Quanto vale a ciência?

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A ciência é vital.
Não só nos dá as tecnologias, e vantagens que usufruímos no dia-a-dia, mas sobretudo dá-nos todo o conhecimento que dispomos.
É essa curiosidade científica, e o pensamento crítico a ela subjacente, que nos permite saber tudo aquilo que sabemos.
E esse conhecimento é vital. Veja-se por exemplo, em termos individuais, o caso da medicina, e em termos de espécie o caso da astronomia.
Para sobrevivermos precisamos sem dúvida do conhecimento científico.

Daí que se calhar a pergunta que se deve fazer é: Quanto vale o conhecimento?

Como se pode ver aqui, o conhecimento, sobretudo o científico, e nomeadamente o ligado à astronomia vale pouco, vale muito pouco. E isto são valores para os EUA, porque em Portugal as discrepâncias são muito maiores, e o conhecimento científico vale muito menos.
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Tendo em conta que esse conhecimento é vital para sobrevivermos como espécie, parece-me então que está demasiado subvalorizado.

Porque será que não damos valor ao conhecimento em geral?
Porque será que não damos valor, em particular, à ciência?
Porque será que não damos valor, nomeadamente, à astronomia?

Faço estas perguntas, após já ter reflectido bastante sobre isto, e até já ter partilhado ideias com astrónomos amadores, numa conversa que começou aqui e acabou aqui, 50 e-mails depois.
Neste post vou fazer uma auto-crítica, como português, como divulgador de astronomia, e como um dos coordenadores deste blog.


A qualidade paga-se.
Muita gente vê o preço como sinónimo de qualidade. Basta ir pelas ruas do Porto ou perguntar nos shoppings. Entre algo que é barato e outra coisa que é cara, as pessoas tendem a escolher o mais caro, porque imaginam que isso lhes trará maior qualidade.
Por exemplo, assume-se que o mérito dos médicos se mede pelo preço da consulta. Assume-se que o médico que leva 120 euros por consulta é melhor do que o médico que só leva 20 euros por consulta.
Ou seja, o subconsciente das pessoas atribui o valor a algo, mediante aquilo que paga por esse algo. É uma falsa noção de valor – o preço -, mas é o que as pessoas assumem ser verdade.

O que é de graça é desvalorizado totalmente.
Há já uns tempos recebi por e-mail uma estória, provavelmente apócrifa, de alguém que dizia que tinha deitado o frigorífico ao lixo. Ainda trabalhava, mas como comprou um melhor, desfez-se daquele que tinha. Colocou ao lado do lixo, de modo a alguém o levar. Ninguém pegou nele. Por isso, o dono pegou nele novamente e pôs-lhe um preço de 50 euros. E recebeu inúmeros telefonemas de quem lhe queria comprar o frigorífico.
Ou seja, como era de graça, ninguém pegou naquilo. Quando passou a ser pago, já muita gente queria.
Da mesma forma, alguém me disse há uns tempos que o cantor Zeca Afonso não cobrava nada quando cantava para o público popular, e queixava-se de que era menos bem tratado e menos considerado do que os outros cantores que cobravam cachet.
Provavelmente se o Quim Barreiros, por exemplo, fizesse espetáculos de graça, ninguém o convidava. Mas assim, a centenas (milhares?) de euros, terá provavelmente a agenda preenchida com convites.
O mesmo se passa na educação. Sendo de graça, ninguém lhe dá valor. Se o professor falta, os alunos pulam de alegria.
Ou seja, desconsidera-se, despreza-se e desvaloriza-se o que é de graça. Mesmo que tenha valor e qualidade, as pessoas assumem que não tem, por ser gratuito.

Não só a percepção (mesmo que errada) de qualidade se paga, mas a marca também se paga.
Por exemplo: se eu comprar um relógio nas lojas dos Chineses, sei que a qualidade é mínima, o relógio é barato (2 euros), e dura uma semana. Se comprar na Swatch, é mais caro (40 euros), pago também pela marca, e espero que tenha melhor qualidade e dure mais. Se comprar um Rolex, o preço é muito mais alto (podem chegar a 1 milhão de euros), vou também pagar pela marca, assumo que a qualidade é enorme, e espero que dure a vida inteira.
Outro exemplo: as marcas de roupa, é a mesma coisa. Quanto mais cara, e sendo de marca, assume-se implicitamente uma qualidade melhor.
Outro exemplo: se as sapatilhas Nike fossem de graça, ninguém queria saber delas.
Ou seja, a percepção de qualidade e a marca, pagam-se.

