A Conferência de Copenhaga sobre as alterações climáticas foi, no meu entender, um desastre.
A Conferência ficou manchada pelo que se passou cerca de 1 mês antes, no denominado Climategate.
Não vou descrever detalhadamente o que se passou. Se quiserem ler detalhes, não faltam websites na net, como a wikipedia sobre o Climategate.
Oiçam na Antena 1:
na CNN:
no Daily Show, de forma divertida:
The Daily Show With Jon Stewart | Mon – Thurs 11p / 10c | |||
Scientists Hide Global Warming Data | ||||
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Em traços gerais, passou-se isto:
Foi roubada diversa informação de computadores da Universidade de East Anglia, em Inglaterra. Foram roubados cerca de 1000 e-mails, mais de 3000 outros documentos, e muita informação pessoal sobre as pessoas que lá trabalham ou que comunicam com essa universidade (números de telefone pessoais, moradas, etc).
Ou seja, para que não haja dúvidas, repito que tudo isto começou por terem sido ilegalmente retiradas à universidade informações pessoais das pessoas que por lá trabalhavam ou que comunicavam com a Universidade (era como se vos roubassem a carteira, todos os vossos documentos, e cartões multibanco com os códigos para levantarem dinheiro… e com essas informações fossem a seguir roubar as casas dos vossos amigos!).
De entre esses quase 5000 documentos, muitos com mais de 10 anos, a controvérsia prende-se com SOMENTE 5 e-mails. E nem é a totalidade do e-mail. Desses 5 e-mails, os conspiradores retiram somente 1 frase aqui e ali por e-mail, e imaginam logo conspirações. Mais, os e-mails levam basicamente à mesma pessoa, Phil Jones, que era o director da unidade de investigação dessa universidade, e despediu-se. A outra pessoa envolvida era o Michael E. Mann da Pennsylvania State University, que ficou para sempre desacreditado.
A grande fonte da conspiração foi o cientista ter usado a palavra “truque” num e-mail para descrever os dados que eles publicavam. Os “truques” são usados na ciência todos os dias. Vejam lá quando andavam na escola e recorriam frequentemente a “truques matemáticos”. Eram mesmo truques? Claro que não! Pelo menos não na asserção da palavra em termos populares. 2 + 2 = 4 com ou sem truques! O que se fazia e faz é usar uma estratégia mais simples e confiável para resolver o problema. Em matemática usa-se “atalhos de pensamento”, os tais “truques”. Não há nada de secreto, não há qualquer manipulação. 2 + 2 = 4 mesmo com “truques matemáticos”.
Apesar das mentiras dos conspiradores em verem segredos em todo o lado, o que realmente se passou foi: infere-se a temperatura do planeta para anos antigos a partir dos anéis que existem nas árvores. Mas percebeu-se que esse método não é de todo seguro para anos recentes. Para anos recentes (após 1960), a maneira mais eficaz de medirmos a temperatura é medirmos a temperatura do ar. Assim, o “truque” referido nos e-mails era somente este: nos últimos 50 anos usar dados da temperatura do ar, em vez de analisar os anéis das árvores.
Assim, os cientistas NÃO esconderam nada, incluindo nos artigos publicados os dados dos anéis das árvores, mas depois nos gráficos disseram que nos últimos 50 anos iriam utilizar a temperatura do ar, porque é mais fiável do que os anéis das árvores para anos recentes.
Em milhares de e-mails, em 1 deles chamam a essa estratégia “truque”, no sentido de dados mais confiáveis.
E pronto, para os conspiradores, isso é a prova final das mentiras dos cientistas. Para eles, tudo isto é um escândalo! E que fazem os conspiradores? Começam uma campanha, liderada pelas grandes companhias petrolíferas e de energia, para se manter tudo na mesma porque não há qualquer mudança climática!
