Faz hoje, dia 8 de Julho, precisamente 60 anos desde que o batalhão da Força Aérea sediado em Roswell, EUA, cometeu a infantilidade de anunciar ao mundo que tinha recuperado um disco voador.
De tempos a tempos, chegam à TV novas estórias sobre Objectos Voadores Não Identificados.
Assim, convém perceber um pouco da sua história.
A história moderna dos OVNIs começou há 60 anos com 3 acontecimentos distintos: Arnold, Roswell, Adamski.
As estórias seguintes seguiram o mesmo padrão e tiveram nestes acontecimentos o seu denominador comum, o seu ponto de origem.
Digamos que os eventos que iremos descrever a seguir são os pais que deram origem à descendência de estórias que se ouvem actualmente.
Mas começando pelo início…
A 24 de Junho de 1947, Kenneth Arnold viu 9 objectos sobre o Monte Rainier, EUA, iniciando assim a era moderna de avistamentos de OVNIs.
O que ele viu, como se pode ver pela imagem inserida em que ele mostra o que viu, foram objectos parecidos com uma asa gigante.
O repórter que o entrevistou percebeu tudo mal e escreveu que o Kenneth tinha visto discos voadores.
Nesta altura, pós-2ª guerra mundial, começo da Guerra Fria, e medo excessivo das bombas atómicas, a população via uma ameaça exterior como algo bastante provável. Aliás, a maioria da população americana há 60 anos atrás acreditava que estes OVNIs eram aviões secretos… soviéticos!
Vai daí, toda a gente passou a ver discos voadores em tudo quanto era sítio. Discos voadores que, repito, foram somente um engano de jornalista.
Isto até levou Marty Kottmeyer a perguntar ironicamente: “Porque raio possíveis extraterrestres redesenhariam as suas naves de maneira a ficarem de acordo com o erro de um jornalista?”
Nesta história há dois pontos a reter:
– quando actualmente alguém diz que viu um disco voador, muito provavelmente essa pessoa foi influenciada por livros ou meios de comunicação social. Já que essa ideia de discos voadores foi invenção de um jornalista há 60 anos atrás.
– sabe-se actualmente que Kenneth sofreu de uma ilusão óptica, bastante frequente no Monte Rainier. Ou seja, na realidade, nem “asas voadoras” existiram.
Esta “não-história” do Kenneth levou na altura a bastante conversa.
Tanta conversa, que a própria Força Aérea decidiu oferecer uma recompensa a quem encontrasse provas de um OVNI.
O objectivo era simples: a Força Aérea sabia que a União Soviética poderia estar a tentar espiar os EUA com equipamento secreto, e assim, escondendo-se sob o manto do OVNI, teria muitos mais olhos a tentar descobrir aviões secretos espiões.
Cerca de uma semana depois de Arnold, a 4 de Julho, William Brazel ia a andar pela sua quinta quando viu material estranho.
Brazel sabia que a Força Aérea oferecia uma recompensa, e por isso foi logo informá-los.
A 8 de Julho, o Major Jesse Marcel decidiu expôr o disco voador à comunicação social (como se pode ver na imagem), para horas depois dar o dito por não dito e dizer que era um balão meteorológico.
Na altura isto criou alguma celeuma, mas não muita.
30 anos depois, Stanton Friedman reavivou o caso e a partir daqui não faltam opiniões e mais opiniões baseadas basicamente em puras crenças e não no que realmente aconteceu. As pessoas querem acreditar… independentemente de ser verdade ou não.
Roswell aconteceu no final dos anos 40, mas só passou a ser um “caso” nos anos 80. Só isto já deveria levar a algum cepticismo.
Em 1980, Charles Berlitz – o professor de linguas que escreveu livros pseudo, sem qualquer ponta de lógica e com mentiras fáceis de detectar, sobre o Triângulo das Bermudas, e sobre a Atlântida – decidiu escrever um livro sobre Roswell onde diz que foram recuperados corpos extraterrestres.
E pronto!
33 anos depois dos factos, alguém se lembra de dizer que havia extraterrestres na zona, e o livro passa a ser não só best-seller, como passa a haver uma romaria a Roswell.