Não é a marca propriamente que se paga, mas sim a percepção de qualidade associada à marca, que existe na mente das pessoas.

Sendo assim, e tendo em conta que a ciência está em todo o lado no nosso dia-a-dia, então a marca “ciência” deveria ter um valor enorme.
No entanto, o que se passa é o contrário. A marca “ciência” e a marca “conhecimento”, nada valem para as pessoas.


Quem se aproveita desta mentalidade de “qualidade paga-se” são os pseudos e os os auto-denominados “famosos“.

Os pseudos fazem palestras a 25 euros, dão cursos a 170 euros, etc. Podem dizer as maiores palermices/mentiras, como por exemplo: “Os seres luminosos proporcionam um trabalho profundo do coração actuando no DNA espiritual e efectuando a conexão e activação de várias fitas de DNA“. Podem até incluir que passaram pela NASA ou por vários países (quer o tenham feito ou não), porque supostamente isso dá-lhes “credibilidade e prestígio” para aumentarem ainda mais os preços.
As pessoas lêem isto, e vêem o preço, e a percepção é que eles têm que saber do que estão a falar, pelo preço que levam.
Não só há uma falsa avaliação, mas há uma estupidificação/imbecilização da sociedade.

Já os “famosos” levam cachets monstruosos para aparecerem em discotecas.
A Bárbara Guimarães, quando era convidada para aparecer numa discoteca em Portugal, levava um cachet provavelmente de alguns milhares de euros por passar 2 horas a acenar.
A Jaciara (ex-mulher do jogador Deco, que já jogou no FCP) é considerada famosa (não me perguntem porquê, que eu também não sei). Quando vem a Portugal visitar uma discoteca, pede 3000 euros por 3 horas a acenar.
O Figo visita uma escola e tem logo a acompanhá-lo o Ministro da Educação.
Se o Cristiano Ronaldo decidir visitar uma escola, aparecem logo “por milagre” fundos monetários que não existiam e “altos dignatários da Nação” a marcar presença.
Famosos e pseudo-famosos (ex: Reality Shows) levam caríssimo para não fazerem nada, dando a entender que só a presença deles, a “marca” deles tem qualidade. Mesmo não tendo qualidade nenhuma, essa é a percepção que transmitem às pessoas.


Enquanto os pseudos colocam preços altos, para transmitirem a ideia que o que vendem tem qualidade, já os divulgadores de ciência (muitas das vezes são também cientistas) transmitem a ideia que a ciência tem pouca qualidade.
Enquanto os pseudos vão ficando ricos, os cientistas vão-se queixando da falta de fundos para as suas equipas.
Enquanto os pseudos (e famosos) aproveitam-se da mentalidade de “qualidade paga-se”, a ciência ignora isso e passa uma má imagem de si.

Por exemplo, o Zé Matos leva muito pouco pelo conhecimento que detém, em comparação com o desconhecimento dos pseudos. Tanto em palestras como em cursos, os valores que o Zé Matos leva são nitidamente inferiores aos dos pseudos. Se qualidade paga-se, as pessoas vão ficar a pensar que o curso dos pseudos é melhor, que as mentiras deles valem mais que o conhecimento do Zé Matos.
Os elementos da Atalaia não levam nada pelas explicações quando fazem observações astronómicas com o público.
O Pedro Ré, o Guilherme de Almeida, e vários outros pertencentes à APAA, também não levam nada pelas palestras que fazem. E muitas vezes nem sequer têm “direito” a ser indemnizados pelas deslocações que fazem. Os organizadores nem se “lembram” dessas despesas, assumindo que estas pessoas só por divulgarem ciência então serão uns “coitadinhos” e não têm direito a serem reembolsados (ou seja, têm que ter prejuízo, e é se querem!). Há uma desvalorização total do conhecimento e das pessoas que o detém.
Quando existem encontros de astronomia, os palestradores não são pagos.
Quando há eventos locais, por exemplo organizados pelas Câmaras, os famosos são pagos a peso de ouro para lá irem, até eventuais palhaços são pagos, mas os divulgadores de conhecimento (neste caso, de astronomia) não são pagos. As câmaras teriam todo o interesse em pagar-nos, porque são eventos úteis para os moradores, que dão visibilidade à região, dão boa imagem às Câmaras, dão lucros aos restaurantes e pensões, e enriquecem o conhecimento dos naturais da terra. Mas o certo é que nem as deslocações ou estadias querem pagar. Assumem que o conhecimento não vale nada.
As escolas não pagam a quem lá vai fornecer o conhecimento (os próprios professores são muito mal pagos, por isso já se vê como o conhecimento é desvalorizado). Eu próprio (e o Nuno e a Vera) temos experiência pessoal de ir a escolas há uns anos atrás perguntar se queriam que dessemos algumas aulas GRATUITAS de astronomia, e disseram-nos que não. Provavelmente, porque era de graça, e assim é mal visto (é visto como não tendo qualidade). No entanto, se dissessemos que um pseudo-famoso que acabou de sair da Casa dos Segredos iria lá, provavelmente até nem havia aulas e tentariam arranjar o mais dinheiro possível para lhe pagarem.