É exactamente igual a quando as grandes tabaqueiras foram ao senado dos EUA afirmar, com TODAS as letras que o Tabaco NÃO prejudica a saúde. E justificavam todas as mortes e cancros, com mentiras dos cientistas (médicos).
Mas os conspiradores não se ficaram por aqui. Apropriaram-se ilegalmente dos dados pessoais dos cientistas e ameaçaram muitos deles de morte se por acaso afirmassem que as mudanças climáticas eram reais.
Outra coisa que foi dita nos e-mails é que os cientistas envolvidos não queriam que nos relatórios constassem os dados daqueles que não concordam com eles.
Mas isso é normal.
Eu neste blog também não aceito, e já o disse aqui, comentários aparvalhados de que “vamos todos morrer em 2012 porque a Bíblia diz isso”, tal como não aceitamos no astroPT colaboradores que só querem divulgar as mentiras da astrologia, por exemplo.
Tal como os médicos não gostariam de trabalhar lado a lado nos hospitais com xamãs, ou pessoas que dizem que as doenças são fruto de unicórnios voadores invisíveis.
É “natural” (mas não deveria ser) que os investigadores defendam as suas teorias até à exaustão – são as suas crenças.
É natural que esses investigadores, sabendo o que sabem a partir dos dados que recolhem, não queiram publicar lado-a-lado com outros que dizem que o trabalho deles é uma porcaria.
Mas os outros, que discordam, podem sempre publicar noutras revistas científicas, por exemplo.
E depois, porque uns e outros lêem os artigos dos outros, da discussão “nasce a luz”.
A ciência desenvolve-se com argumentos e contra-argumentos.
Mas sublinhe-se, os argumentos dos críticos foram MESMO incluídos nos relatórios, daí que não houve qualquer manipulação ou fraude!
O processo científico não é perfeito, devido a ser feito por pessoas, e daí ter que incluir defeitos pessoais naturais, e politiquices – por vezes depende mais de política do que deveria.
Mas o certo é que é o processo mais perfeito que existe, e que nos tem dado todas as tecnologias e conhecimento actual sobre o Universo.
Quanto aos 2 cientistas envolvidos, já sofreram consequências nefastas profissionalmente e pessoalmente.
Mas não porque mentiram, ou manipularam enganadoramente dados.
As razões para as consequências que sofreram são basicamente:
– deveriam ter-se precavido contra pseudo-controvérsias.
– deveriam ter previsto que iriam ser roubados, e as suas palavras e dados ser utilizadas contra eles.
– deveriam ter utilizado outras palavras (em vez de “truque”), para se prevenirem contra o caso de pessoas “normais”, com má-fé, e um bocado para o burras apoderarem-se ilegalmente desses e-mails e interpretarem as coisas de forma errónea.
De qualquer modo, foi, e muito bem, nomeada uma comissão independente para avaliar se houve comportamentos cientificamente reprováveis destes cientistas (tal como alguns insultos impróprios). E se houve, então a própria comunidade científica encarregar-se-à de proceder aos castigos.
Mas comportamentos reprováveis de 2 cientistas nunca põem em causa os dados objectivos e independentes recolhidos por milhares de outros cientistas!
Uma das consequências boas disto, foi que o instituto meteorológico britânico vai rever os dados de temperaturas dos últimos 150 anos.
Outra consequência boa é que se vai rever o processo de peer-review, de forma a ver que lobbies é que “puxam” para um dos lados.
Há milhares de cientistas de 130 países diferentes que têm dados que provam a existência das Mudanças Climáticas (notem que não estou a dizer que são provocadas ou não pelo Homem, mas sim que as Mudanças Climáticas são reais!)
Há milhares de artigos científicos, comprovados pelos maiores especialistas, sobre a existência de Mudanças Climáticas.
