O ser humano é um processador de informação. Possui cinco sistemas principais de sensores, que captam diferentes “sinais” (normalmente um “sinal”, em electrónica em particular, é entendido como informação, em contraste com o ruído):
- O tacto é como que um sensor de pressão, uma vez que o exemplo típico de como funciona este sentido traduz-se no toque. No entanto, se pensarmos bem, este sensor tem na verdade outras vertentes, sendo, por exemplo, um excelente medidor de temperatura (não calibrado). Tem a grande limitação de só nos poder dar informação no seu raio de contacto.
- O paladar é provavelmente o sentido mais desprezado em termos de necessidade, mas certamente um dos mais apreciados, pelo prazer que nos possibilita.
- O olfacto talvez possa ser considerado um degrau acima do paladar em termos de necessidade, uma vez que o mesmo nos permite prevenir situações de perigo (cheiro a queimado, cheiro a combustíveis, etc.).
- A visão é unanimemente considerado o sentido mais importante que dispomos, dado que é dela que dependemos mais fortemente. Por outro lado, essa ideia é, curiosamente, também a mais fácil de confirmar, visto que este sentido é o mais fácil de “desligar” (pelo menos em comparação com o tacto e a audição, pois os outros nem se equacionam).
- A audição complementa, de certa forma, o sentido anterior, visto que permite a recepção de informação que nem sempre pode ser apreendida pela visão, por exemplo, sobre “fenómenos” que possam estar a ocorrer nas nossas costas. O mundo em que vivemos é principalmente caracterizado pela informação que dispomos através destes dois últimos sentidos.
Até aqui, à partida não vos dei nenhuma novidade. O que poderá ser novidade é compreender como funciona todo este sistema. Não irei entrar em pormenores, pois muitos deles nem os sei, no entanto, vou tentar dar-vos uma imagem geral.
Na primeira parte falei-vos da visão, enquanto que na segunda abordei a audição. Nesta terceira e última parte irei explanar o olfacto, o paladar e o tacto.
Ao contrário dos dois sentidos já descritos, a visão e a audição, que permitem a percepção de informação que se encontra a uma dada distância do indivíduo, os três que agora irei abordar são de carácter local, isto é, providenciam informação que está em “contacto directo” com os sentidos, ainda que no caso do olfacto, a informação local seja normalmente similar à informação que rodeia a pessoa (já que o cheiro não é algo que se encontre de modo discreto no espaço – “discreto” no sentido matemático do termo, ou seja, não se encontra num ponto específico sem estar também na vizinhança desse ponto).
Comece-se então pelo olfacto. A informação percepcionada, como referido, é aquilo a que chamamos “cheiro” (odor). Empiricamente sabemos que o cheiro é algo que se encontra no ar, que se pode espalhar, que tem uma intensidade mais forte próxima da fonte que lhe dá origem, que se torna mais ténue com o passar do tempo (se a tal “fonte” for removida), etc. Tudo isto é evidente, pois faz parte do senso comum. O que já nem todos sabem é explicar porquê que assim é. O odor não é mais que um conjunto de moléculas (ou seja, partículas muito pequenas, invisíveis aos nossos olhos), que normalmente estão presentes no material que dá origem a esse odor (ou podem ser produzidas em consequência da exposição do material ao meio que o circunda). A partir daqui poderemos começar a compreender as características antes enunciadas: os odores encontram-se pelo ar por consistirem em partículas muito leves; podem-se espalhar, porque, estando no ar, estão sujeitos às movimentações que o ar sofre; têm uma intensidade mais próxima da fonte, porque é aí que existe uma maior concentração de partículas (que se estão a “desprender” do material – daí que normalmente o que “deita” mais cheiro, acaba por decompor-se mais rápido que outras substâncias que tenham um odor menos forte); essa concentração diminui à medida que nos afastamos da fonte, visto que a quantidade de partículas que compõe o cheiro é limitada, pelo que a consideração de um maior volume (maior distância, implica maior volume, claro), conduz a uma redução do número de partículas por unidade de volume (por exemplo, centímetro cúbico); com o passar do tempo o cheiro fica mais fraco, porque com os movimentos do ar o cheiro é espalhado: a concentração deste torna-se cada vez mais fraca (pois ocupará um volume cada vez maior), a não ser que se considere um local completamente isolado; entre outras propriedades empíricas que são facilmente explicadas com esta noção de que o cheiro advém de partículas.