E nem é preciso referir que quando estes e outros especialistas vão divulgar astronomia/conhecimento a uma escola, além de não serem pagos, também não têm os ministros a agradecerem-lhes e a “babarem-se” ao seu lado, em presença de tão grande conhecimento.

Comigo passa-se o mesmo dos exemplos que dei em cima.
Sempre que vou a Portugal, vou a vários lados fazer divulgação de astronomia. Tento fazer palestras, por escolas, encontros, astrofestas, etc.
Não sou pago pelo trabalho, e raramente me pagam as deslocações.

(já agora, um àparte para dizer que nos EUA, existe esse reconhecimento pelo trabalho, pelo mérito, pelo talento, pelo conhecimento. Daí que sou pago e não esperam que eu faça nada de graça. Pagam pela qualidade do conhecimento.
Por outro lado, existe uma aposta na ciência, na marca, e no marketing, como por exemplo nos centros da NASA. O que leva ao respeito e à valorização dessas instituições. Já em Portugal parece-me que centros de ciência (no Visionarium tenho experiência própria disso) não querem saber de marketing ou de “vender” os seus produtos científicos – por exemplo, nas próprias lojas que não se encontram nas saídas.
Há também uma valorização do que é essencial, e não uma concentração no acessório ou “deixar andar”.
Parece-me também que aqui existe um planeamento de longo prazo, enquanto em Portugal pensa-se somente no curto prazo, por exemplo preferindo ter 50 pessoas a olharem durante 1 hora para uma palestra, esquecendo-nos que a mensagem de longo prazo que se transmite é que o nosso valor, o nosso conhecimento, o nosso tempo, não vale nada.
Tenta-se igualmente dinamizar com os recursos disponíveis e tentar arranjar mais para utilizar, enquanto em Portugal há muito telescópio “empacotado”.
Parece-me sobretudo uma questão de mentalidade. Na América do Norte, e na Europa do Norte, pode-se retirar um jornal (ninguém tira mais) das “caixas” de jornais, por vezes não existem pessoas a controlar entradas para o cinema, pode-se comer nos supermercados, etc. As pessoas não tentam “passar a perna”, ser “chicos-espertos”, porque sabem que o trabalho custa e quem fica a perder é a sociedade no seu todo. Na Europa do Sul não se vê os frutos desse trabalho, e por isso não se dá valor a quem trabalha, a quem detém conhecimento)

Voltando a mim, e ao que faço em Portugal, é claro que faço as coisas por “amor à causa” (mesmo tendo prejuízo monetário).
Obviamente que acho importante o trabalho que faço no blog, e na divulgação quando vou a Portugal.
E para alguns, provavelmente isso é suficiente, mesmo não tendo o reconhecimento que merecem.
Afinal o importante é fazer chegar a astronomia, e o conhecimento, ao maior número de pessoas.

No entanto, a minha pergunta prende-se com a percepção das pessoas.
Se não levamos $$, as pessoas assumem que essa actividade tem menos qualidade que as palestras dos pseudos a dezenas de euros.
Ou seja, a ciência é “vendida” como se fosse uma “loja dos Chineses” (não tenho nada contra elas, é só um exemplo de preço-qualidade). O conhecimento (científico) é publicitado nos preços, como tendo pouca qualidade. A “marca” ciência vale menos por isso… poderemos estar a retirar mérito à ciência.
Ao fazermos as coisas de graça, estaremos a desprezar o valor da marca ciência, e estaremos a contribuir para que as pessoas não tenham orgulho na ciência e na sua educação científica.