Como diz a New Scientist, citada neste excelente artigo da Teresa Firmino:
“Na próxima Primavera vá para o jardim ou para o campo e repare quando surgem as folhas, desabrocham as flores, chegam as aves migratórias e por aí adiante. Compare as suas observações com os registos históricos e verá que a Primavera está a chegar dias, ou mesmo semanas, mais cedo do que há algumas décadas. (…)
Não se pode fingir que a Primavera chega mais cedo, que as árvores estão a subir as montanhas, os glaciares a regredir quilómetros, o gelo no árctico a encolher, ou as aves a alterar a altura da migração […], o nível do mar a subir mais depressa, ou um dos milhares de exemplos parecidos. (…)
Por si só, nenhuma destas observações prova que o mundo está a aquecer, pois podem não passar de efeitos regionais. Mas, ao juntarem-se os dados do mundo inteiro, tem-se uma prova esmagadora da tendência a longo prazo para o aquecimento.”
Não existe qualquer dúvida sobre as Mudanças Climáticas.
Mas, para os conspiradores, deve-se esquecer tudo isso, e deve-se olhar para somente 5 frases contidas em 5 e-mails (de milhares de e-mails) que falam num truque científico e que é utilizado correntemente até para perceber o funcionamento de tecnologias que utilizamos no dia-a-dia, como os computadores.
Para eles, esse “truque” popular referido por 2 cientistas deita abaixo milhares de dados independentes e milhares de estudos independentes feitos por centenas de cientistas de todo o mundo.
É, obviamente, uma grande mentira dos conspiradores, e que foi difundida pela comunicação social, e pela crendice palerma de quem é obcecado por conspirações.
Parecem-me bastante palermas os argumentos da FOXNews, quando o Hannity por exemplo afirma que por nevar em Houston, então é sinal que não existe aquecimento global (outro “jornalista” inglês disse na TV que por nevar em Londres então é porque o aquecimento global não existe).
Ou seja, ele nem percebe que Aquecimento Global é um termo que já não se usa, porque o que existe mesmo são Alterações Climáticas (ou Mudanças Climáticas), já que o que existe é sim um extremismo das condições de tempo, com dias mais quentes e também dias mais frios, com mais furacões, mais vulcanismo, mais tsunamis, mais fenómenos como o El Niño, desertificação, etc.
Além de que é uma idiotice retirar um caso numa região específica e especular logo para uma regra geral.
O caso sobre Alterações Climáticas não se prova porque neva neste ou naquele dia numa determinada região, mas sim porque durante um ano se vê as diferenças de temperatura por todo o globo comparando com dezenas, dezenas e mais dezenas de anos anteriores.
Esta e outras palermices foram denunciadas de forma divertida no Daily Show:
The Daily Show With Jon Stewart | Mon – Thurs 11p / 10c | |||
World of Warmcraft | ||||
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Penso que este cartoon explica melhor do que eu a mensagem que quero transmitir:
Vejam estes 3 vídeos, também com explicações:
E leiam este excelente artigo, em português, do Miguel Araújo.
Resumindo:
O Climategate é uma falsa controvérsia.
Foi criado por quem está contra a mudança e quer manter o status quo.
Foi feita uma tempestade num copo-de-água, para destabilizar e criar confusão nos media e na população em geral.
Houve uma manipulação, dando interpretações paranóicas ao que foi escrito, com um objectivo específico.
O Climategate teve o único objectivo de fazer fracassar a Conferência de Copenhaga.
E conseguiu-o!
A Conferência de Copenhaga rotundou num enorme fracasso.
Desiludiu mesmo os mais optimistas.
Houve várias propostas de vários países.
No final, ninguém se entendeu, e culparam-se uns aos outros.
Conseguiu-se somente um acordo não vinculativo proposto por uma mão-cheia de países (onde até o Brasil considerou os resultados da cimeira como “um decepcionante fracasso“) e ratificado por 28 países (em 119 países participantes).
O acordo sugere que os países façam um esforço para reduzir as emissões de dióxido de carbono e mais algumas coisitas. Não há prazos, mas somente uma sugestão não-vinculativa.
