O Universo é uma mesa de snooker

Quem inspirou os profetas da tretatologia cósmica a inventar tantas teorias sobre o fim do mundo foi Albert Einstein.

Um certo dia – mal disposto devido às descobertas e implicações da Física Quântica – Einstein proferiu uma frase célebre: «Deus não joga aos dados».

Os filósofos da tretatologia cósmica concluíram de imediato: «Por Toutatis! Se Deus não joga aos dados, isso significa que joga ao snooker».

E assim se descobriu que o Universo é uma mesa de snooker onde os deuses jogam com os amigos anjos e ETs.

As «bolas» são os planetas, cometas, asteroides, meteoros, estrelas e até buracos negros. Estes objetos não se diferenciam uns dos outros em nada de relevante, pois têm todos uma característica fundamental em comum: podem aniquilar-nos.

No Universo mesa de snooker, o cometa Eleninjá desintegrado – pode ser uma estrela anã castanha, um planeta ou mesmo um buraco negro que irá destruir a Terra. Neste universo, a Terra até pode estar já destruída e tu nem sequer te deste conta (por excesso de arrogância e falta de fé).

Se achas a Física Quântica desconcertante, então é porque nunca leste um texto desses lunáticos.

No falso Universo proposto pela Ciência, a ausência de diferenças entre objetos cósmicos de características e comportamentos tão díspares daria pano para mangas; no Universo mesa de snooker dos filósofos da tretatologia cósmica, tudo se encontra no mesmo plano e tudo pode chocar: basta que exista um taco.

O taco é o instrumento que no Universo mesa de snooker substitui a gravidade, mas nem todos – a começar pelos cientistas – têm capacidade para o ver. Só os tretatologistas do fim do mundo possuem os requisitos esotéricos necessários.

Os tretatologistas não nos dizem grande coisa sobre as características do temível taco cósmico mas é possível que parte dele tenha sido fabricado nas oficinas Criacionistas – as mesmas que criaram o planeta Terra há seis mil anos e colocaram seres humanos a tomar cafezinhos com dinossauros na esplanada do Café Jurássico.

O taco pode ser impulsionado por duas forças fundamentais: a força de Deus e a força dos Extraterrestres. Qualquer uma delas é eficiente. A impulsão pode ser muita coisa, mas é identificada, sobretudo, como um julgamento moral sobre os desnortes da Humanidade.

O objeto mais temível no Universo mesa de snooker é a bola branca – a bola que Deus ou os extraterrestres impulsionam com o taco na nossa pobre direção.

A bola branca pode ser qualquer coisa neste Universo onde tudo o que não acontece costuma acontecer; mas ultimamente, tem sido identificada como «Planeta X» ou «Nibiru». Eu prefiro chamar-lhe «Planeta Gambozino» – parece-me mais apropriado.

O asteroide 2005 YU55 está prestes a passar pela Terra. É um calhau de carbono com quatrocentos metros de diâmetro e que passará a 325 mil quilómetros da tua cadeira. Para nós, é uma distância enorme – é como estenderes o braço na esperança de apalpares o rabo da Scarlett Johansson; posta a situação em termos cósmicos, contudo, eras capaz de levar uma galheta do namorado da Scarlett.

Impressiona-me por isso que todos estes profetas do Catastrofismo não tenham antecipado a passagem deste asteroide.

Para quem é capaz de antecipar o fim do mundo, antecipar a vinda de um asteroide deveria ser canja. Profetizava-se o fim do mundo e não haveria maneira de a NASA negar a existência do calhau assassino. Aposto que se fossem cientistas teriam conseguido fazer uma profecia de jeito! Se alguma vez se questionaram sobre qual é a diferença entre calcular e fazer uma pequena ideia, já têm a vossa resposta.

Os tretatologistas perderam uma excelente oportunidade. Se o fim do mundo não chegar e o asteroide seguir a sua vidinha, tudo bem à mesma: em termos cósmicos só se enganaram por um niquinho assim. Vistas bem as coisas, é como se nunca tivessem enganado.

19 comentários

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    • Carlos Malato on 07/01/2015 at 09:59
    • Responder

    Tao todos doidos voces , ai meu deus

    • Júlio César Ferreira on 20/01/2014 at 02:53
    • Responder

    Uma velha dúvida expressa de forma equivocada, de qualquer modo, obrigado pelas informações 😉 🙂

    • Júlio Caesar on 21/05/2013 at 23:14
    • Responder

    Ok, Eu não sou dado a tanta certeza e tanta zombaria. Pois a está questão, e ela é 0 ou 1, falsa ou verdadeira.
    Quando propôs sua explicação para a origem das especies Darwin assumiu que o aumento da informação veio da seleção natural. Mas a seleção natural reduz a informação genética.
    Sabemos isso de todos os estudos atualmente.
    Veja a evolução sobre a luz das probabilidades e verás do que trato. Então que força mística é essa que assumem os evolucionistas de que um sistema gera complexidade espontaneamente?

