Depois de Stephen Hawking ter dito que não precisava de Deus para explicar a criação do Universo (podem ler este post e este post), agora chegou a vez do Papa vir dizer que Deus é o responsável pelo Big Bang.
Podem ler em português, aqui e aqui, e em inglês, aqui, aqui, e aqui.
Pessoalmente, penso que nem um nem outro podem fazer afirmações sobre o que se passou no Big Bang.
É estarem a inventar…
De qualquer modo, percebo o Hawking.
Hawking não negou Deus. Simplesmente limitou-se a afirmar o óbvio tendo em conta a evolução da Humanidade. Dantes pensava-se que o Sol era um Deus, que a chuva era feita por deuses, que a trovoada era feita por deuses, etc. À medida que a ciência e o conhecimento progridem, vai-se percebendo melhor esses “mistérios” e Deus deixa de ser necessário para explicar esses fenómenos.
Por outro lado, Hawking fez essas “declarações bombásticas” somente por motivos de marketing. Assim, teve direito a notícias na TV, a programas na TV, a discussão sobre o livro dele, etc. Foi publicidade grátis.
Também percebo a posição do Papa. Compreendo perfeitamente porque ele o disse, e que essa é a sua fé.
No entanto, ele poderia simplesmente ter dito isso (Deus criou o Big Bang), porque é a sua fé. Quando “justificou” essa fé, com o que ele assume serem características da ciência, então errou.
As suas declarações denotam que não percebe como o mundo funciona, porque não entende a natureza da ciência.
Por exemplo, ele diz: “algumas teorias científicas são mentalmente limitadoras porque chegam apenas até certo ponto (…) e não conseguem explicar a realidade última (…)”. Mas por isso, é que se chama ciência. Este é o processo científico – melhorar sempre. Não é um processo limitador; pelo contrário, é um processo que permite a evolução do conhecimento.
O Papa também criticou a ciência dizendo que “as teorias científicas sobre a origem e o desenvolvimento do universo e dos seres humanos (…) deixam questões sem resposta”. Mas a ciência não é fundamentalista como a religião. A ciência e o conhecimento evoluem. As respostas, levam a mais perguntas, e continua-se a descobrir mais e mais.
Enquanto a religião e a pseudociência inventam nomes para a ignorância que demonstram, a ciência tenta compreender e explicar os fenómenos. Esta não é uma limitação da natureza da ciência; pelo contrário, é uma característica vital para se evoluir no conhecimento; por exemplo, para sabermos como funciona a gravidade, e para podermos ter computadores.
Além disso, quem afirma o extraordinário é que tem que mostrar evidências extraordinárias.
Assim, chame-se Deus, Teoria das Cordas, Monstro de Esparguete Voador, Braco cura pelo olhar, pulseiras quânticas, ou o Pai Natal, quem afirma que isso existe no tempo em causa, é que tem que o provar.
Sendo assim, neste caso, o ónus da prova está do lado do Papa.
Por último, penso ser um completo paradoxo afirmar que Deus criou o Universo, e o mesmo Deus andar preocupado com o que se passa num minúsculo (“invisível”) pedaço de pó existente num Universo gigantesco…
(esta é a imagem da Terra vista de um planeta, Marte, bastante perto de nós. Mesmo de perto, a Terra é um minúsculo pedaço de pó. Visto de outras estrelas, a Terra nem se vê. Um ser criador de todo o Universo não passaria o tempo preocupado com esta insignificante partícula; teria todo o Universo para se deliciar. A ideia de um ser criador do Universo andar preocupado com o que fazem primos de gorilas numa insignificante partícula no universo, andar a contabilizar quantas vezes digo asneiras, e a escutar as minhas rezas para marcar mais um golo num jogo de futebol, é de um narcisismo avassalador da parte da Humanidade. Isto demonstra que o geocentrismo psicológico persiste na mente de muitas pessoas)
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1 – Eu olho para as evidências objetivas. Deus tem tantas evidências como o Pai Natal ou Unicórnios Voadores Invisíveis. Logo, inicialmente admito a existência de tudo, incluindo do Pai Natal. Depois olho para as evidências para tirar as minhas conclusões.
2 – Não sou técnico de som, mas percebo de ciência, e não entro na Igreja a explicar ciência às pessoas que vão à Igreja saber de Deus. “Cada macaco no seu galho”.
O que o Papa fez foi falar de ciência, mas mal, porque entrou nas conceções erradas comuns na população.
Para falar de ciência, deveria perguntar primeiro o que ela é.
“se calhar (você não concorda mas eu sim) é preciso ir indo aos poucos metendo na cabeça das pessoas (já agora a na sua também) que a Bíblia não é um livro cientifico mas um livro de Fé.” <--- não coloquei isso em questão. Por favor, leia o artigo. "conheceu o Pe João Resina?" <--- não. Se era padre e físico, melhor para ele. Provavelmente não cometeu os mesmos erros científicos que o Papa. abraços
(…comentário editado…)
Cmp e felicidades para o blog.
(…comentário editado…)
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Caro Albino,
Agradeço-lhe as palavras que “passaram” na moderação.
Quanto ao resto do seu comentário, bem, penso que quem não quer, não come. Se não quer ler, não lê. É simples.
De resto, o texto do post fala por si. O Papa esteve mal. Se não entende isso, não sei que lhe fazer. Mas também não lhe admito as suas “opiniões” (entre aspas).
abraços
[…] várias intervenções papais sobre as teorias científicas. O último Papa, por exemplo, tinha feito o mesmo que agora foi feito pelo novo […]