Numa palavra: palhaçada!
No fim, os interesses económicos prevaleceram e nada de concreto se realizou.
A economia e a fraca política falaram mais alto do que a ecologia.
A imprensa dinamarquesa diz que:
“A Cimeira de Copenhaga constitui uma “derrota catastrófica para os que têm boas intenções para salvar o planeta”
“o fiasco é global e não local”
O Jornal de Notícias diz:
“A cimeira do clima terminou sem qualquer acordo vinculativo.”
“Acordo parcial e insuficiente arrefece final da cimeira do clima.”
O Diário de Notícias escreve:
“mau acordo… fracasso de acordo”
“…delegações com interesses e conhecimentos díspares se degladiem durante dias em mini-comícios de questões comezinhas quando comparadas com o colapso do planeta.
Era preciso em Copenhaga ter-se estabelecido um acordo com metas quantificadas, financiamento definido e redução de emissões fixadas. O trabalho preparatório foi todo deitado para o caixote do lixo por culpa de uma ONU ineficaz, uma presidência dinamarquesa incapaz, uma União Europeia sem gás e uma supremacia geopolítica que opõe as duas potências mundiais – a China e os EUA.”
“Sete razões que impediram um acordo global e sério.”
O Público diz:
“a cimeira de Copenhaga terminou com um acordo muito longe do que se ambicionava.”
“uma cimeira que foi, de forma unânime, considerada um fiasco.”
“Fractura entre ricos e pobres provoca fracasso em Copenhaga.”
A organização ambientalista Quercus considerou que o Acordo de Copenhaga constitui “um fracasso“.
“Os líderes falharam em conseguir um verdadeiro acordo como prometido. Ignoraram a ciência e guiaram-se por interesses nacionais.”
“O acordo não é vinculativo. É vazio.”
O delito de opinião diz:
“um modelo social e económico assente na doutrina ultra-liberal cujo único dogma é o “Eu, Ldª”
“Os interesses de cada um dos países está acima do interesse global, porque a globalização só serve para alguns e, no momento de pedir sacrifícios a todos, os mais poderosos fazem-se distraídos.”
E no Crónicas do Rochedo:
“Que tal organizar, já no próximo ano, uma conferência no Quénia? Os participantes poderiam começar nas cidades costeiras do país, alagadas por inundações e, no terceiro dia, rumar ao interior escaldante, seco e ameaçado de desertificação. Neste contraste proporcionado num percurso de apenas umas centenas de quilómetros, todos aprenderiam, “in loco” o que significa a expressão “Alterações Climáticas”.”
Mas eu ainda critico outros.
Não sei bem como lhes chamar… ambientalistas radicais? parvinhos aluados? activistas sem actividade cerebral? acéfalos que pensam que por se pintarem de verde ajudam o ambiente? pessoas que cantam, dançam e gritam, e que estupidamente pensam que com isso estabilizam o planeta e reduzem-lhe o CO2?
Chamam activismo a manifestações, porrada na rua, e até um concerto de música (já critiquei também os Live Earth). Não percebo em quê que isso beneficia o clima.
Parecem-me técnicas acriançadas que de concreto não trazem nada positivo, mas que servem somente para estes pseudo-defensores do planeta Terra ficarem de bem com a sua própria (in)consciência.
Como diz o DN: “os grandes derrotados são os radicais ambientalistas, que pareceram pouco construtivos e ainda menos pragmáticos.”
Não consigo perceber estas palhaçadas:
The Daily Show With Jon Stewart | Mon – Thurs 11p / 10c | |||
Moment of Zen – Climate Deal Alien | ||||
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Já a Ficção Científica tem sido bastante profética nos seus cenários, e mais científica que os políticos que discutem estas questões.
Como diz o DN: “É nos livros de FC que se encontram os cenários especulativos mais plausíveis, variados, complexos e aliciantes em termos de ecocataclismos.”