    1. Olá Júlio,

      Aparentemente não leu o post. O Marco “zomba” da postura de quem cria as suas “certezas” desprezando em simultâneo o conhecimento científico. Enfim, pelo seguimento do seu comentário, talvez seja também essa a postura do Júlio.
      Quanto à sua afirmação de que a selecção natural reduz a informação genética, isso é MENTIRA. Se conhece estudos que suportem essa sua opinião, então apresente-os aqui.
      A selecção natural favorece a sobrevivência dos genes que permitam uma melhor adaptação dos organismos ao meio ambiente onde estão inseridos. Paradoxalmente (pensa o Júlio), são as espécies com um fundo genético mais rico que melhor se adaptam a novos ambientes. Como é isto possível? Volto a repetir. A selecção natural favorece genes. Muitos alelos que possam ser desfavoráveis num determinado contexto vão diminuindo a sua frequência na população, mas não desaparecem. De facto, a par das mutações de novo, os alelos recessivos são determinantes na evolução porque são ferramentas para as populações se adaptarem a novos ambientes (leia, por favor, este interessante artigo: http://webpages.icav.up.pt/SAPINTO2/8.pdf). Ou seja, a complexidade a que o Júlio se refere não está em nenhuma força mística, mas sim nestes mecanismos maravilhosos observados pela primeira vez por Darwin. 😉

        • Ana on 25/05/2013 at 16:44

        Darwin somente não viveu no tempo da genómica e da proteómica para poder saber q a tal “força mistica” é tão somente aquilo que se conhece pelo nome de mutação genética.

        Se a selecção natural favorecesse a redução da informação genética, nunca haveria a biodiversidade que existe hoje na terra… pelo contrário. O que diminui a diversidade genética numa dada população é a diminuição da entrada de novos genes/alelos no pool genético de uma espécie, devido a isolamento geográfico, por exemplo. E nem sempre esse isolamento conduz a essa diminuição, pelo contrário. Madagáscar, Galápagos, Tasmania… são exemplos de ilhas/zonas isoladas durante milhoes de anos nas quais se desenvolveu toda uma fauna e flora fantasticas e diversas. E esta hem?

        A chave da sobrevivencia é a diversidade genetica. A selecção natural aumenta essa diversidade. Não diminui. Isto não são certezas de cientistas arrogantes, São factos do de rerum natura. A natureza não é democrática, está-se borrifando para o que opinamos. 🙂

  1. gosto do seu sitio; mas acho vc ta generalizando e condena os maus intencionados.Mas aqui entre nós; eles não podem uma horas dessas acertar? Meteoros e asteroídes caem aqui e acolá porem pequenos; num momentos destes não podem cair um de tamanho maior?

    1. São coisas diferentes.

      O Gonzaga está a falar de conhecimento científico.

      O post fala de parvoíces ditas por vigaristas para venderem o medo aos ignorantes.

      abraços

    • Renato Romão on 09/11/2011 at 23:26
    • Responder

    Muito bom.
    Vou parafrasea-lo de certeza em conversa com amigos.

    • Ana Guerreiro Pereira on 09/11/2011 at 22:06
    • Responder

    ;D só há um problema na parafrase e consequente interpretação: Einstein não acreditava em deus, era ateu 😛 Esta afirmação dele remete para o chamado deus einsteiniano, q é uma metáfora, não é literal. Einstein era ateu, como comprovam as cartas, escritas pelo seu punho, que foram recentemente a leilão e onde ele escreve que:

    “A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma colecção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis. Nenhuma interpretação por mais subtil que seja pode (para mim) alterar isso. […] Para mim, a religião judaica, como todas as outras, é a encarnação de algumas das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual tenho o prazer de pertencer e com cuja mentalidade tenho grande afinidade, não tem qualquer diferença de qualidade para mim em relação aos outros povos. Até onde vai minha experiência, eles não são melhores que nenhum outro grupo de humanos, apesar de estarem protegidos dos piores cancros por falta de poder. Mas além disso, não consigo ver nada de ‘escolhido’ sobre eles.”

    Fonte: http://www.guardian.co.uk/science/2008/may/13/peopleinscience.religion

      • Ana Guerreiro Pereira on 09/11/2011 at 22:17
      • Responder

      O meu comentário foi em resposta ao comentário do leitor Xevious 😉

      (tinha feito “responder” mas isto aqui chamou-me cowboy e lá se foi o efeito)

  2. Muito hilariante, parabens.

  3. Parafaseando Einstein, eu diria.

    “Deus não joga os dados, mas fornece os resultados”

    Deus estaria escondido “dentro” da aleatoriedade..

  4. Essa 3ª foto é do Xenu não? Ele tinha que se entreter com qualquer coisa enquanto viajava pelo espaço na sua nave espacial estranhamente idêntica ao avião Douglas DC-8. Mas depois de juntar os seus súbditos excedentários junto a vulcões e mandar tudo pelos ares com bombas de hidrogénio não restou muita gente para jogar snooker com ele.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Xenu_space_plane.jpg

    1. Ah, e parabéns 😉

  5. Esse é um daqueles raros artigos em que a gente não pensa em nada quando termina de ler: simplesmente o aplaude.

    Muito bem sintetizado.

    Parabéns!

    • Ana Guerreiro Pereira on 09/11/2011 at 02:46
    • Responder

    Muito Bom!!!!!! fiquei com soluços de tanto rir 😀

    E nunca haverá profeta maior que o Arthur C Clarke 😛 (Visões do Futuro )

  6. Já agora, deixa-me dar a informação que o texto foi publicado “em simultâneo” no teu blog pessoal, Bitaites 😉
    http://bitaites.org/no-mundo-da-lua/o-universo-e-uma-mesa-de-snooker/

    Assim o pessoal também pode ir lá ver ao teu blog 😉

  7. Obrigado, Carlos.
    Mais vale rir destes patetas do que deixar-me irritar. 🙂

  8. Marco,

    Excelente humor!

    E uma ironia apuradíssima 🙂

  1. […] excelente citação da “nossa” […]

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