Exemplo: se o sr. X desse 100 euros por uma palestra de astrobiologia, provavelmente sentir-se-ia mais orgulhoso a contar aos amigos: “Ontem fui a uma palestra excepcional. Dei 100 euros, mas foi muito bem empregado, porque a qualidade era excelente e fiquei a saber muito mais”.
No entanto, o que acontece actualmente é isto: o sr. X diz ao amigo: “Ontem fui a uma palestra de astrobiologia. Foi excelente. Aproveita que é de graça.”
Ou seja, o amigo poderá ir, porque é de graça. Não pela marca, não pela ciência, mas sim porque é de graça.

A ciência perde valor aos olhos das pessoas.
O conhecimento científico/astronómico é visto como tendo menos valor que um Curso de Metafísica, ou que uma Bárbara Guimarães a acenar, ou que uma Jaciara a aparecer nalgum lado, ou que um Figo a visitar alguma coisa.

E provavelmente somos nós que estamos a contribuir para isso, para a desvalorização popular da ciência, para o demérito da ciência, para a diminuição da importância da ciência, e para a desvalorização do nosso próprio conhecimento.
Enquanto os pseudos valorizam as mentiras que divulgam, e os “famosos” não aceitariam ir de graça fazer trabalhos similares, já quem divulga a ciência deixa que o seu valor seja entendido como “zero”.
Há uma desvalorização total do conhecimento e das pessoas que o detém.
E nós contribuímos para isso – deixamos que essa seja a mensagem passada para as pessoas, que essa seja a percepção das pessoas. Não mostramos orgulho no conhecimento que temos, no mérito que dispomos, no valor que o nosso conhecimento tem. Deixamos que as pessoas associem ciência e conhecimento com pouco valor, um valor nulo (gratuito).
Este recurso próprio que temos – conhecimento -, é, assim, desprezado, inclusivé por nós. E se nem a própria pessoa dá valor ao seu conhecimento, não se pode esperar que os outros dêem esse valor.

Imagine-se que está um extraterrestre lá em cima, a tentar compreender a população terrestre.
O que pensará ele?
Que a nossa sociedade dá mais valor a acenos, a pseudo-famosos, a ex-jogadores de futebol, e a pseudos, do que ao conhecimento científico.
Ou seja, o ET pensaria exactamente o que as pessoas pensam: o que é mais caro e tem os “chefes da nação” a acompanhar, tem mais valor.

Alguma coisa tem que mudar. As mentalidades têm que mudar.
Provavelmente só muda, se os divulgadores (como eu quando vou a Portugal) mudarem de mentalidade. Se pararmos de denegrir a ciência e a nós próprios, sem querer. Se deixarmos de assumir para nós e para o nosso conhecimento um valor abaixo dos Quim Barreiros deste mundo, e começarmos a dar a entender que “o meu valor é superior ao do Quim Barreiros” ou, no mínimo, assumir: “o meu valor intelectual é semelhante ao do Quim Barreiros em termos musicais”. Só isso, já faria mudar muita coisa, só isso já faria as pessoas perceberem que a ciência e a pessoa que a comunica tem valor.
Só mudando as mentalidades neste campo, poderemos mudar a percepção das pessoas quanto ao valor da ciência e ao nosso próprio valor.


O projecto astroPT é gratuito, disseminando assim a ideia que a qualidade do conhecimento científico é insignificante (ao ser de graça).
Por exemplo, existem inúmeros sites na net que têm conteúdo porno, e paga-se. No blog do astroPT, não se paga nada, para se saber de notícias astronómicas. Assim, o astroPT está a passar a mensagem que o conhecimento de astronomia vale menos que vídeos pornográficos.
Ou seja, o astroPT mesmo tendo por objectivo disseminar conhecimento científico, está sem querer a transmitir a mensagem que esse conhecimento não vale nada. Quem nos lê fica invariavelmente com essa ideia: que saber de astronomia vale menos do que pagar para ir ver a Jaciara, por exemplo.
Como qualidade paga-se, a percepção de quem nos lê é que o astroPT, e a ciência, tem menos qualidade que pseudo-famosos.

Por outro lado, enquanto o Quim Barreiros, o Cristiano Ronaldo, ou o Carl Sagan fazem valer a sua Marca como sinal de reconhecimento nas suas áreas, já o astroPT, ao ser gratuito, transmite a ideia que não existe esse valor – a marca astroPT não existe, é nula, gratuita. Essa será a percepção de quem nos vê/lê.