Penso que há várias conclusões que podemos tirar sobre as Mudanças Climáticas. Mas há outras que temos tirado que me parecem “saltos no pensamento” e não sei até que ponto serão fiáveis (se serão mais crença que dados objectivos).
Vejamos:
1 – há milhares de cientistas que têm dados que provam a existência das Mudanças Climáticas. Não há dúvidas que elas existem.
2 – não sabemos tudo sobre o clima. Há imensas variáveis que afectam o clima, e várias delas até podem ainda nem ser conhecidas.
3 – os gases de estufa são: vapor de água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, ozono, clorofluorcarbonetos, e vários outros.
4 – estes gases têm origens naturais e humanas.
5 – Reduzir isto a uma simples equação com o CO2 é de uma simplicidade e burrice terríveis. É enganar as pessoas.
6 – Parece-me – tal como aparece no documentário do Al Gore, e ao contrário da conclusão lá tirada – que existe primeiro um aumento (ou diminuição) de temperatura e só depois é que leva a um aumento (ou diminuição) de CO2. Ou seja, a temperatura não parece ser o efeito, mas sim uma causa da variação de CO2 – sobretudo a temperatura dos oceanos parece afectar fortemente a concentração natural de CO2.
7 – não temos todas as respostas, como por exemplo não sabermos exactamente quanto afecta o quê. Há coisas que não conseguimos explicar à luz do conhecimento actual.
8 – Já li algures que se não fosse o aumento de temperatura que se verifica nas últimas dezenas de anos, estaríamos a atravessar uma mini-idade-do-gelo.
Devido ao aumento de temperatura, então essa idade do gelo deixou de existir.
Da minha parte só digo: ainda bem! Detesto o frio!
9 – existem ciclos. Isto não deveria ser surpresa. O planeta tem diversos ciclos, a nossa vida tem ciclos, a economia global vive de ciclos, etc. É assim tão surpreendente que o planeta poderá estar num ciclo de aumento natural de temperaturas globais?
Com isto não quero dizer que o Homem não afecta o clima! Não é nada disso.
O Homem afecta o clima. Pode é não afectar tanto como pensam. Os ciclos naturais podem-se sobrepôr ao efeito-Homem.
10 – alguns desses ciclos poderão estar directamente ligados a causas astronómicas, tal como o Sol (que não compreendemos perfeitamente, nem sequer aos seus ciclos), à órbita do nosso sistema solar, ao plano da Galáxia, etc.
11 – a mudança é a única constante/certeza na vida e no Universo. Não entendo como as pessoas podem ter medo da mudança. E sobretudo não entendo como podem querer que “tudo se mantenha igual” (por exemplo, em termos de temperaturas), quando isso é, no mínimo, inocente, irrealista, e irresponsável.
12 – quando se nega uma certeza (como fazem, por exemplo, os astrólogos ou os criacionistas), envereda-se por caminhos pseudo, que são contrários ao espírito racional e científico.
13 – a mudança deveria ser abraçada com optimismo, e não num clima de medo mais caracterizante da história das religiões.
14 – Darwin diria que quem se adapta melhor às mudanças do momento é que sobrevive. Não será negar Darwin esperar/querer que tudo se mantenha igual?
15 – notem que eu sublinho mais uma vez que não nego as mudanças climáticas. Simplesmente penso que a atitude mais responsável não é: dizer que tudo é culpa do CO2, dizer que tudo é culpa do Homem, provocar medo, viver do alarmismo, e confundir a certeza da mudança com o juízo de valor de que todas as mudanças são más.
16 – o Homem faz parte do eco-sistema. Logo, é óbvio que o afecta. É normal! Haveria sim um problema se fossemos diferentes dos outros animais e não afectássemos o que nos rodeia!
17 – imaginar que conseguimos quantificar exactamente quanto e como o afectamos na sua totalidade, comparando com todas as outras causas biológicas e também as naturais, só porque temos dados de um período temporal bastante curto na Terra, sem ainda termos sequer noção de outras variáveis que podem existir (incluindo astronómicas), é um salto na imaginação que me parece demasiado arriscado e errado (de um ponto de vista científico).
