Como sabem, no AstroPT defendemos a Literacia, a chamada Literacia Funcional.
A Literacia Funcional abrange diferentes tipos de Literacia, sendo que aqui no AstroPT nos concentramos mais na Literacia Científica.
No entanto, todas as literacias defendem a mesma coisa. Daí que após ver este programa, senti-me tentado a fazer a “ponte” para a Literacia Futebolística.
O treinador do Benfica, Jorge Jesus, esteve no programa Play-Off, da SICNotícias.
O Play-Off, e muito bem, tem como comentadores 3 antigos futebolistas e treinadores. Ou seja, este programa preferiu ter especialistas no assunto a falar de futebol. Já outros programas preferem ter ignorantes a darem opiniões desinformadas sobre este assunto (futebol) do qual não têm conhecimento.
Toda a entrevista é excelente. Mas aqui no blog o que conta são as partes que considero brilhantes, referentes à literacia.
Logo de entrada (aos 30 segundos) Jorge Jesus explica que só foi àquele programa, porque é composto por pessoas do futebol e que sabem de futebol. Ou seja, deu o mérito aos especialistas, e não a opinadores ignorantes.
Aos 25:40 minutos, António Simões agradece a Jorge Jesus ter essa cultura futebolística, essa literacia futebolística que lhe permite reconhecer quem são os especialistas em determinado assunto (neste caso, futebol).
Aos 36 minutos, Jorge Jesus dá um verdadeiro recital de Literacia Futebolística: “Estamos aqui a falar homens de futebol e percebem exatamente o que estou a dizer. Por isso é que vejo o Play-Off. Custa-me ver pessoas que são médicos, advogados e com outras profissões a falar sobre futebol. Eu não sei falar sobre medicina. E eles dizem que sabem falar de futebol. Faz-me uma grande confusão.”
António Simões, aos 39 minutos confirma: “Estamos a falar de futebol, porque temos a experiência, um trajeto de vida para podermos falar de futebol”.
Ou seja, estes sim, especialistas, têm legitimidade para falar de futebol. Falam de forma correta e com conhecimento de causa.
Aos 51:30, Jorge Jesus também dá o devido valor à ciência, para que as suas equipas joguem melhor.
Jorge Jesus dá assim uma lição de literacia futebolística. Uma promoção do conhecimento em detrimento daqueles que espalham a ignorância na televisão.
A literacia deveria ser sempre defendida na comunicação social.
Infelizmente, como temos demonstrado por diversas vezes, isso não acontece.
Como comparação, a iliteracia jornalística faz com que convidem um trolha que habita no Porto para falar sobre as condições médicas no Hospital Amadora-Sintra. É uma imbecilidade, certo?
E se jornalistas na televisão contratarem um vendedor de uma loja de livros para comentar decisões do Supremo Tribunal de Justiça, seria mais uma imbecilidade, certo?
É óbvio que seria uma imbecilidade, mas é esta incompetência que existe em vários exemplos na comunicação social.
Quem fica a perder? A informação e a população.
Mas a verdade é que estas escolhas mostram que que os jornalistas não querem saber nem da qualidade da informação que transmitem nem da literacia na população.
No caso da literacia científica, nomeadamente em assuntos de astronomia, como temos exemplificado por várias vezes, a comunicação social prefere a ignorância ao conhecimento.
O caso mais gritante é o da RTP, paga pelos contribuintes portugueses, que supostamente deveria ser de serviço público, e que convenientemente até tem um Centro de Astrofísica (da Universidade do Porto) perto – com astrónomos, astrofísicos e comunicadores de astronomia, alguns deles galardoados – prefere a mediocridade de alguém sem formação académica, sem formação profissional e que deixa muito a desejar em termos de comunicação. O objetivo parece ser cuspir nos especialistas portugueses, tirar o mérito aos cientistas portugueses, e, em última análise, contribuir para uma sociedade portuguesa iliterada e ignorante.
5 comentários
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Discordo em absoluto, iliteracia é não entender que os programas em questão não são programas sobre futebol mas sim sobre adeptos de futebol que são só o mais importante do espectáculo!!!!!! Achar que os adeptos de futebol não devem ter direito à opinião é grave e até cuspir no prato. São essas pessoas que fazem aquele sr que não consegue dizer duas frases seguidas sem dar erros de português, ser dos mais bem pagos do mundo. O futebol não é uma ciência, é um espectáculo.
É como dizer que não deveria passar na televisão qualquer opinião sobre música que não venha de um músico profissional. Aliás, sempre que houvesse um concerte de qualquer grupo, só deveriam entrevistar músicos, o público bate palmas e fica caladinho. Espero que tenha conseguido por em perspectiva que a opinião pode ser especialista ou não conforme o ambiente e o tema e não vem mal daí.
