia. Mas cada qual tem os “presidentes” que merece, no sentido que se não querem, façam por mostrar porque eles são errados e tentem pôr lá alguém de maior mérito!

Novamente, o que penso é que são as bases que devem fazer pela mudança, em vez de atirarem as responsabilidades para outros. Cada um de nós deve assumir as responsabilidades e fazer mais e melhor pela educação e pela astronomia.

Ou seja, voltando ao início deste texto, concordo inteiramente com o artigo do professor Orfeu Bertolami de que é preciso modificar o ensino superior e a forma como a astronomia é tratada em Portugal. Penso que a solução para isso passa por incentivar a população, fazê-la ver as vantagens da mudança, incutir-lhe uma maior literacia científica e educacional, e a partir daí fazer as mudanças necessárias em termos estruturais no ensino superior astronómico.

Para mudar a mentalidade:
O Yoda dizia: “Do or do not. There is no try”.
A Nike diria: “Stop complaining. Just do it!”
Walt Disney: “The way to get started is to quit talking and begin doing.”
Smash Mouth (“All Star”, do Shrek): “You’ll never know if you don’t go. … Only shooting stars break the mold
‘N Sync: “You can be what you wanna be… just believe in yourself“.
Adlin Sinclair: “To move ahead, you need to believe in yourself“.
Swami Vivekananda: “We are responsible for what we are, and whatever we wish ourselves to be, we have the power to make ourselves.”
Bach: “Sooner or later, those who win are those who think they can.”
Gandhi: “Man often becomes what he believes himself to be.”
Ghandi: “Be the change you wish to see in the world.”
Ellie Arroway: “The world is what we make of it!”
Eu: Avança! Faz. Não gastes o teu tempo com desculpas para não fazeres.

Love what you do!

Do what you love!

Não se queixem. Se não estão satisfeitos, mudem de vida!

Sejam positivos! Sejam optimistas! Sejam felizes!

3 comentários

3 pings

  1. Olá!

    Sobre este tema aconselho-te a ler o livro ou a ver

    Excuses begone:
    http://youtu.be/VLl_7e9oLtk

    Está aqui o filme todo.
    É muito bom.

  2. Sobre estes temas, aconselho a ver estes vídeos.
    São muito fortes e poderosos.

    Dr. Wayne Dyer
    Excuses begone:
    http://youtu.be/inT40nOggUs

    Dr. Deepak Chopra
    O poder do pensamento:
    http://youtu.be/t_xZMnXRwA8

  3. Este post está a ser bastante discutido nesta thread:
    http://groups.google.com/group/astro-PT/browse_th

    Outros membros da nossa comunidade têm dado a sua interessante e importante opinião sobre isto, logo quem tiver interesse neste tema, aconselho a dar uma espreitadela à thread de modo a lerem essas outras opiniões, e quiçá até decidem também comentar lá na lista.

  1. […] – Mentalidades: Diversidade Humana. Reflexões. Sábios. Oportunidades. Arriscar. Ganhar. Comprimido Vermelho. Americana. Humildade vs. […]

  2. […] as escolas Aproveitem o dia, sigam os vossos sonhos, questionem, e inovem. Sejam diferentes. Sejam felizes. Tornem as vossas vidas extraordinárias. Será este o professor ideal? Este post não tem […]

  3. […] Seria indiferente! Ganhávamos na mesma! Então, queixam-se para quê?? Comparem esta mentalidade portuguesa de choradinhos, de queixas, de desculpas, de lamúrias, e anti-arriscar, com a atitude americana. Os EUA jogaram sem medo, abertos, a arriscarem. Nos […]

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