O mito nasceu!
Leiam este excelente artigo do Nuno Silveira sobre as histórias e testemunhas referentes ao caso de Roswell.
Oiçam este excelente podcast sobre o caso de Roswell.
Em 1995, até apareceu um filme, supostamente filmado em Roswell, que mostra a autópsia de um extraterrestre.
Esse filme sabe-se agora (aliás, sempre se soube, excepto as inúmeras TVs que lhe deram cobertura) que é totalmente falso.
Leiam este excelente artigo com a história do vídeo do Santilli.
Vejam este documentário da FOX com legendas em português na SIC, sobre a forma como o Santilli fez o vídeo da autópsia.
Até hoje, ainda não se tem a certeza absoluta do que aconteceu em Roswell.
Mas parece-me que a hipótese mais provável está relacionada com o Projecto Mogul.
O Projecto Mogul era um projecto ultra-secreto americano que consistia numa série de balões de alta altitude que pretendiam ouvir secretamente as experiências feitas pelos Soviéticos com detonações de bombas atómicas.
Curiosamente, o Projecto Mogul detectou a detonação da primeira bomba atómica soviética em 1949.
Interessante é o facto de que um dos balões de alta altitude do Projecto Mogul foi dado como perdido (foi-lhe perdido o contacto) poucos dias antes na área onde o “OVNI” foi encontrado…
Factos a reter:
– O incidente de Roswell começou somente 30 anos depois de ter realmente acontecido, e pela mão de um escritor com várias provas dadas na fabricação de histórias.
– Nos anos 40 e 50, o secretismo militar era lei. Mesmo os que trabalhavam na bomba atómica, não sabiam bem para o que trabalhavam; a especialização era enorme e era praticamente impossível saber qual era o produto final para o qual o trabalhador dava o seu minúsculo contributo. É perfeitamente natural que um Major de uma divisão “no fim do mundo”, não tivesse conhecimento de projectos ultra-secretos, como era o caso do Mogul. Outros militares, de maior ranking, também não tinham esse conhecimento. É assim natural que o Major Jesse Marcel ficasse surpreso com o que encontrou.
– Roswell vive do turismo “extraterrestre”. Tal como outras vilas que foram “visitadas por extraterrestres”, se não fosse esse turismo, elas desapareciam do mapa. Assim, milhares de turistas por ano vão até lá.
– por último, faz todo o sentido que “oficialmente”, as altas instâncias americanas continuassem, com os seus depoimentos confusos, a perpetuar o mito extraterrestre. Ponham-se na pele do “chefe”. Vocês não podem dizer a verdade, já que isso seria dar a conhecer um projecto secreto; não podem dar a conhecer um projecto secreto, mas a população viu evidências dele – então qual será a melhor estratégia? A melhor estratégia será obviamente levá-los a pensar que é outra coisa. Como a população quer à força acreditar em extraterrestres, então o melhor é fazê-los ir por esse caminho. Indo por esse caminho, é mais fácil encobrir os projectos secretos. Deixando no ar a ideia de objecto extraterrestre, a população segue essa via e não faz mais perguntas que poderiam realmente pôr em risco o projecto secreto. E desta maneira, não só a população, mas também os Soviéticos não ficam a saber dos segredos americanos…
Ou seja, o que existe sim é uma lógica racional, sendo que a única conspiração existente é aquela criada pelos “crentes” que nem notam que estão a ser “usados”, fruto do seu fundamentalismo pseudo-religioso.
Para completar o “rosário”, poucos anos depois de Roswell, começou a era dos “contactados”.
É certo que já tinha havido alguns anteriormente. Por exemplo, o Swedenborg disse no século XVIII que os extraterrestres o tinham levado a passear a todos os planetas do sistema solar – teve azar porque falhou Úrano, Neptuno (e Plutão), já que estes ainda não eram conhecidos na altura… pelos terrestres. Já o Magoon, em 1910 disse que foi transportado instantaneamente para Marte onde viu cidades e automóveis, criados por Marcianos… invisíveis.
