13 – Sem Medo do Escuro (Unafraid of the Dark)
O último episódio desta série lida com os mistérios da energia negra e da matéria negra.
O astrónomo suíço Fritz Zwicky é um dos heróis deste episódio.
Fritz Zwicky foi um génio, incompreendido no seu tempo, que nos deu conhecimento de supernovas, estrelas de neutrões (pulsares), lentes gravitacionais e matéria negra.
O episódio começa com a Biblioteca de Alexandria. Com a sua destruição, o conhecimento humano sofreu um duro golpe. No entanto, a humanidade continua a querer saber mais: a procura pelo conhecimento não se deteve.
Em 1492, Martin Behaim criou o melhor mapa do globo terrestre. Tinha todo o nosso conhecimento de geografia terrestre: 3 continentes e 1 oceano. Apenas alguns meses depois, Colombo descobriu outro continente, e para lá desse continente existia um outro enorme oceano.
O conhecimento da Terra por parte de Behaim era incompleto, mas mesmo assim era muito maior do que o conhecimento que atualmente temos do universo…
Através de balões de grande altitude, Victor Hess descobriu a existência de raios cósmicos.
O astrónomo suíço Fritz Zwicky postulou que os raios cósmicos tinham como fonte as supernovas. Zwicky também estudou o movimento das galáxias no Aglomerado Coma de galáxias. Os seus cálculos sugeriam que tinha de haver mais massa no Universo do que aquela que conseguíamos detetar. Zwicky chamou a isto: matéria negra.
Mais tarde, o trabalho de Vera Rubin, ao analisar a órbita das estrelas na parte exterior das galáxias, confirmou que tinha que existir mais matéria do que aquela que se detetava.
Ainda mais tarde, o estudo de supernovas em galáxias distantes levou à descoberta da energia negra, por Edwin Hubble, que é a responsável pela expansão do Universo.
Em seguida, Tyson passa para o tema das viagens interestelares, nomeadamente para as viagens das sondas Voyager, que foram/são um enorme sucesso científico. Foram também um tremendo sucesso de marketing, com o Voyager Golden Record e com a fotografia do “Pale Blue Dot” – “a mote of dust suspended in a sunbeam” – um ponto azul-claro, um grão de poeira suspenso num raio de sol.
Tyson conclui mostrando a fabulosa Mensagem de Sagan, sobre a insignificante condição humana num enorme universo.
No final, Tyson encoraja as pessoas a explorarem o Universo e a conseguirem cada vez mais conhecimento sobre ele.
A série termina com mais um brilhante episódio.
Mais uma vez, este episódio tem excelentes efeitos especiais.
Adorei a conclusão de Tyson: se a pessoa gosta de ser o centro de um universo pequeno, então o conhecimento científico vai contra as suas crenças; se a pessoa adora viver num universo gigantesco, então é normal que tenha curiosidade sobre ele, que dê valor ao conhecimento e à verdade.
Adorei a mensagem final: o universo é enorme e nós somos insignificantes nele.
Adorei outra mensagem: a nossa imaginação é demasiado pequena quando comparada com a impressionante realidade da natureza.
Adorei outra mensagem: ainda temos muito por descobrir no universo. Essas descobertas só serão concretizadas pela ciência.
Aliás, Tyson diz mesmo: é incrível como uma civilização consegue enviar os seus artefactos para outros mundos situados a bilhões de km de distância.
Como conseguimos estes feitos? Com a ciência! Com várias gerações de cientistas! Com conhecimento científico!
Adorei ainda outra mensagem transmitida: não são as nossas crenças ou ideias pré-concebidas que contam, mas o conhecimento que nos é dado pela natureza.
Tyson, tal como Feynman, diz mesmo: se as nossas ideias estão em desacordo com as experiências/evidências que nos são dadas pela natureza, então devemos mudar de ideias, porque estamos errados!
É esse teste/experiência que manda. É a natureza que manda.
Não são as nossas ideias/crenças/ideologias/filosofias que comandam o Universo, mas sim o Universo que nos diz o que está certo e o que está errado.
Acreditar em algo, não o torna verdade! O que nós acreditamos, é irrelevante; nós devemos querer saber, devemos querer conhecimento.
Tyson termina dizendo: “Science is a way to keep from fooling ourselves and each other” – a ciência é a forma de impedir que nos enganemos a nós próprios e aos outros.
Mais uma frase emblemática de Tyson: devemos adorar a natureza tal como ela é (e não da forma que gostaríamos que fosse, pelas nossas crenças).
Adorei a forma como Tyson deu a volta a certas críticas à ciência.
Os cientistas não se sentem diminuídos por não saberem o que é a matéria negra e a energia negra. Pelo contrário. Isso são oportunidades de criar conhecimento, de sermos curiosos, de querermos saber mais.
A ciência não se assusta com o desconhecido; a ciência não se sente intimidada pelo desconhecido; a ciência não tem “medo do escuro”.
Quem tem medo do “escuro”, de tudo o que é desconhecido são outros: a religião e os pseudos que inventam pseudo-explicações porque têm medo de dizer “não sei” – Tyson diz-lhes mesmo que acreditar nas respostas erradas e fingirem saber tudo, fecha-lhes a porta para a descoberta do que realmente existe.
Já a ciência adora o desconhecido, porque é nessa área que o conhecimento está disponível para ser construído.
A ciência é precisamente isso: ver para lá da redoma em que nos encontramos, espreitar por entre a cortina (tal como na famosa pintura que aparece no livro de Camille Flammarion, nós vamos desvendando os mistérios do Universo – como foi explicado no 1º episódio).