18 – torno a repetir: Sim, existem mudanças climáticas. Sim, o Homem afecta (e deveria afectar!) o ambiente terrestre, porque faz parte dele. O quanto afecta é que discuto. Discuto a importância do Homem.
19 – as cyanobacterias são as responsáveis pela maior mudança no planeta. Não só mudaram a composição da atmosfera terrestre (tinha 0% de oxigénio, e passou a ter 21%), como “mudaram a côr” dos oceanos de “verde para azul”, entre outros feitos mais ou menos interessantes.
Não sei se os “puristas” que vêem a mudança com medo e alarmismo estão contra essas bactérias e preferiam ter o planeta como ele era… sem oxigénio na atmosfera.
Essas mudanças climáticas produzidas por essas “malvadas” levou tão só e somente à explosão de biodiversidade existente na Terra – ou seja, a vida que vemos hoje na Terra só existe devido às mudanças que elas produziram.
Concluindo: nós estamos aqui devido a elas. Sem as mudanças que elas produziram, nós não existiríamos. E já agora, elas também continuam a existir. As mudanças que elas trouxeram foram “normais”, e positivas pelo nosso ponto de vista.
20 – o que me parece dos últimos pontos é que continuamos a colocar os Humanos num pedestal. Somos demasiado antropocêntricos nas nossas ideias. O Homem é sempre o ser mais importante, está sempre no centro, até nos problemas.
Parece que não aprendemos nada nos últimos 500 anos, continuamos a pensar que somos o que de mais importante existe no Universo, e que o Princípio da Mediocridade (de Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, Darwin, Einstein, e tantos outros) é algo que psicologicamente continuamos a não querer aceitar.
Deixemo-nos de fantasias: o Homem não é o que de mais importante existe no Universo, e nem sequer é o que de mais importante existe na Terra.
21 – eu não digo que o Homem não afecta.
Eu só digo que as causas e os causadores (principais e secundários) não estão 100% identificados, por isso deveríamos nos deixar de alarmismos, e, ao invés, sermos cidadãos responsáveis e investigadores objectivos.
22 – é óbvio que se as mudanças nos afectarem negativamente, nos devemos precaver. Mas imaginar que conseguimos controlar ciclos que já existem há milhares de milhões de anos, ou até que somos responsáveis por eles, é de um narcisismo avassalador.
23 – é óbvio que a sobrevivência do Homem está acima de tudo, e devemos fazer tudo para a manter.
Mas também é óbvio que tudo funciona por ciclos, e que a adaptação está na base dessa sobrevivência.
Se os Humanos desaparecerem da Terra, quiçá até aparecerá outra espécie mais inteligente que a nossa que só está à espera que a gente “saia de cena”. Afinal, não é essa uma das grandes características da Evolução na Terra?
24 – No filme Matrix, o Agente Smith diz que os Humanos são um vírus que infesta a Terra.
Neste divertido vídeo do Daily Show, é feita uma reportagem que imagina que a Terra está-se a tentar ver livre de nós, já que nós a afectamos negativamente. Fez-me lembrar a Hipótese de Gaia, e em que nós somos os “maus da fita” e devemos ser expurgados:
The Daily Show With Jon Stewart | Mon – Thurs 11p / 10c | |||
Our Dead Planet | ||||
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25 – Mudanças Climáticas? Sim, existem.
Sobrevivência do Homem? Sim, todos querem.
Religiosamente enveredar por ideias que põem o Homem no centro? Não, obrigado.
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…
Já agora, os cientistas foram ilibados no caso.
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1445655
http://news.bbc.co.uk/2/hi/science_and_environment/10538198.stm
Também acho que a história não se resume ao impacto humano. Há ciclos naturais, documentados cientificamente, que em poucas décadas aumentam significativamente a temperatura da Terra, para além de fenómenos como o vulcanismo, etc. que adicionam mais gases de estufa na atmosfera.