Acrescento, nesses programas até se costuma analisar muito melhor e com muito menos erros as questões económicas do futebol sendo que oiço cada calinada nos outros programas ditos de especialistas.
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Nuno,
Estás no teu direito de preferir opinadores desinformados a comentadores com conhecimento do assunto.
Estás no teu direito de preferir uma Maya a opinar erradamente sobre astronomia do que um astrónomo.
Surpreende-me um comentário destes em ti, mas respeito as tuas preferências.
Olha, eu adoro os U2. Mas certamente que seria uma imbecilidade me contratarem para comentador de música, já que não percebo o básico disso. Mas gosto de música. Mas o facto de gostar não me faz pensar que tenho conhecimento dela.
abraços
Carlos acho que não me expliquei bem, obviamente que todo o restante post está correcto, mas não dar voz ao adepto de futebol o chamado treinador de bancada só porque este não é especialista é um acto de censura. Para opinar sobre música não tens de saber música. Afinal trata-se de uma arte. Eu sou músico e claro que me faz confusão quando alguém opina sobre uma música qualquer super básica como sendo uma “granda música”. Mas a música volta a frisar é uma arte. Que mal haveria em haver uma programa com a opinião de não especialista em música sobre se gostam ou não gostam de certa música. O futebol como espectáculo está na mesma categoria. São questões subjectivas e por serem subjectiva estão como o nome diz, ligadas ao sujeito e não ao objecto. Eu sou compositor amador, e nunca desprezo a opinião do leigo.
E as artes são para ser apreciadas. Penso que existe espaço para o apreciador técnico de arte e para o apreciador normal e que ambos podem ter o seu espaço de opinião. Grave acho não entender que são dois conceitos diferente, opinião de especialista e opinião de apreciador. Como gestor, percebo que a opinião leiga é extremamente importante para uma organização.
Acho que o problema é mesmo esse, querer comparar uma questão objectiva, onde sim não deve haver lugar à opinião, por questões de paixão, emotivas que é o que se discute nesses programas. Um treinador que se recusa ir a um programa falar da paixão do futebol é que está errado, pois o futebol como qualquer outro espectáculo ou arte, é composto pela parte emotiva e pela parte técnica. Não concordas que deva haver lugar aos dois aspectos? Porque se deve desprezar um deles?
Extrapolando ainda mais um pouco a questão. Prémios. Só deve haver prémios para os espectáculos feito por especialistas ou deve também haver pelos apreciadores? Afinal a arte e entretenimento é para quem? Cabe a cada individuo entender as diferenças entre cada uma destes aspectos e quem não conseguir separar as águas esse sim sofre de iliteracia funcional.
Por todos esses motivos não concordo com o JJ, o que ele disse foi o desprezar quem lhe paga o seu salário, a opinião do leigo de um tema subjectivo. Está no seu direito só querer falar de questões técnicas, está errado ao achar que o leigo não deve poder divulgar e discutir a sua paixão com outros leigos de cores contrárias.
PS: Como disse, nestes programas que dantes até seguia, até se faz uma cobertura muito melhor e tecnicamente muito mais válidas de questões não técnica do futebol (económicas, jurídicas etc) sendo que achar que isso são questões menores não entende então nada do futebol moderno.
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” mas não dar voz ao adepto de futebol o chamado treinador de bancada só porque este não é especialista é um acto de censura.”
Temos versões diferentes do que é censura.
Não me parece que não dar um megafone a ignorantes num assunto seja um ato de censura.
Da mesma forma que não dar voz na escola aos criacionistas, não é um ato de censura.
Não me parece que uma conversa de café entre amigos, seja a mesma coisa que comentar na televisão. Digo eu.
“Cabe a cada individuo entender as diferenças entre cada uma destes aspectos e quem não conseguir separar as águas esse sim sofre de iliteracia funcional.” <--- talvez seja este o problema. É que, em Portugal, só 6% das pessoas tem essa literacia funcional. Por isso, querer enganá-las com opinadores desinformados como se fossem especialistas, é enganar a população (que não tem as ferramentas para distinguir... e nem os jornalistas as têm). abraços
Qualquer adepto de futebol gosta de discutir com os rivais e há programas na TV e na rádio onde os adeptos se manifestam.
O problema, segundo JJ (e concordo com ele), é ter adeptos pagos a peso de ouro que se fazem passar por especialistas. Na maioria dos casos são pessoas sem passado no futebol e que só ali estão porque adquiriram fama noutras áreas.
A única vantagem deste caso é que estes falsos especialistas são inofensivos.