(crédito: Pedro Ferrari, Diário de Notícias)
O Marco Santos é um jornalista, conhecido na blogosfera como Marco Bitaites.
É um blogger que no seu famoso blog Bitaites, decidiu começar uma secção de entrevistas, de modo a “dar a conhecer pessoas com ideias, empreendimentos e conhecimentos para partilhar, seja qual for a área (…)”, “pessoas (que) aspiram a pensar pela própria cabeça (…)”.
Vai daí, como primeira entrevista… surpreendentemente… entrevistou-me a mim.
A entrevista tem por título: “Carlos Oliveira, o emigrante cósmico”
A entrevista é grandita e cheia de opiniões pessoais sobre uma diversidade de assuntos.
Em MSWord, a entrevista teve 10 páginas, e era “seguida”, talvez um pouco maçuda.
No Bitaites, o Marco deu-lhe uma estrutura mais profissional, muito mais fluída, e mais fácil de ler.
Podem ler a entrevista, aqui.
É uma entrevista que no website tem 3 páginas.
O Marco diz isto de mim:
“Oliveira é um homem directo e assertivo – nas suas respostas não há espaço para floreados diplomáticos. As opiniões incomodam, isto é, desafiam.”
No alvo! 😀
Para vos “abrir o apetite”, deixo-vos algumas frases:
Na 1ª página:
– “Eu não gosto de diversas teorias científicas”: SETI, Quântica, Big Bang, Multiverso, …
– “Sempre que penso nestas coisas lembro-me das palavras de Xenophanes. Este filósofo grego, que viveu cerca de 100 anos, dizia há mais de 2500 anos que se as vacas e os cavalos conseguissem desenhar, imaginariam deuses à sua imagem. Hoje, ele diria o mesmo dos extraterrestres da ficção científica, por exemplo.”
– “o Universo não quer saber do que eu penso e das minhas filosofias. Os resultados científicos nem sempre são aqueles que eu gosto”.
Na 2ª página:
– “A crença em OVNI’s não é mais do que uma religião”.
– “Eu sigo a ideia do «sonho americano»”
– “O problema da Energia Negra é que não sabemos o que é. Na verdade, não sabemos nada! (…) Não se sabe o que é, nem sequer se sabe se é uma força, nem sequer se é negra, nem sequer se é energia!”
– “«entanglement» (…) É algo que me choca profundamente (…) Tenho a impressão de que muito do que sabemos hoje será deitado ao caixote do lixo…”
– “O que me «irrita» é o geocentrismo psicológico (…) É tudo sobre nós. É uma forma de nos sentirmos especiais, de nos sentirmos interessantes. É o ego humano a funcionar, aliado a uma tremenda falta de imaginação para pensar em vida totalmente diferente da nossa.”
– “Vida «humanamente inteligente» parece-me extremamente improvável, senão impossível. Da mesma forma que não há outro Carlos Oliveira com as mesmas características das minhas no mundo”
Na 3ª página:
– “Prefiro saber que foi um médico que salvou a vida de uma criança, por exemplo, após um terramoto (prefiro dizer que foi Graças ao Médico), do que me pôr a gritar Graças a Deus que foi salva essa criança (o que leva à consequência que esse mesmo Deus deixou que todas as outras crianças morressem).”
– “Infelizmente, vivemos numa democracia em que a maior parte das pessoas sofre de iliteracia funcional. Se vivessemos num sistema de meritocracia, estas questões de «agradecer ao Pai Natal» nem se punham.”
– “prefiro saber (ter conhecimento, que é contrário de «acreditar») que já fui parte de várias estrelas, que os átomos que me constituem já fizeram parte de estrelas e planetas, e que, quando morrer, esse meu ser irá novamente fazer parte de estrelas, planetas, nebulosas, e do Universo no seu todo.”
– “Eu faço parte do Universo, e o Universo faz parte de mim. (…) Isto não são crenças; isto é a realidade do Universo.”
– “É neste conhecimento que me baseio. Não é uma questão de acreditar, mas sim de saber. E é neste «Deus» que acredito: no ser humano que através da sua inteligência, racionalidade, e pensamento crítico, irá evoluir para compreender cada vez melhor o Universo que o rodeia.”
Leiam toda a entrevista.
18 comentários
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olá amigo Carlos se é que posso te chamar assim ? gostaria de parabenizar pelo seu trabalho e conhecimento que por sinal esta compartilhando com nós ,abraço !!
