Não desejo falar de política, longe disso, até porque creio que o capital cultural e intelectual não devia depender em nada do capital económico. Mas não sou ingénuo, a História ensina que o anterior desejo nunca foi possível. A actividade intelectual do ser humano, característica que singulariza o Homem, na prática será sempre secundária às suas necessidades naturais: Comer, dormir, respirar, etc.
A astronomia e a exploração espacial também são vítimas desta dependência. Não parecem ser uma prioridade quando, na realidade, o seu investimento a longo prazo é incalculável ao nível da tecnologia; do conhecimento sobre nós, sobre o nosso planeta, sobre o Universo; da descoberta de oportunidades e soluções que, no futuro, provavelmente precisaremos.
Como exemplo, temos a exploração espacial frenética do pós-guerra, em consequência da guerra fria, que nos permitiu alcançar um desenvolvimento tecnológico e intelectual que ainda hoje sentimos. Mas, e evitando a ingenuidade, sabemos que só aconteceu devido à conjuntura gélida da paranóia bélica e do medo ideológico.
Felizmente, a curiosidade latente no ser humano não impediu um contínuo investimento, apesar de muito menor, na exploração espacial e na busca do conhecimento. Hoje sabemos muito mais sobre o Universo, se bem que insignificante por comparação ao que nos falta conhecer.
Chegamos aos dias de hoje e temos uma crise global. “Não há dinheiro”, dizem uns. “Gastam mal/ roubam o nosso dinheiro”, dizem outros. Concorde com uma ou com outra opinião, a verdade é que qualquer um dos argumentos serve de citação falaciosa para por em causa qualquer investimento: seja na educação, na produção, na investigação científica, na acção social. Repito, não desejo fazer política. Este não é lugar para isso. Mas, com a crise a ser sentida diariamente em todo o mundo, e apesar do crescente desinvestimento na exploração espacial, já me repetiram várias vezes os anteriores argumentos para justificar que se gasta mal o dinheiro na exploração espacial, devendo ser estes valores aplicados em realidades mais imediatas. Nestas situações, lembro-me sempre desta publicação do Carlos Oliveira sobre o cepticismo natural sobre a exploração espacial.
Na realidade, e compreendendo que a maioria das pessoas está apenas preocupada com o dia-a-dia e só faz “contas” até ao final do mês, a astronomia, a ciência, a educação e a exploração espacial acontecem em dimensões muito menos limitadas que aquela oferecida pelo curto espaço temporal em que cada um de nós vive. Chegam mesmo a fazer parte do sonho…
A normal opinião política/económica desinformada tem sempre soluções fantásticas, como “tirando daqui, resolvia-se aquilo ali”. Mas, mais uma vez, trata-se de um argumento falacioso. O dinheiro gasto a fazer guerra seria realmente muito melhor utilizado em outras áreas… mas não as resolveria. Cortar o orçamento da NASA, por exemplo, resultaria certamente numa diminuição imediata da despesa. Mas o remanescente em nada resolveria os problemas económicos dos EUA, já que são estruturais. No entanto, este corte na exploração espacial tem consequências a longo prazo muito negativas: menos investimento no conhecimento, em soluções tecnológicas, na educação e no nosso futuro.
Com a crise mundial como argumento, tem-se cortado nas áreas que mais directamente afectam o conhecimento, o progresso, o desenvolvimento e, até, a possível prosperidade económica. Uma delas, e aquela sobre a que nos debruçamos, é a exploração espacial. Melhor que encher mais 3 ou 4 parágrafos com argumentos, será ver o seguinte vídeo. Criado por Andrew Chaikin, um apaixonado pela exploração espacial que vive mais de perto as possíveis consequências dos cortes na NASA, este vídeo mostra a sua “Paixão pela incrível aventura que começou há meio século e que nos ofereceu incontáveis maravilhas e descobertas incríveis”. Em pouco menos de quatro minutos, tudo o que sabemos e que nos falta ( e precisamos de) saber sobre o Universo. Um pedido a Washington que grita “We Must Explore” (Nós temos que explorar). Mais vantagens da exploração espacial, aqui aqui, aqui e aqui.
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😉
[…] Lua canceladas, plano, aprovado. Falta de Dinheiro. Don Nelson. Robot. Visão. Parámos de sonhar. Continuar a Explorar. Porquê? Missão a Asteróides: Plymouth Rock. Planetary Resources. Deep Space Industries. […]