No nariz temos umas células especiais (chamadas células olfativas) que são capazes de reconhecer cheiros e emitir sinais para o cérebro consoante o cheiro que chega. Esta diferenciação é possível porque a diferentes cheiros estão associadas diferentes moléculas, claro, pelo que se pode afirmar que no nariz se encontra um sensor molecular! (Como curiosidade posso acrescentar que já existem vários sensores de cheiros criados pelo Homem, em que o princípio físico consiste em ter no sensor uma molécula “fechadura” que só emite um dado sinal se encontrar a sua respectiva “chave”.)
Tradução: (Frasco) Aroma de Sangue. (Balão) Esta noite as gajas vão andar todas em cima de mim!
O paladar é de certo modo um sentido muito semelhante ao olfacto, em que as diferenças principais são: encontra-se isolado (só o usamos quando queremos) e serve para reconhecer substâncias sólidas/líquidas, em contraste com o olfacto que reconhece substâncias gasosas e/ou presentes no ar. Na verdade, o paladar até funciona em conjugação com o olfacto (se existe a expressão “comer com os olhos”, que só tem sentido figurado, também deveria de existir a expressão “comer com o nariz”), pois a maioria dos alimentos que têm “gosto”, também têm “aroma” – à combinação destes dois dá-se o nome de “sabor”. Daí que a gripe faça com que os alimentos pareçam não ter sabor.
O gosto é um sinal que provém do facto de qualquer substância ser composta por moléculas. São as moléculas presentes na superfície do alimento que despegam-se deste, sendo reconhecidas pelas papilas gustativas – células presentes na língua e no “tecto” da boca (palato), as quais irão enviar sinais para o cérebro, em concordância com as moléculas reconhecidas. (Como é fácil de imaginar, se existe um nariz feito pelo Homem, também já existe uma língua artificial, a qual funciona de modo perfeitamente similar ao nariz antes referido.)
Tradução: Não, Bill, tenho a certeza que é a tua vez de fazer o teste do paladar! (No recipiente) Sabor melhorado!
Tradução: (1º quadrado) Tenho andado a alucinar recentemente. (2º quadrado) Não será a realidade meramente percepção de desejo? (3º quadrado) Eu não sei, mas parece que tu não tens braços nem pernas. Portanto, como é que podes estar aqui comigo agora? (4º quadrado) Penso que acabei de provar a tua inexistência! – (Raios!)
O próximo artigo será sobre o processador de toda a informação que estes sentidos recebem e enviam – o cérebro.
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O paladar não é assim tão desprezável, dando muito jeito em termos evolutivos, fazendo-nos sentir mais confortáveis com sabores de alimentos que nos farão bem e desconfortáveis com sabores que, em principio serão prejudiciais. Apesar de atualmente não ser utilizado em questões de sobrevivência, agravado ao facto de abusarmos de alimentos que apenas necessitaríamos um pouco (como o açúcar), foi de certeza um sentido mais do que essencial para a sobrevivência da espécie.
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Sim, sem dúvida. Existem “sabores” específicos que o cérebro já sabe que não são saudáveis, tendo já uma “resposta automática planeada” para eles – o vómito. Não é preciso ensinar um bebé a não gostar de algo azedo, por exemplo. É algo que não acontece só em humanos, claro. A genética teve o “cuidado” de evoluir de modo a impedir que o organismo consumisse algo que não lhe ia fazer bem, sendo por isso uma característica comum a muitas espécies – provavelmente a todas aquelas que conseguem fazer este tipo de processamento sensorial.
É claro que agora, para nós, esta já não é uma característica determinante, tal como outras, porque somos seres pensantes e temos um conhecimento que vamos passando de geração em geração. É interessante (e lógico) constatar como a evolução dos organismos conduz a novos mecanismos que tornam outros antes “seleccionados” obsoletos. O paralelismo entre a selecção natural/ evolução e o desenvolvimento do conhecimento humano é evidente. Em última instância, eu diria que a evolução conduz a organismos que conseguirão produzir a sua própria evolução. Nós vamos a caminho disso.
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