Notem que nem estou a dizer que se se pagasse, então o projecto astroPT teria que ser profissionalizado, e daria para competir com artigos ao nível de sites profissionais de notícias.
Estou somente a colocar as coisas em termos filosóficos, em termos de percepção das pessoas.
Como as pessoas sabem que a qualidade paga-se, então o astroPT estará inadvertidamente a transmitir a mensagem que a divulgação da astronomia e da ciência em geral devem ser de graça porque não têm qualidade.

Ou seja, apesar do nosso objectivo ser melhorar o conhecimento científico/astrónomico dos nossos leitores, o que poderá estar a acontecer é que estamos a reforçar a ideia de que o valor (desta divulgação) da ciência é nulo.
Estamos a contribuir para a ideia que a marca conhecimento e a marca ciência nada valem.
A filosofia gratuita de transmissão do conhecimento inerente ao astroPT, pode estar assim a dar um tiro no pé, e a contribuir para a desvalorização da ciência.

É tudo uma questão de percepção de valor, e imagem de marca.
A divulgação da ciência, e a transmissão de conhecimento, terá necessariamente que compreender estas leis de mercado.
Já Darwin dizia que o factor principal para a sobrevivência é a adaptação ao meio em que se está inserido.

Sendo assim, parece-me que o astroPT:
– para não morrer, terá que evoluir.
– terá que ter uma evolução que tenha em atenção as percepções da sociedade.
– terá que tentar ser reconhecido como uma marca de qualidade.
– e terá que tentar mudar as mentalidades, passando a contribuir para com que a ciência seja valorizada, fazendo com que o conhecimento seja reconhecido como tendo valor.

55 comentários

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    • Ana Guerreiro Pereira on 21/04/2011 at 20:33
    • Responder

    Marco, lol, acho que é essa a reacção normal, da maioria… a Maria João (Pratt) queixa-se do mesmo eheheh. Penso q tb depende da nossa atitude; se fossemos realmente arrogantes ou se fossemos Houses sarcásticos e cáusticos, pouco nos importávamos com essas bocas, viessem donde viessem, lol. Apesar de alguns jantares assim, devo dizer que fui criada numa família de cépticos 😀 que tentavam sempre responder às minhas perguntas 😀 Justiça seja feita qto a isso 🙂 Não me deixaram ir para a catequese nem nada, os maus 😀 (pq todos os meninos iam…e pq o menino Jesus era o meu melhor amigo imaginário :D)

    Carlos, vivemos numa sociedade em que somos bombardeados constantemente com informação. Demasiada informação e demasiada desinformação! É muito dificil fazer a triagem de tudo isto mesmo qd se tem espírito crítico, agora imagine-se quando este não está desenvolvido e/ou qd os conhecimentos são poucos numa determinada área ou em todas…
    Certa vez, falando-se nisto, aleguei que numa sociedade de informação como a actual, tinha de haver mais responsabilização, triagem e controlo do tipo de informação que é posto na rua. Ou seja, evitar a desinformação. Fui chamada de salazarista que não sabia o que era a liberdade de expressão…

  1. Quando querem vender um carro, relógio ou um perfume normalmente os bens chegam a ser secundários nos próprios anúncios. O que se vende nos anúncios são sonhos. “Se comprar este carro vai ser tal e qual este executivo bem sucedido que aqui aparece”, “se comprar este perfume vai ser tal e qual este top model e engatar as mulheres que quiser”…
    O Kurzweil consegue usar a mesma técnica prometendo a imortalidade através da ciência. E o projecto Venus promete o sonho de uma sociedade utópica tipo Star Trek também através da ciência. É preciso arranjar um sonho para promover a ciência.

    As crianças dantes queriam ser polícias, médicos e astronautas, agora querem só ser famosos… ironicamente parece que o filme idiocracia é bem capaz de se tornar realidade…

  2. Interessante esta tua “dissertação” sobre opiniões e conhecimento.

    Realmente, não entender as diferenças entre eles, é um dos sintomas de iliteracia funcional. Ou seja, a pessoa não sabe avaliar a imensa informação que lhe chega diariamente – nem sequer consegue perceber que as fontes têm diferentes credibilidades.
    E este é um dos maiores problemas atuais, nesta nossa sociedade da informação.
    🙁

    • Ana Guerreiro Pereira on 21/04/2011 at 16:14
    • Responder

    Li agora por alto o tema “Jantar com Cientista” e recordou-me outra parte do problema e do preconceito com que os cientistas são vistos: somos considerados arrogantes, cromos, geeks, com a mania que sabem tudo. O próprio facto de se ser portador de conhecimento melindra outréns, suscitando complexos de inferioridade… que são ainda mais acentuados qd se trata de pessoas próximas.