Author
Obrigado 😉
Author
Já agora, sobre estas frases:
“Eu não gosto de diversas teorias científicas”: SETI, Quântica, Big Bang, Multiverso, …”
“o Universo não quer saber do que eu penso e das minhas filosofias. Os resultados científicos nem sempre são aqueles que eu gosto”
Escrevi noutro lado uma outra frase que me parece relevante:
O nosso “eu” deve estar ao serviço do Universo, e não o Universo ao serviço dos nossos gostos e opiniões.
Fiquei imensamente contente com o bom desempenho que tiveste na entrevista, e ainda mais pelo agrado com que foste lido pelos muitos comentadores.
Author
Olá Rogério,
O Principio da Mediocridade, na sua génese, quer simplesmente dizer que a Terra não tem qualquer lugar central no Universo, seja naquilo que fôr: seja posição (Princípio de Copérnico), seja em termos de vida, seja em termos de vida inteligente, etc.
Ou seja, não deverá ser única em nada.
Eu aplico esse princípio a tudo o resto: ou seja, nada deverá ser “central”.
No entanto, curiosamente, não o aplico em termos de vida inteligente nem o aplico em termos de atmosfera, por exemplo.
O Princípio não é científico: é filosófico. Por isso, depende daquilo que cada um pensa
😉
abraço!
Olá prof. Carlos Oliveira
Apreciei todo o conteúdo da entrevista. Uma lição assertiva de ciência, postura, e conhecimento.
Ignorava algumas das matérias que sem a leitura do texto continuariam desconhecidas ou inexistentes para mim.
Também aprecio a coragem e audácia com que partilha publicamente a sua motivação pela ciência e em particular a astrobiologia com um conceito demarcado de qualquer filosofia religiosa ou de outros interesses.
Diria mesmo que a humanidade precisa de muitos referenciais de opinião semelhantes e suficientemente capazes de barrar a irracionalidade que se multiplica tantas vezes no quotidiano contemporâneo.
Uma pequena nota de discordância quanto ao “princípio de mediocridade” referido, que por estratégia de vida não partilho, a menos que não tenha entendido bem a expressão. Aceito-a se aplicada apenas à investigação científica como ponto de partida e não como postura de comportamento perante a vida e o Universo. No entanto no contexto da entrevista e no tema é aceitável. Acrescento que esta pequena nota de discordância não se apoia em qualquer religião ou convicções filosóficas, que no presente não as tenho, e não seria verdadeiro consigo, com o público e comigo se o omitisse neste comentário.
Um abraço.
Estou impressionado a ler tudo isto. Também sou emigrante desde 1966. Abraço
Author
A bandeira estava a abanar porque os astronautas estavam a mexer nela…
Qualquer corpo move-se no vazio, e continuará a mover-se, logo que receba uma impulsão inicial.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_de_Newton#Primeira_Lei_de_Newton
http://www.astropt.org/2008/03/29/leis-de-newton/
tnho agora uma dúvida, se o universo é essencialmente espaço vazio, então como pode a bandeira dos eua ter abanado aquando a descolagem do módulo lunar, ou mais simples, como pode um fogetão mover-se pelo “vazio” assim considerado
Astrobiólogo, claro, peço desculpa.
Pois eu sou apenas astro-curioso. E adorei a entrevista. Como vivi na África de Sul em criança e aos 9 anos vi a estreia do 2001 -odisseia do Espaço num cinema de Joanesburgo e fui logo a correr para casa para espreitar de novo Saturno pelo velho Tasco do meu pai…compreendo muito bem as ideias Universalistas do Carlos e o seu “Eye on the Universe”.
Gostei muito da entrevista.
Author
Marco, se me permite, uma pequena correcção: sou astrobiólogo. Astrofísicos sabem mais do que eu sobre uma variedade de assuntos
😀
Para todos: foi incluída na entrevista mais uma pergunta e mais uma resposta sobre… energia negra
😉
Bem, eu escolhi o Carlos porque no seu perfil no Facebook, em Crenças/Religiões, escreveu “Benfica – SLB Glorioso SLB”. Isso deixou-me logo impressionado.
Depois, por mera coincidência, notei que também pescava umas coisas de Astronomia. Assim se explica que na entrevista tenha feito aquela citação do Arthur C. Clarke, uma frase que também tem a ver com qualquer coisa relacionada com peixes. 😉
Mas eu queria responder à Conceição. Primeiro, agradecer-lhe as palavras.