Aliás, a parte inicial é brilhante, com a experiência mental, de pensarmos que nos biliões de estrelas em biliões de galáxias, pegamos numa estrela que tem vários planetas a orbitá-la, e num desses planetas, nos triliões de seres vivos que existem, existe uma parte deles que acredita que o seu mundo é todo o universo, que o universo foi feito para eles… Alguém os leva a sério? Claro que não!
Nós pensaríamos desses seres: que inocentes que eles são! E que errados que eles estão!
E, no entanto, isso é o que pensa, erradamente, uma parte da população humana: essas pessoas continuam a pensar que num vastíssimo universo, elas são muito especiais e o Universo foi feito para elas.
Adorei uma frase de Tyson: ao olhar para uma pequena pedra, a diferença entre só ver uma pedra ou saber ler a história do cosmos escrita no seu interior, é a ciência!
Adorei o final com a Mensagem de Sagan.
Adorei a homenagem a Fritz Zwicky.
Adorei o segmento com as sondas Voyager.
Adorei o ênfase colocado na importância do conhecimento e do pensamento crítico.
Adorei que Tyson tivesse referido que os termos “energia negra” e “matéria negra” são somente termos que refletem a nossa ignorância, já que não sabemos o que essas coisas são.
Na verdade, só conhecemos cerca de 5% do Universo.
Adorei a parte em que, após explicar a matéria negra (com a brilhante analogia da espuma das ondas do oceano), Tyson vai começar a explicar a energia negra. E o que diz Tyson nessa transição? “But, wait, it gets crazier!”
Compreendo que Tyson, ao falar da Biblioteca de Alexandria, tenha dito que o conhecimento deve ser livre para todos (ao contrário desse tempo em que só alguns tinham acesso a esse conhecimento). Defendo obviamente o mesmo, daí a existência deste blog.
No entanto, parece-me muito “inocente” de Tyson argumentar que a internet leva o conhecimento a toda a gente; não leva. Há muita gente que não quer esse conhecimento.
Por outro lado, ao contrário da Biblioteca de Alexandria, a internet é também um repositório de desinformação, vigarices e pseudociência.
Por fim, no mesmo tema, Tyson diz que o conhecimento científico deve estar aberto a todos, porque toda a gente pode avaliar as conclusões científicas; mas isto é errado. Não é porque alguém diz que sabe, que passa a saber e que passa a querer avaliar os outros. A revisão de conhecimento não funciona dessa forma. A revisão deve ser feita, obviamente, por quem tem o conhecimento para isso.
Gostava que o episódio tivesse falado mais da energia negra. Penso que merecia mais tempo.
Não gostei de Tyson dar a entender que sabemos como o Universo evoluiu no passado. A verdade é que não sabemos. Mais uma vez, os nossos modelos só refletem a nossa ignorância.
Não gostei, novamente, da inconsistência da narrativa: saltar entre assuntos diferentes.
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Quantificar o ‘desconhecimento’ do Universo (os tais 96% x 4%) é uma proposição descabida. O ‘desconhecimento’ é subjetivo, ou seja, não conhecemos a matéria escura e energia escura como gostaríamos, mas as evidências da existência destes elementos está lá e isto já foi um enorme avanço. Quantificar isso em termos de energia/massa é uma analogia pobre.
O forte desta série, como um todo, foi nos mostrar os heróis da ciência. A homenagem ao Fritz Zwicky foi tocante. Gostei de ter lembrado da Vera Rubin que alías era candidata ao nobel de física 2014, mas não levou.
Concordo com a tua crítica a Tyson, ele confunde divulgação da Ciência com o método de revisão pelos pares. O que está em aberto é que qualquer pessoa pode ( e deve) adquirir conhecimento para rever as hipóteses apresentadas, mas esse processo não é democrático, por opinião.
Por exemplo Tyson diz que estamos ligados biológicamente e quimicamente ao Universo. E estamos, pela chamada matéria bariónica, ou matéria normal, pelos átomos e pela tabela periódica.
Mas ele não refere que se trata apenas de ~4% do Universo, que tanto na matéria escura como na energia escura, nos restantes ~96% não estabelecemos ainda qualquer ligação.
Nesse sentido, a visão de Tyson é bonita e elegante, mas é centrada no ser humano, como se este fosse o centro do Universo.
E o centro do Universo não existe. O que existe são 4% por aprofundar e 96% por descortinar.
Pelo menos quem seguir Cosmologia tem uma plenitude de tópicos por descobrir, não há falta de espaço nem de tópicos no Universo.
Gostei muito das palavras do final, eu que amo”astronomia”eu me emocionei fiquei tão maravilhada com essa serie. Com o TYSON também q explicou de uma forma tão simples e com paixão nas palavras excelente só tenho elogios pra ele .
Author
Mais do que explicar ciência, este episódio foi brilhante em termos de educação científica.
Para mim, este foi um dos melhores episódios de toda a série.
Com todas as críticas, aliás muito positivas, feitas pelo Prof. Carlos Oliveira de que quase nem me apercebi, posso dizer que adorei esta série. Gostava de realçar a ideia muito bem expressa por Tyson neste episódio quando diz que um Cientista não deve sentir-se diminuido por não saber ainda explicar certos fenómenos. Deve é continuar a procurar e a investigar. Eu acho que esta frase se aplica muito bem à humildade de um cientista verdadeiro perante a grandeza do desconhecido e o desejo constante de o tentar interpretar.
E, repito, vou voltar a ver a série com outros olhos.
Obrigada, Professor.
[…] – Sem Medo do Escuro (Unafraid of the […]
[…] Claro que existiram episódios melhores e episódios piores, mas no geral, a série é excelente! Para mim, os melhores episódios foram: 2º, 3º, 8º, 9º, e 13º. […]