Um Canal de Estórias

Sem Título

No canal História dá uma série chamada “Segredos Desclassificados”, onde o apresentador, Brad, “coloca uma questão a um grupo de investigadores que viajarão em busca de pistas para averiguar o significado por detrás de fontes aparentemente banais. No seu exame aos cantos mais obscuros da Terra, descobrirão a verdade mais profunda.” (daqui)

Neste episódio que apanhei a meio do meu zapping, “Brad Meltzer e a sua equipa investigam o verdadeiro significado do misterioso monumento denominado Georgia Guidestones” (daqui)

É um programa que incentiva à mentira descarada onde, ao ouvir uma mentira, os actores do programa acenam com a cabeça, com ar sério e afirmativo. Não há um crivo, não há uma autocrítica, não há uma dúvida em relação às barbaridades que acabam de ouvir. Mais, apontam-nas e isso serve-lhes de ponto válido na investigação.

Vão a institutos científicos procurar cientistas que falem de investigações sérias mas os pesquisadores do programa pegam na informação científica e transportam para ideias pseudo. Um exemplo foi o de terem ido a um instituto que estuda ondas cerebrais. As pessoas conseguem mover objectos com ondas cerebrais mas os actores (vamos chamar assim para facilitar) usam essa ideia e vendem a projecção astral e coisas mágicas do género.

O mais infeliz do programa é dar voz a mentiras tão descaradas. O programa é de antes de 2012 e já dão a ideia de que haverá, no final de 2012, uma gigantesca ejecção coronal. Só não sei como o canal História tem a coragem de colocar no ar um episódio que deu errado do início ao fim. Esta atitude faz o canal História perder mais ainda a sua credibilidade – mas parece que o canal já nos habituou a isso – mas por mim tudo bem.

Um dos entrevistados é uma daquelas pessoas que parece que sabe muito de ciência mas que é um crente de teorias astrais e energéticas. O que esse senhor disse foi que poderá haver uma grande bola de fogo em 2012 porque há um ciclo solar muito violento que dura 12 ou 13 mil anos e a última grande catástrofe foi há 12 ou 13 mil anos. Ele disse ainda que há 12 mil anos havia grandes incêndios nos EUA e também, e lembrem-se disto, a última grande extinção e, como já passaram 12 mil anos, está na altura de outra catástrofe.

Só quero fazer um dos meus hobbies preferidos em 30 segundos. Vamos a isso? Cá vamos, comecem a contar:

1-      Abram 2 motores de busca Google

2-      Num escrevem as maiores extinções e no outro era glaciar

3-      Na primeira pesquisa abram o 3º site, este; Na segunda pesquisa abram o 2º site, este.

4-       Na primeira pesquisa a data mais próxima é de 65 Ma; na segunda pesquisa encontro que “Considera-se que ela começou há 100 mil anos e terminou há 12 mil.”

Já passaram 30 segundos? Cá está, numa era glaciar em que os EUA estavam debaixo de gelo, quase tudo gelo permanente, uma parte taiga, outra parte era deserto polar e pequenas áreas diferentes, não me parece que tenham havido grandes incêndios.

Só quero propor uma coisa ao canal História, que tire o “H” e que substitua o primeio “I” por um “E”.

2 comentários

1 ping

  1. De facto, António Sousa, esses programas (claro que o canal História não são só estórias) promovem a desinformação. Mas enquanto o António não se importa muito com isso, eu preocupo-me porque isso leva à descrença na ciência. Uma coisa é ver um jogo de futebol e beber umas minis, não saber e não falar de ciência… mas também não falar de anti-ciência. Outra coisa é aceitar a pseudo-ciência como ciência e refutar e realidade científica. Mas o que tem isso de mal? Assassinatos, suicídios e, o menos mal, extursão a pessoas que crêem em curas milagrosas ou que são levadas a crer por desespero.

    Repare, António, eu não me preocupo que os leigos não saibam jargões científicos. Os que querem aprendem, os que querem aprender com simplicidade também há mercado para eles. Os que não se interessam, vêm jogos de futebol (não é que os cientistas não o façam), mamas em canais hot ou bebem minis. O problema é transportar a ciência para um mercado do engano e exturpir dinheiro em troca de… um frasco cheio de nada. Há, aqui, calúnia à ciência.

    Um abraço

    • Antonio Campos Sousa on 19/11/2013 at 16:01
    • Responder

    Penso que não se deve criticar muito os programas deste canal. De uma certa forma, ao ter estes programas vai criar algo que tenho observado à muito em várias áreas que é a DESINFORMAÇÃO. Enquanto as mentes mais suscetíveis forem levadas por este tipo de series, não pensam em coisa reais e como a maioria não questiona a veracidade dos “factos”, qualquer canal que apresente este tipo de “shows” pode continuar a patrocina-los. A luta permanente entre a verdade e a falsidade/engano é algo muito velho e difícil de combater. É um facto social. As populações preocupam-se mais facilmente com os resultados de desportos variados do que com o que se apresenta à sua frente. Quantos saberão o que é uma partícula, um muão, um wimp?

  1. […] Triângulo na Lua. Sol num ecrã gigante. Extraterrestres Antigos. Desmistificar. Desenhar. Canal de Estórias. Erich von Däniken. Dogons. Quântica cor de rosa. Tribunal. Anel Negro. Dois Sóis. Alinhamento […]

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