Pessoalmente acho que o maior problema não é o das emissões de CO2 mas antes o da degradação ambiental provocada pelo homem que tem vindo a destruir alguns dos principais "sinks" de carbono do planeta, nomeadamente as algas unicelulares nos oceanos e as florestas tropicais e boreais.
Fantástico artigo! Parabéns!!!
É precisamente deste tipo de visão pragmática e discurso simples e directo sem papas na língua que este mundo precisa.
Tenho tanta pena que tanta gente se deixe levar por sensacionalismo e facilitismos…
Escreve mais. Publica mais. Divulga mais. Precisamos deste artigos!!
Olá.
Parabéns pelo artigo.
Já tive algumas conversas calorosas contigo sobre este assunto e afinal parece que partilhamos muitos pontos de vista.
O artigo apesar de longo (!) está muito bom. Conseguiste reunir todas as ideias p/ se compreender muita da informação e da contra-informação que todos os dias nos entra pela net, tv, jornais, etc.
Quanto aos activistas…bem eles são espalhafatosos! São!
Mas num mundo onde as pessoas são cada vez mais formatadas, se calhar só dessa maneira espalhafatosa é que se conseguem abanar os cérebros destes cidadãos que não têm capacidade crítica e de análise e que "bebem" de uma forma sagrada tudo que lhes é servido!
Ai de quem questionar o sagrado Marcelo e as suas teorias conspiradoras de domingo; tudo que sai no Expresso e no Pùblico é verdade, os bancos são entidades de nossa inteira confiança, e muito mais mais exemplos…!!!
Agora existe uma coisa que para mim é evidente: o Homem no último século poluiu (e continua a poluir) de uma forma dramática e num nível desnecessário o ambiente e isso é uma variável com enorme peso na análise destas mudanças climáticas. Substimar essa acção, nestes últimos 100 anos é um engano grave.
O Homem não é o centro do universo, nem o único "bicho" no planeta, mas subiu muito na escala da capacidade de alteração do planeta e tornou-se, a par das bactérias e dos vírús, num dos principais elementos de mudança.
Cá aguardo por mais artigos.
Abraços
ufa.. estou quase a acabar. 🙂 Mas, sem dúvidas, um dos melhores artigos que tenho lido este ano. 🙂 É o primeiro!
Bem, na verdade, está ao teu melhor nível esta crítica. Vai ao encontro dos meus pontos de vista das mudanças climáticas actuais. É perfeitamente notória essa mudança! Também julgo que isto poderá ser apenas uma fase normal da longa história climática que a Terra já passou. Aliás estas temperaturas registadas nos últimos anos não são assim tão anómalas como se pensa. Se o Homem tem influência no clima? Deve ter, mas não a uma escala tão GRANDE como se pensa. É uma maneira de pensar muito antropocêntrica, muito primitiva. A Terra já passou por períodos bastante conturbados na sua história climática, vja-se o exemplo da chamada "Era Glacial" . Há mais ou menos vinte mil anos ainda estávamos nesse período! Felizmente que a Terra aqueceu! Isso permitiu, em parte, não a única razão, que os humanos pudessem seguir uma evolução tecnológica bastante mais rápida.
A dependência do petróleo já devia ter acabado… já temos todas as tecnologias necessárias para passar para a próxima fase! A das energias limpas. Já as sabemos usar! Por que não se avança? Política e economia ditam…. e não devia ser assim… bem, ao menos, há cada vez mais uma consciência de que há necessidade de mudarmos as formas de produzir energia. 😉
ps engraçado que o código de segurança que me pedia era:
EPOD 🙂
quem for astrónomo amador ou interessado nas questões da Terra perceberá a coincidência. 🙂
[…] – Alterações Climáticas: Climategate. […]