Lições das Viking:
Por motivos profissionais, decidi este Verão ler literalmente centenas de páginas sobre as experiências das sondas Viking em Marte. Começando pelo planeamento das experiências, passando pela sua execução e acabando nas interpretações dos resultados, li de tudo um pouco.
Para ler alguma coisa sobre elas, está aqui um reduzido resumo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Viking_biological_experiments
Cheguei à conclusão que o que fui aprendendo sobre elas em várias disciplinas relacionadas com este assunto, o que leio na net, e os vários livros que as mencionam, sofrem do mesmo mal: está tudo demasiado simplificado e algumas vezes até com ideias erradas.
As experiências foram mais complexas do que aquilo que normalmente se pensa e os seus resultados não foram assim tão claros como muitas vezes se quer dar a entender, deixando no ar muito espaço para interpretações.
Vem isto a propósito desta notícia que saiu na SPACE.COM: http://www.space.com/news/070823_mars_life.html
O debate sobre se as Viking detectaram vida ou não começou pouco depois das sondas pousarem em Marte e continua mais de 30 anos depois.
E dos dois lados da barricada encontram-se cientistas muito inteligentes e conceituados.
Do que li retirei algumas conclusões:
– por vezes, nem os dados científicos põem fim a um debate entre cientistas.
– há posições por vezes demasiado extremadas, e se calhar o mais eficiente seria procurar um meio termo.
– os que advogam que as Viking não detectaram vida baseiam-se sobretudo na experiência científica GCMS (e nas fotos tiradas pelas Viking que também não detectaram vida macroscópica). A interpretação dos resultados das outras experiências biológicas foi adaptada com base no resultado da GCMS. Quiçá, os que advogam esta posição deviam ter em conta as recomendações da American Association for the Advancement of Science, e perceber que talvez as experiências e as interpretações dos resultados sofrem de “terrocentrismo”, e consequentemente talvez se se procurasse vida verdadeiramente marciana, extraterrestre, com características diferentes da nossa, talvez as interpretações dos resultados sejam diferentes…
– os que advogam que as Viking podem ter detectado vida baseiam-se nos dúbios resultados das outras 3 experiências. Para estes, não há qualquer processo químico natural no solo de Marte que resultaria naqueles resultados e assim só uma via é possível: vida marciana microscópica. Estes rejeitam completamente o resultado conclusivo da GCMS para se agarrarem a resultados dúbios. Agarram-se com uma fé desmedida à ideia de um Marte com vida, tal como Lowell 100 anos antes. Desta vez já não há Marcianos verdes com antenas e muito inteligentes que constroem fantásticos canais à superfície, mas sim quiçá marcianos microscópicos que perfuram pequeníssimos túneis no sub-solo de Marte. Esta fé em querer acreditar em algo (uma das frases-chave da série Ficheiros Secretos) pode mover montanhas, mas não produz vida, e nem sequer se pode considerar ciência. Como Karl Popper notou, se uma hipótese não é falsificável, então não deverá ser considerada ciência. Será que é possível matar a imaginação dos que continuam a querer ver em Marte um sítio para a vida, mesmo após todas as evidências em contrário? Não me parece. O que me parece é que em face de evidências negativas, quem quer continuar a acreditar, inventa sempre uma nova forma de que a vida possa existir lá, e sendo assim a falsificabilidade não existe.
Pessoalmente, gostaria imenso que houvesse vida em Marte. Infelizmente, por tudo o que li tenho que concluir que o contrário é que é a realidade, independentemente dos meus desejos e do imaginário colectivo feito de um Marte “vivo”.
Curioso é que Marte, a Lua, o Sol, Mercúrio, e Vénus, podem não ser os únicos sítios no Sistema Solar onde a imaginação, a especulação, e a crença científica, deu lugar à desilusão.
Uma característica muito humana é não se aprender com os erros…
E Europa, Titã, Enceladus, etc, estão já aí à porta….
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