Depois comentar esse fascínio do jornalista português pelo doutoramento do Carlos.
Acho que tem razão de ser. E acho que explorar esse lado mais pessoal também poderia dar uma entrevista muito rica em termos psicológicos, sociais – enfim, culturais. Combinando esse plano mais pessoal com a conversa mais científica, ficava mesmo uma entrevista muito mais completa, bidimensional.
Há outro aspecto que reforça esse fascínio e que tem a ver com o preconceito em relação ao português e às qualificações que os outros (estrangeiros) esperam que o típico português tenha.
Lembro-me por exemplo de quando o FCP foi campeão europeu, um clube francês contratou o Artur Jorge. O Artur Jorge chegou lá e fez uma razia no balneário. No dia seguinte, um jornal francês publicava um cartoon do treinador com a seguinte legenda: «Eu sou português – por isso, faço a limpeza»
Estão a ver, não é?
Eis que falam com um tipo que em vez de ter ido para os EUA fazer a limpeza à casa do astrofísico, é ele próprio astrofísico e ainda vai leccionar astrofísica. E tal como o Carlos, deve haver muitos exemplos e histórias assim. Alguns se calhar são visitas deste blogue. São histórias positivas, optimistas, e compreendo o fascínio.
Author
Rui,
É obviamente uma generalização (o costume).
Exemplo: quando vais pela rua e perguntas a alguém conhecido: “Como estás?”… quantos te respondem: “Estou fantástico!” ?
Compara com quantos te respondem: “estou assim assim”, “dói-me isto e aquilo”…
Ou seja, o normal é as pessoas queixarem-se, em vez de fazerem algo para se sentirem de forma excelente.
😉
Da mesma forma que se faz generalizações pra outras culturas…
Joking Carlos joking…
Mas atenção à forma como abordas a mentalidade portuguesa, ela também é povoada de arriscar, ir mais além, descobrir, questionar e saber. Ia-te incluir nesta categoria, agora, só por birra não o faço. 😉
Sou uma leitora assídua do Bitaites. Gosto do bom humor, com que o autor escreve.
Achei a entrevista excelente. Já li e ouvi muitas entrevistas feitas ao Carlos e confesso que esta é das minhas preferidas. Muitas das vezes nas entrevistas, os jornalistas parecem fascinados pelo Carlos estar a fazer o doutoramento no Texas e isso parece bastar.
Nesta entrevista, até esquecemos em que parte do mundo está. A localização não é importante, mas sim o que faz e o que pensa.
Gostei da forma como foram abordados diversos temas. especialmente da trick question dos signos. 😉 e gostei da resposta.
Parabéns ao Marco Santos pela excelente entrevista.
Author
se a entrevista fosse sobre ti, poria a tua fotografia 😉
Aliás, tu viste o teu nome no cabeçalho…
😛
Não me faltam aqui posts com entrevistas a outras pessoas, em que coloco as fotos…
exemplos:
http://www.astropt.org/2008/06/12/joao-gregorio/
http://www.astropt.org/2010/03/26/construir-seres-humanos/
Eu funciono por um sistema de meritocracia… não tenho qualquer problema em dar o mérito a quem o tem… seja quem fôr… incluindo eu (porque não entro pela mentalidade portuguesa da falsa humildade, queixas e “coitadinhos”)…
😉
abraço!
coff coff…”É tudo sobre nós. É uma forma de nos sentirmos especiais, de nos sentirmos interessantes. É o ego humano a funcionar”…coff com direito a fotografia e tudo…coff… 😉
[…] foi pessimamente comunicado e promove as conspirações idiotas. Detestei a especulação sobre o Multiverso. A parte de que o nosso Universo Observável é somente uma bolha, num infinito número de bolhas […]
[…] foi pessimamente comunicado e promove as conspirações idiotas. Detestei a especulação sobre o Multiverso. A parte de que o nosso Universo Observável é somente uma bolha, num infinito número de bolhas […]
[…] RTP 1. RTP Açores. TSF, Rádio Nova Cidade, Dias do Futuro, Antena 1, RCP. Imprensa. Grande Porto. Bitaites. Diário de Coimbra. Revista C. Prémio. Curso no Porto e Açores. Astrobiologia. Ensino. Pai […]