Um dos nossos leitores aplicou o sentido crítico, percebeu que esta notícia do Correio da Manhã devia estar mal, e deu-nos a conhecer a dita notícia de modo a podermos informar convenientemente quem gosta de astronomia.
Só de olharem para o título, conseguem perceber logo um erro?
Os meteoritos são pedras que se encontram no solo, são fragmentos de meteoros que já atingiram a superfície terrestre.
Logo, não vêm quaisquer meteoritos a caminho!
Podem vir sim, meteoróides ou fragmentos de asteróides pelo espaço profundo em direcção à Terra.
Há um outro erro que talvez não seja tão evidente: o jornalista diz que os investigadores “acreditam”. Ora, crenças não é ciência. Em lado nenhum no artigo científico é afirmado pelos investigadores que eles “acreditam”.
E o que aconteceu para todo este alarido?
Carlos de la Fuente Marcos e Raúl de la Fuente Marcos submeteram um artigo onde especulam que o famoso meteoro de Chelyabinsk, na Rússia, a 15 de Fevereiro de 2013 poderá ter saído de um grupo de 20 corpos rochosos com tamanhos entre 5 e 200 metros. Estes corpos rochosos serão os fragmentos de um asteróide que se tenha desintegrado nos últimos 40.000 anos devido a passagens perto de Marte ou Vénus ou Terra ou Ceres.
Dito assim, parece ser importante, não é?
O que é sensacionalista desperta sempre mais a atenção…
No entanto, o que se passa realmente?
Podem ler na Nature.
Os dois investigadores fizeram simulações em computador de órbitas que podiam ter rotas a colidir com a Terra ao fim de muitos anos, tendo em conta os dados orbitais que se prevêem do meteoro da Rússia.
Depois compararam com a base de dados de asteróides já conhecidos pela NASA.
A partir daí viram 20 que, em média, poderiam ser os que apresentavam mais perigo. Isto são somente estimativas.
O mais importante daqui: após esta hipótese não há ainda quaisquer observações.
Os próprios investigadores afirmam que são precisos anos de investigação até terem evidências (o próprio Correio da Manhã informa isto no interior do seu artigo).
Mais, a parte de um grande asteróide desintegrado há 40.000 anos é quase uma explicação por cenário, tendo por base que os objectos não teriam uma órbita estável num período anterior a esse, e que se converteu numa proposta de trabalho.
Por isso, dizer que objectos rochosos do mesmo grupo do meteoro da Rússia vêm colidir com a Terra, é sensacionalismo, porque não existem quaisquer evidências concretas.
Podem dizer: “mas lá diz que podem vir e não que vêm”. Pois, mas essa é a técnica do programa pseudo Ancient Aliens. Na pseudociência baseiam-se em possibilidades. A ciência baseia-se em probabilidades. E, para já, não há evidências concretas que nos digam que esse resultado seja provável.
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