    “és mesmo croma”, “ai isso a estas horas não”, “ai, estou a comer”, “ai isso é complicado demais para mim, deixa lá”, “tens a mania que os outros são todos parvos e que tu é que és detentora do conhecimento”, “se tiveres melhor nota que eu deixo de te falar”, “não acredito em nada disso”, “isso não faz qq sentido”, “isso é só a tua opinião, toda a gente tem direito à sua opinião”, “a ciência não é tudo na vida”, “a ciência não explica tudo”, “nâo podes ser assim tão céptica, tens de ter a mente mais aberta”… enfim, já ouvi de tudo ao jantar (e não só) 😛 😀

    Há resistência das pessoas ao conhecimento, especialmente qd este é passado sob a forma de discussão em redes sociais ou á mesa e dependendo da personalidade da pessoa. Geralmente estabelece-se uma relação de poder e só interessa “ganhar a discussão”, porque admitir que o outro está certo é perder e dar parte de fraco…daí que em vez de reconhecer o erro, muitos se enrolem em argumentos tolos e descabidos, sem sentido nenhum, partindo para o insulto, somente pq não são capazes de admitir que naquele ponto não estão correctos (“é a minha opinião!”, como se opiniões e factos fossem a mesma coisa). E as trocas de ideias, o fluir de conhecimentos torna-se somente num duelo de intelectos ou de personalidades fortes e reivindicativas, com o obejctivo de haver um vencedor… nesta medida, as discussões não são proveitosas, se bem que esteja patente que ajudam a lubrificar a maquinaria cerebral ehehehe. Por outro lado, há pessoas que não conseguindo admitir que são ignorantes num determinado campo, para se protegerem ou dizem que não acreditam ou q aquilo não faz sentido…outros, nem deixam q a conversa comece, não estão interessados…outros, falam somente para se ouvirem e serem admirados, não para serem ouvidos… no meio de tudo isto, ao jantar, perde-se o conhecimento…

    Por outro lado, nem mesmo qd se sabe que estão perante um cientista se tem noção de que, naquela área, o cientista é um especialista. Tenho alunos que gostam muito de me dizer que não concordam com nada daquilo, sem sequer saberem do que é que se está a falar, sem sequer terem uma noção correcta do tema em questão. Eles é que sabem e pronto… esta falta de abertura e esta tacanhez e chico-espertice, em que as “opiniões” valem mais do que os factos (muitas vezes não compreendidos ou totalmente desconhecidos…) apresentados pelo cientista, acabam por minar tb aquilo que poderia ser um bom jantar…

    1. «“és mesmo croma”, “ai isso a estas horas não”, “ai, estou a comer”, “ai isso é complicado demais para mim, deixa lá”, “tens a mania que os outros são todos parvos e que tu é que és detentora do conhecimento”, “se tiveres melhor nota que eu deixo de te falar”, “não acredito em nada disso”, “isso não faz qq sentido”, “isso é só a tua opinião, toda a gente tem direito à sua opinião”, “a ciência não é tudo na vida”, “a ciência não explica tudo”, “nâo podes ser assim tão céptica, tens de ter a mente mais aberta”… enfim, já ouvi de tudo ao jantar (e não só)»

      Tens a certeza de que não temos os mesmos amigos/conhecidos? 😛

      Eu tenho a minha teoria pessoal sobre isto. Isto começa tudo quando em pequenas as crianças entram na idade dos porquês e começam a perguntar porque o céu é azul e os papás dizem “Cala-te não faças perguntas estúpidas!”. Quem não está farto de ouvir isto na rua? Daí as crianças só aprendem que é vergonhoso denotar ignorância sobre qualquer assunto, daí depreendem que é bem melhor inventar histórias (tretas) para preencher as lacunas do conhecimento e depois bater o pé no chão caso alguém as confronte. Depois é um ciclo vicioso, crescem e vão dizer o mesmo aos filhos porque têm vergonha de mostrar que não sabem tudo. Os meus pais também me diziam o mesmo, mas sempre fui teimoso :P.
      As crianças são cientistas naturais, mesmo que a minha teoria não esteja certa alguma coisa acontece para se estragarem…

  1. […] A marca ciência parece não valer muito para alguns. No entanto, quem nos visita no blog e no Facebook, ao longo destes 8 anos, penso que […]

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