Mas o que é considerado o “pai” dos contactados, é o George Adamski, que nos anos 30 (e continuou nos anos 40) formou um culto religioso baseado na ideia que todos os seres no Universo estão ligados como irmãos e que se deve promover a paz.
Como a ideia não estava a “pegar”, em 1952 decidiu dizer que tinha visto extraterrestres, e que estes o tinham levado a visitar vários planetas. Os extraterrestres eram de Marte, Saturno e Vénus. A mensagem – surpreendente! – dos extraterrestres era que somos todos irmãos e daí que devemos promover a paz.
Adamski disse que nas suas viagens viu pessoas, cidades, e rios na Lua. Disse também que existe uma civilização avançada em Vénus. Claro que isto tudo foi antes de irmos à Lua, e de sabermos que Vénus é demasiado quente…
Adamski também afirmou que era Professor/Astrónomo no famoso observatório astronómico do Monte Palomar, mesmo sabendo-se que na verdade ele vendia cachorros-quentes (e posteriormente teve um restaurante) na base do monte.
Sabe-se igualmente que as fotos de OVNIs tiradas pelo Adamski são falsas, sendo que a maioria delas não passam da parte de baixo de um aspirador.
Factos a reter:
– Adamski mentiu sobre o que fazia.
– Adamski tinha um culto religioso que tinha poucos aderentes. Decidiu assim continuar a mesma mensagem, mas genialmente decidiu dizer que foram extraterrestres que lhe disseram isso. Teve logo uma multidão de seguidores, o que lhe permitiu viver confortavelmente e realizar imensas viagens pelo mundo.
– o facto das evidências (sobretudo fotos de OVNIs) dele serem claramente falsas, não desmotiva os “crentes”, ao bom estilo pseudo-religioso.
– E este é só um dos mais famosos contactados……
Estes são os “pais” da era moderna de avistamentos de OVNIs.
Sabe-se hoje que estes primeiros casos não passam de Objectos Voadores Identificados. Mas o mito dos discos voadores, persiste.
O Ciência Hoje decidiu publicar 3 textos sobre os “pais dos OVNIs”, em que este texto está alargado.
Leiam aqui o primeiro artigo, sobre o avistamento de Kenneth Arnold.
Leiam aqui o segundo artigo, sobre o mito de Roswell.
Leiam aqui o terceiro artigo, sobre o contactado George Adamski.
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Provavelmente o que Kenneth Arnold viu foi um avião bombardeiro do tipo “Northrop YB-49”
A descrição de objectos voadores desconhecidos como tendo a forma de discos não nasceu com Kenneth Arnold e o tal erro dos jornalistas. A diferença está na palavra disco apegada a “voadores” e a sua associação a naves extraterrestres. Desde a antiguidade até aos anos 40 que testemunhas falam de coisas esquisitas no céu, muitas vezes descritas como tendo a forma de um disco brilhante, um escudo luminoso, prato invertido, chapéu chinês, etc. A diferença é que os observadores não diziam “vi um disco-voador”, mas sim “vi algo desconhecido no céu, tendo a forma de um disco”. Não era feita a associação “disco = nave”, mas a palavra disco já era associada a esse fenómeno misterioso. O mesmo acontece com os objectos voadores cilíndricos. Hoje uma testemunha pode referir que viu uma “nave em forma de charuto”. Mas basta pegar em qualquer texto antigo para encontrar relatos de “colunas/pilares de fogo e nuvem” que se deslocam pelo céu.
(comentário editado)
O Caso Varginha – O Roswell brasileiro [Documentário] 1/4 – YouTube
Abs
Marcos
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Marcos,
Toda a gente conhece o caso Varginha há já mais de 15 anos.
Convido-o a ler sobre o empolamento dos media na altura, em vez de se continuar a deixar levar pelo sensacionalismo idiota baseado em supostos testemunhos (que nada servem em termos de conhecimento).
abraços
P.S.: o seu comentário foi editado, porque “deficiente” é aquele que abre tanto a mente que deixa entrar todo o lixo.
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